segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

O Caçador de Tartaruga

Um dia desses, num ano desses, não sei dizer quando foi, só sei dizer que chega mais um povo para residir em Pedro Avelino proveniente da cidade de Serra do Mel. E a família de Qéqé, que já tinha pai e mãe e irmãos residindo na rua Odilon Cabral.
A família de Qéqé era composta de Dona Graça, esposa, três filhas e dois filhos, o mais velho chama-se Herondi, a mãe era fã da dupla Jane e Herondi que fez muito sucesso nos anos setenta com a musica não se vá.
Herondi pelo seu porte físico, recebeu imediatamente pelos amigos que fez na escola o apelido de tartaruga, pequeno, pescoço enterrado nos ombros, atarracado e caminhava curvado para frente, de longe parecia um cágado, mais o apelido que pegou mesmo foi o de tartaruga. Ele não tinha problemas com o apelido, com ele não tinha stresse, até os pais e toda família adotaram o apelido numa boa. Só que tartaruga tem um problema grave, os seus ossos são fracos, qualquer pancada que levava quebrava um osso. Certa vez jogando bola, caíram por cima dele, danificaram três costelas do desgraçado. Outra vez tartaruga passeava de bicicleta perto da linha do trem, quando de repente um jumento vinha desembestado atrás de uma jumenta para transar, foi só no que deu, atropelaram tartaruga com bicicleta e tudo, pisaram no quadril do infeliz, quebraram o osso do patim, lá vai uma porrada de tempo sem o anfíbio poder andar. Com um bom tempo começou andar, puxando por uma perna, ainda hoje anda mancando, mas com tudo isso leva a vida numa boa, rindo de todos com a cara redonda parecida com um prato de sopeiro.
Tartaruga era menino safado, nunca ligou para nada, tudo para ele estava bom. Abandonou os estudos para trabalhar com o tio dele chamado Marcos na matança de animais, virou marchante. Era a graça do matadouro público puxando por uma perna. Misturado-se com a turma de marchante aprendeu a tomar cachaça e a jogar baralho e a raparigar, toda qualidade de safadeza tartaruga aprendeu. Mas um belo dia conheceu Rosa e casou-se, tiveram filhos e tartaruga controlou a vida, parou com as safadezas que tinha aprendido.
Em todos matadouros das cidades do interior, existem mulheres que limpam fato de gado e buchadas de miunças, no matadouro de Pedro Avelino não é diferente, existiam cinco mulheres. No meio dessas mulheres tinha uma que tartaruga era tarado por ela, mas tinha um problema sério, ela era casada, só que tartaruga não estava nem ai, dava em cima dela a todo o momento, dava-lhe de presentes, pedaços de fígados, carne de primeira, costelas gordas. Ela sempre dizendo que era casada e não podia trair o marido, só que recebia os presentes. Tartaruga passou meses atentando Sandra, esse é o nome da dita cuja. Tartaruga sempre dizendo:
--- Vou esperar a vida de um burro, mas te como meu cartuchinho.
Sandra saía rindo com um short muito curto e apertado.
--- Ainda passo por cima de você danada, nem que seja a última coisa da minha vida, mais comer eu te como.
E as tentativas do anfíbio eram em vão, mas ele não desistia, perturbava demais aquela presa difícil de ser conquistada. Às vezes Sandra estava de cócoras lavando tripas, o anfíbio chegava por trás, e dava-lhe um beijo no pescoço. A morena ficava toda arrepiada, e tartaruga saía andando mancando por uma perna, com uma bermuda suja de sangue e uma peixeira de dez polegadas atravessa na cintura, desdenhava:
--- O cartuchinho ficou toda arrupiada.
Os pelos dos braços da morena estava todos de pé, ela pedia:
--- Não faça mais isso, está ouvindo tartaruga.
Passado os dias, tartaruga resolveu que era agora ou nunca, daria uma cantada em Sandra, não estava mais agüentando aquela tesão que sentia pela morena, quando avistava a morena lavando fato com uma saia curta mostrando as calcinhas vermelhas, ficava logo de pau duro, todo se torcendo, corria para dentro do banheiro, e olhando pelo buraco da fechadura para as pernas da morena, colocava cinco para brigar com um. Sandra também provocava o anfíbio, com suas roupas curtas que deixava as pernas roliças e morenas á amostra.
--- Sandra vamos nos encontrar?
--- É ruim eu querer um bicho feio como você!
--- Eu sou doido para vadiar com você, estou ficando maluco.
--- Te enxerga tartaruga, tu não dá conta desse material, isso aqui é muita carne para você.
