segunda-feira, 26 de abril de 2010

AOS CONTERRÂNEOS

A minha intenção de fazer este blog, foi para alcançar toda nação Pedroavelinense sem nenhuma distinção. O blog não tem nenhuma conotação política, o que só faz desagregar aos menos desavisados. O que devemos é nos unir para salvar a cultura de nossa terra que está aí jogado no lixo do esquecimento. O que eu quero, é que todos nascidos nessa terra me ajudem culturalmente para que nossas raízes não sejam esquecidas. Vamos me ajudar nessa tarefa de revitalizar a cultura de nossa terra. Você pode ser: rico ou pobre, branco e preto, amarelo e preto ou verde. Todos que nasceram em Pedro Avelino, para mim tem muita importância. Você que tenha algo para relatar da sua infância e que tenha acontecido em Pedro Avelino, terei o maior prazer de publicar. Fotos, poemas, causos e algo mais que seja do interesse da nossa cultura, estamos aqui de braços aberto para publicar, sem nenhuma restrição. Vou publicar no blog algumas coisas que tenho guardado.

A SE TEMPO DESSE UMA VOLTA

Já se passaram tantos anos que estas duas pessoas emblemáticas, Papai do Céu levou para o andar de cima. Mas ainda hoje em rodas de conversas, seus nomes são lembrados com bastantes saudades. Tomé Florêncio Câmara, Engenheiro Civil, muito bem resolvido na sua profissão, competente e inteligente, desprovido de orgulho, com bastantes amigos no seu currículo. Conhecia quase todos habitantes de Pedro Avelino. Nas suas férias escolares, ainda garotão, antes de se tornar Engenheiro, chegava à terrinha para brincar, se divertir, conversar com as pessoas mais idosas, os seus preferidos, Padre Antas, João Flor, Anjo Miguel, Chico macaco, Chico Sapo e outros. A pessoa preferida para suas conversas era Luiz Ferreira, mais conhecido como Luiz Bambão, muito conhecido na cidade de Pedro Avelino. Ferreiro competente se esmerava no feitio de escapa, badalo de chocalho, e no apontamento de picaretas, chibancas e lavancas. Confeccionava facas e facões de cabo de chifre. Luiz Bambão era show de bola no seu ofício. Também era um contador de estórias fantasiosas, exagerado nas suas narrações compridas e cansativas, só quem tinha muita paciência, era que se atrevia a escutar Luiz Bambão, ou Luiz Ferreiro, como todos conheciam aqui. Luiz Bambão para os mais novos que não o conheceram, era um homem alto de 1.90 de altura, forte como um touro, Glutão, sempre era encontrado com um cachimbo pendurado na boca, um cachimbo de boca grande que cabia um punhado de fumo, o canudo era comprido, com a base de uns 30 cm, Luiz Bambão era exagerado em tudo. Tempos antigos quando ele ganhava bastante dinheiro, lanchava depois do almoço um quilo de queijo de manteiga com uma lata de doce, e bebia dois litros de água do açude do governo. Uma banda de um carneiro de quinze quilos só dava para um almoço na casa de Luiz Bambão. Toda sua comida tinha que cozida para no final tomar no mínimo dois pratos de caldo, não gostava de nada torrado, lhe dava dor de estrombo, dizia o mestre Luiz Bambão.

Como eu ia dizendo, nas férias Tomé saía á procura de alguém para bater um bom papo, nesse dia foi bater na oficina de Luiz Bambão. Tomé foi chegando, foi falando:

--- Diga aí Luiz Ferreiro, cabra que nunca morreu e não tem medo de quem morre. Isso já matou mais de duzentos. Quando era cangaceiro de lampião, num é verdade Luiz?

---- De lampião não, mais de Antonio Silvino é fato, de tiro matei uns cem e de punhal perdi a conta, embocada era comigo mesmo.

Luiz Bambão estava com o seu imenso cachimbo na boca, puxando o fole, pra cima, e pra baixo, e o carvão do forno virando brasas, Luiz mexendo nas brasas com um espeto, enfiou uma picareta no fogo para apontá-la, virou-se e disse:

--- Diga Tomé, de férias?

--- É Luiz vou passar uns dias por aqui, depois tenho que ir para Natal, resolver umas coisas. Muito serviço mestre Luiz?

--- Pouco, o que ganho nessa oficina, só dá para comer.

--- Luiz faz tempo que trabalha de ferreiro?

--- É, eu aprendi esse oficio com meu pai, quando eu tinha 12 anos já era um ferreiro completo, sabia fazer tudo, mas não gostava, muita quentura, muito barulho nos meus ouvidos, mais era pequeno não podia ganhar o mundo, isso só aconteceu quando eu completei maior idade, foi que eu fui embora.