Cada dia tartaruga ficava mais excitado com as provocações de Sandra, não conseguia fazer nada pensando nas pernas e na bunda da morena, e ela não lhe dava nenhuma esperança, só lhe dava negativas. Atacaria novamente, aquela seria sua última tentativa, se desse tudo bem comeria a morena, senão tentaria esquecer. Preparou carne de primeira para dar de presente para ela, dois quilos de carne de primeira, picanha gorda.
--- Toma Sandra para você comer um pirão.
--- Não precisava disso não tartaruga, você já é muito bom pra mim.
--- Então me dê uma coisinha de periquita para eu matar minha tara que eu tenho por você.
--- Tá certo, vou fazer os seus gostos, mas só vai ser uma vez.
--- Vai mesmo?
--- Vou, só que na minha casa não dar, o meu marido tem dois cachorros enormes e brabos, não tem quem entre lá em casa. Agora eu sei que o melhor lugar que tem é na minha casa quando João Maia vai caçar, o problema são os cachorros que mordem até o vento.
O negócio estava engatinhando, Sandra tinha concordado de dar uma reiada com ele, o que estava estragando o acordo eram os infelizes dos cachorros do marido da morena que eram umas feras. Mas tartaruga não desistiria, procuraria uma solução para o seu problema de fornicação latente. Os dias passavam e o anfíbio não encontrava um meio de entrar na casa do seu cartuchinho, e a morena desdenhava:
--- Você é um frouxo tartaruga, morre de medo de cachorros.
Á noite Tartaruga perdia o sono pensando na solução para domar os cachorros do seu adversário, a mulher perguntava:
--- O que é que tu tens Herondi, que todas as noites está perdendo o sono?
--- Nada, é preocupação minha mesma.
--- Você não está aprontando das suas Herondi, está?
--- Nada disso, você só pensa em besteira Rosa.
Depois da discursão, Herondi ou tartaruga como queiram, teve uma idéia brilhante, pegou no sono bem ligeirinho. Acordou cedo foi para o matadouro fazer o seu serviço. A morena também tinha chegado, tartaruga lhe disse:
--- Estou armando um esquema para entrar na sua casa e mete-lhe o ferro.
--- Duvido que você entre lá em casa, os cachorros te matam. E tem outra coisa tartaruga, você não dá conta desse material aqui, você é muito fraquinho.
---Vamos ver. Você não me escapa.
A morena estava mais arrochada, com um short bem curtinho entrando nas talhadas da bunda. O anfíbio ficava babando com tanta formosura da morena. Mas estava com sua estratégia formada para se agasalhar dentro das pernas dela.
Tartaruga matou as reses, juntamente com o tio, começou a despencar as bandas de boi, também fazia a limpeza. Jogava pedaços de carne morta no canto da parede, juntou no mínimo uns cinco quilos de pedaços de carne, colocou tudo numa sacola plástica, e avisou ao tio que ia dar uma cagada depois do pontilhão.
--- Porque você não caga aqui nos banheiros do matadouro?
--- Hoje vou dar uma cagada ao ar livre, olhando a natureza.
A casa da morena ficava o conjunto da COHAB, do matadouro se avistava o conjunto, o marido da morena naquela hora não estava em casa. Quando tartaruga chegou no muro da casa, os vira latas magros que pelo cu se via os dentes, só comiam caldo de feijão branco com farinha. Os cadelos voaram pra cima do conquistador numa latumia grande, o conquistador de mulher casada esperto como ele só, começou a distribuir pedaços de carne para os animais que estavam mortos de fome, nunca tinham comido carne fresca. Os dois receberam aquele presente do céu de uma alma mal intencionada, os vira latas comeram tanto que ficaram redondos, rapidamente tartaruga retornou para o matadouro.
Tartaruga já ia com mais de trinta dias dando carne aos seus amigos comuns. O anfíbio já entrava no muro e dava carne na boca dos animais, ficaram amigos íntimos, brincavam, se embolavam no chão, eram unha e carne, o palco de tartaruga estava armado.
Na casa de Sandra, o marido se admirava dos cachorros:
--- Sandra tu já notou como os cachorros estão gordos? Chega os cabelos estão finos.
--- Já, num sei como esses bichos só comendo restos de comidas, estão gordos desse jeito. Não estão comendo nem o que boto para eles, nem ligam, só ficam dormindo debaixo do pé de limão.
E João Maria se admirava todos os dias como seus cachorros estavam lutridos.
Naquela sexta-feira a morena chegou cedo ao matadouro, estava fazendo o fogo para colocar água para ferver e escaldar os fatos de bois. Quando tartaruga chegou por trás encouxou a morena, e deu-lhe um cheiro no pé do ouvido.
--- Ai tartaruga, não faz assim, que eu fico toda arrupiada.
--- Quando é que eu vou me enfiar em você morena?
--- Hoje era o dia ideal, João Maria foi caçar rolinhas, saiu de casa bem cedinho, só Chega lá para as doze horas.
--- Hoje eu vou lá!
--- Você é doido? E os cachorros?
--- Deixa comigo, eu dou meu jeito!
--- Não se arrisque, aqueles cachorros são umas feras, vão lhe rasgar todinho, do jeito que eles estão gordos.
--- Por você minha morena, eu atravesso o mar a nado, brigo até com um leão.
Sandra terminou o serviço, saiu para casa num gingado mais danado do mundo, fazia de propósito, só para deixar tartaruga excitado.
O anfíbio salgava a carne para a feira do sábado, fazia tudo muito rápido, tinha que salgar a carne, depois enfardar nas esteiras, estava fazendo tudo desastradamente, quando seu tio Marcos gritou:
--- Tartaruga arroche esses fardos direito, estão todos ficando frouxos, parece que está com a cabeça no outro mundo.
A tartaruga garanhão só pensava na madeirada que daria na morena, estava fazendo tudo errado, Marcos nunca tinha reclamado nada dele. Guardou os fardos de carne, também a peixeira de dez polegadas, saiu de porta afora com destino ao conjunto da COHAB á procura da casa da morena. Em chegando lá, abriu o portão e entrou, os vira latas correram ao encontro dele, fazendo a maior festa ao seu redor, lambiam suas mãos, e tartaruga tirava pedaços de carne do bolso da bermuda, e colocava na boca dos amigos, Sandra saiu na porta e disse:
--- Por isso que esses cadelos estão gordos, você os viciou com carne.
--- Eu só podia entrar na sua casa morena, se fosse dessa maneira.
Tartaruga foi dizendo isso e se agarrando no pescoço da morena. O anfíbio estava com a madeira tesa que parecia um jumento. Foi quando Sandra pediu:
--- Calma, vá pelo menos tomar um banho, você está fedendo a sangue.
--- Só vou tomar banho se for com você, topa?
--- Topo!
--- Os dois entraram para o quarto, tiraram as roupas, jogaram em cima da cama, e foram para o banheiro. Dentro do banheiro começou o furdunço, tartaruga queria pegar a morena, que se esquiava, e dizia:
--- Na cama é melhor, você é muito pequeno para alcançar o meu periquito, e ainda tem a perna curta.
Um passava sabonete no outro, os dois ficaram bem branquinhos, que pareciam que estavam cobertos de neve em pleno sertão nordestino.
--- Eu esperei muito por esse dia morena.
--- Agora você vai ter tudo que desejou.
Os cachorros começaram num bramido danado lá fora, tartaruga cismou:
--- O que danado esses cachorros estão latino?
--- São os meninos mexendo com eles, não se incomode, passe sabonete nas minhas coxas, na minha bunda, vamos tartaruga me arroche, num era isso que você queria?
--- Num sei não, estou com maus pressentimentos.
Quando os dois estavam num amassado danado, entrou João Maria com a espingarda na mão. Quando o traído empurrou a porta do banheiro estava o bolo:
--- Que arrumação é essa?
--- Não é o que você está pensando João Maria!
--- Pego você comendo a minha mulher dentro da minha casa, com o pau duro, que parece um jumento, e você ainda diz que não é o que estou pensando!
--- Não está mais duro não, amoleceu. – disse tartaruga.
--- E você Sandra, eu nunca pensei que você fizesse isso comigo. Agora vou matar os dois. Tartaruga eu mato de facão, e você Sandra, dou só um tiro.
Tartaruga era mais frouxo do que areia de rio ajoelhou-se no chão, e começou a pedir:
--- Por favor, João Maria, não me mate, eu sei que errei, mas quem não erra, diga?
--- Você e cabra de pêia tartaruga.
--- Sou, desde menino, todo mundo diz isso.
--- Diga bem alto, tartaruga é um cabra de pêia.
--- Eu tartaruga sou um cabra de pêia!
--- Você me fez de corno tartaruga.
--- Fiz não, você não é corno João Maria, eu não cheguei nem a penetrar em sua mulher, o cara só é corno quando acontece a penetração.
--- Sabe o que vou fazer com você bicho feio?
--- Não!
--- Você vai sair daqui nu, e eu ainda vou dizer a sua mulher.
--- João Maria, me dê um tiro, mais não diga a minha mulher o que aconteceu.