--- Foi pra onde Luiz?

--- Fui pro Rio de Janeiro, lá trabalhei muito, trabalhei em tudo que você possa imaginar.

--- Por exemplo, Luiz?

--- Trabalhei no cais do porto na Praça Mauá no Rio de Janeiro, descarregando navios, trabalhei na feira, o último foi numa companhia de Aviação da Argentina, se chamava Aerolineas Argentina. O meu serviço era fazer a limpeza nos aviões quando chegavam de viagem. Um dia quando toda tripulação saiu do avião eu fiquei só fazendo a limpeza. Mas Tomé eu não te conto, quando cheguei na cabine de comando, o piloto do avião tinha esquecido a chave do avião no quadro de ignição, eu como sou muito curioso, liguei o avião, o bicho pegou, começou a funcionar devagarzinho, depois tomou força, eu sentei no banco do piloto, arrochei o pé na embreagem, engatei a primeira, o bichão saiu de pista afora, e eu equilibrando, e o bichão saiu do chão e voou, impinou pro céu, engatei a segunda, depois a terceira, por fim a quarta, o bicho aprumou no ar, e eu saí passeando por cima do Rio de Janeiro, passei pela praia de Copacabana, passei bem pertinho do Cristo Redentor, fiz a curva e fui até o Maracanã, e fiquei lá por cima só apreciando aquela vista linda que só o Rio e Janeiro tem, já estava abusado de ficar só pelo Rio de Janeiro, fui dá um passeio em São Paulo, fui até a cidade de Santos vi os grandes navios sendo descarregado no porto, as praias bonitas, largas, com areia bem alvinha que parecia açúcar. Resolvi voltar para o Rio, foi ligeirinho, passei uma ré, fiz a curva, e voltei, chegando no Rio passei pela enseada de Botafogo, Baía da Guanabara. Aí eu disse comigo mesmo, agora eu vou descer, já devem está me procurando. Chamei o avião na terceira, depois passei a segunda e por último a primeira, o bichão tocou na pista cantando pneus, quando o avião aliviou a carreira, eu coloquei no mesmo lugar de antes, puxei o freio de mão, e sai, abri a porta pulei lá de cima, fui andando, ninguém do aeroporto Santos Dumont notou que eu tinha ido dá um passeio.

--- Luiz largue de mentira, como é que você conta uma estória dessa, e quer que eu acredite. Luiz você tem que parar de mentir, isso não é estória que se conte, com essa eu vou embora.

--- Tá vendo Tomé, por isso é que eu arengo com você, por isso é que agente não se dá, tudo que eu conto a você, lá chega você dizendo que estou mentindo, vá já embora daqui, e não apareça mais na minha oficina tão cedo.

Tomé saía rindo das lorotas de Luiz Bambão. O velho ficava com tanta raiva por ser desmentido, que fechava a porta da oficina, ficava trancado, no outro dia Tomé chegava novamente, devagar, perguntando besteiras, Luiz Bambão tirava o cachimbo da boca, dava uma cuspida no canto da parede, respondia sem olhar para a cara de Tomé. Tomé sentava no tamborete que tinha encostado na porta, e perguntava:

---Luiz você é daqui mesmo?

--- Não quero conversa com você. Você só toma chegada na minha oficina porque não tem sentimentos.

--- Que é isso mestre Luiz, nós somos amigos.

--- Um amigo desse eu não quero.

--- Agora me diga Luiz, você é daqui de Pedro Avelino.

--- Não, eu sou do batuque distrito de Angicos, fui nascido e criado lá, fui criado junto com os meninos de seu Nezinho Alves.

--- Quem é esse povo?

--- Tu quês bem dizer que não conhece? É o pai de Aluízio Alves, Agnelo Alves, Garibaldi Alves, Expedito Alves. Zé Gobart Alves e as meninas irmãs deles, eu conheço até freira irmã deles. Conheço todas, aquele povo é como se fossem da minha família, Aluízio quando era Governador, nunca tomou uma decisão sem me consultar, e tem mais o que eu dizia, era o que ele fazia.

--- Como assim Luiz?

--- Quando ele era Governador me telefonou se dava certo ele fazer uma viagem para os Estados Unidos. Eu disse vá.

--- Mas Luiz, Pedro Avelino não tinha telefone?

--- E o telefone da estação servia pra quê? Diga-me, o estacionário vinha me chamar quase todos os dias, para eu falar com ele. Pergunte a Manoel Valério que era o estacionário na época. Ele não fazia nada sem primeiro me consultar. Repare que uma das cidades do Rio Grande do Norte, aonde primeiro chegou Luz de Paulo Afonso, foi Pedro Avelino, a pedido meu.