--- Saía daí de dentro sujeito sem futuro, pra fora cachorro. Sandra volto já para conversar com você, é só eu terminar de matar tartaruga que volto para conversar com você baixinho.
Tartaruga saiu com as mãos cobrindo a genitália, o rosto vermelho, a cara de pânico, os olhos esbugalhados e cheios de lagrimas, e com João Maria com a espingarda apontada para a cabeça dele, dizia:
--- Vou esbagaçar seu casco tartaruga, a pinha de chumbo que eu vou dar em você, vai ficar só o rombo, não vai ter doutor no mundo que tape o buraco.
--- Num faça isso home de Deus, me dê minha bermuda, e deixe eu ir embora, e não se fala mais nisso.
--- Pensando nisso, eu não vou atirar no seu casco, vou dar um tiro é na sua rola, vou lhe capar só com um tiro.
--- Na rola não João Maria, dê na perna que eu manco, pronto você está vingado, ou então me dê uma surra de facão, pronto está tudo acertado. E se você não quiser fazer isso sexta-feira eu lhe dou uma perna de boi, dois mocotós e dois quilos de chã de dentro, estamos conversado.
--- Você é um covarde tartaruga, dizia que era meu amigo e me traiu.
--- É verdade, mamãe sempre disse que eu sou covarde. Tudo que você disser eu concordo.
--- Eu pensei que ia para o mato matar rolinhas, chego em casa e vou matar uma tartaruga no seco.
--- Ó meu Deus, acabe com essa estória de matar João Maria, deixe eu ir embora e pronto.
--- É muito bonito, você bota chifre em mim e quer deixar por isso mesmo, não senhor, vou atirar na sula rola.
--- Home não faça isso, é única coisa que tem em cima de mim que presta, você ainda que danificar.
A casa de João Maria ficava em frente ao Hospital Doutor José Varela, as janelas do referido hospital estavam cheias de funcionários olhando aquele entrevero passional que se passava no pátio. As portas das casas do conjunto estavam repletas de gente apreciando tartaruga nu e João Maria apontando a espingarda para rola do seu adversário. E cada vez juntava gente, os moto-taxistas só era chegando com gente do centro da cidade para ver o espetáculo dantesco que tinha se formado. Algumas pessoas se juntaram, encabeçada por Oliveira um corno antigo acostumado com chifre, e foram até João Maria pedir para deixar o pé de lã ir embora, que também lhe devolvesse a bermuda, João Maria concordou, jogou a bermuda, o pé de lã pegou, quando ia começar a vestir a bermuda, João Maria deu um tiro de espingarda nos pés do garanhão, que mancando pela perna danou-se nu em procura da ponte, só se via a bunda branca de tartaruga balançando, e a mundiça cobrindo o pé de lã na vaia. No caminho tartaruga do medo que estava, vestiu a bermuda com a braguilha para trás, pisou num galho de xiquexique seco, espetou a sola do pé que mancava, morto de suado, encostou-se no muro do cemitério para descansar e retirar os espinhos da sola do pé. Só pensava numa coisa, na brigada que mulher ia dar com ele.
João Maria foi direto onde estava á mulher do anfíbio e disse:
--- Peguei agora mesmo seu marido comendo minha mulher.
--- Eu não acredito!
--- Pode acreditar, eu agora sou corno. Mas eu não me incomodo não, pense num corno manso, sou eu. – justificou João Maria.
Tartaruga veio por dentro do mato até chegar em casa, escondeu-se por trás de uns pés de pinhão, e ficou vendo o que aconteceria na sua casa. Quando ele deu fé, viu foi suas roupas voarem pela janela, as calças e as camisas ficaram penduradas nas pontas das varas da cerca. Ele pensava: - amansar essa mulher vai ser a coisa mais difícil do mundo depois dessa tragédia.
No outro dia era sábado, dia da feira, quem entrava no mercado dizia uma piada com tartaruga, uns o chamava de bodão, outros de garanhão, pai dégua, pé de lã, cada um que falassem um lero com tartaruga, quem mais o chateava era Marcos seu tio, mas tartaruga tirava tudo de letra, não estava nem ligando para o que diziam, ficava rindo com a cara de cachorro que roubou a panela de cima do fogão.
João Maria deixou Sandra que foi embora para Natal, mais tomou a mulher do irmão Damião. Tartaruga acertou-se com a esposa e está muito bem. João Maria quando passa vendendo preá diz:
--- Quer comprar preá tartaruga?
--- Quero, separe quatro pareias.E tartaruga levava as parelhas de preá para comer com a esposa.

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