--- Luiz eu posso acreditar nisso?

--- Você acha que eu sou mentiroso? Está enganado, nós fomos criados juntos, cerca com cerca, nós somos unha e carne, somos como irmãos.

--- Você só tem amizade com gente importante, gente pobre você não conhece.

--- Tomé porque quando você está de férias, só vêm aqui para me chatear, eu já estou cheio de você.

--- Calma mestre Luiz, você hoje está muito afobado.

--- Não é afobado, você além de tomar meu tempo, ainda me chama de mentiroso, não conto mais nada a você.

--- Calma mestre Luiz, calma, não fique nervoso.

Tomé dava um tempo, ficava puxando o fole para o fogo tomar corpo, ele ficava na bigorna afiando as lavancas e chibancas, que deixavam para ele apontar. Tomé começava novamente a instigar o mestre a conversar.

--- O padre vai trazer Frei Damião para fazer umas missões aqui em Pedro Avelino.

--- Damião vai chegar em Pedro Avelino?

--- Vai, você conhece?

--- Desde menino, aquilo foi menino véio arengueiro, briguei muito com ele.

--- Que conversa é essa mestre Luiz, Frei Damião nasceu na Itália, numa cidade chamada de Bozano. Por isso que o chamam de Frei Damião de Bozano.

--- Mentira dele, ele nasceu na cidade de Pedra Preta, bem pertinho da cidade Lajes. Não sei porque ele inventou essa lorota de dizer que nasceu na Itália. Ele chegou na fazenda do meu pai com a enxada nas costas para trabalhar, ainda menino, só saiu da nossa propriedade quando tava homem feito, agora inventa essa estória que nasceu em Bozano, eu conheço muito bem ele, desde pequeno que é mentiroso. Ele devia se chamar Frei Damião de Pedra Preta.

--- Mestre Luiz essa foi de mais, você acha que vou acreditar nessa sua conversa, com essa mentira estou de partida. O que você mente numa hora macaco não pula num ano.

--- Vá e não apareça mais aqui, se for para me chatear, não apareça, porque a coisa que eu tenho mais raiva na minha vida é de mentira. Homem nenhum nunca me pegou numa mentira.

Tomé deu um tempo com sua presença na oficina do mestre Luiz, deixaria o mestre amansar um pouco tinha chateado ele por três dias seguidos. Só apareceria quando ele esquecesse o entrevero que tiveram.

Era véspera da viagem de Tomé para Natal, inventaria uma conversa para ir até a oficina do amigo.

--- Bom dia mestre Luiz Ferreira!

Luiz Bambão estava de costas, nem se virou para responder a saudação do amigo, continuava tirar um parafuso da roda de uma carroça com o martelo de bola. Batia com força, tinha os braços fortes, era um homenzarrão, sempre com o cachimbo pendurado na boca.

--- Bom dia mestre Luiz, está com raiva de mim?

--- Não. Só tô ocupado, você num tá vendo.

--- Vim me despedir de você, as férias terminaram, vou viajar para Natal amanhã, as aulas começam segunda feira.

--- Boa viagem, vou passar um bocado de tempo sem olhar para sua cara.

--- O que é isso mestre!

--- É isso mesmo.

--- O mestre conhece Natal?

--- Conheço, mas não gostei.

--- Por quê mestre?

--- Porque aquilo é terra de gente ruim, terra de malfazejo. Uma vez fui fazer uns exames lá, estava meio adoentado. Me botaram para ser consultado no Hospital dos Pescadores no bairro das Rocas. Eu estava na casa de um parente no bairro de Peixe Boi. O médico me virou pelo avesso, perguntou um bocado de besteira, eu respondi, só fiquei escabreado quando ele disse baixinho: - Seu Luiz e como vai sua potência? Que potência? O médico metido a gaiato disse: O cacete ainda levanta? Eu disse: ora se levanta, ainda dou duas toda noite.

--- Já começou a mentir Luiz. Você dar é duas mijadas no pinico.

--- Oi Tomé, não me chame de mentiroso, quer que eu chame a mulher para você perguntar a ela, quer?

--- Não mestre, continue a lorota.

--- Não é lorota.

---Vamos Luiz, conte a estória...

--- Pois bem, quando eu peguei o ônibus que faz a linha Rocas, Peixe boi, que passei na barbuleta do ônibus, não tinha mais lugar para sentar, fiquei em pé. Uma caba maga ficou encostada em mim, eu só vi um negócio friviando no meu bolso, o forro do bolso era fundo, o caba estava com braço quase todo infincado. Agarrei na mão desse sujeito, arrochei os dedos do safado, e ele gritando. – solte minha mão, você vai quebrar meus dedos. E eu arrochando mais, quanto mais ele gritava, mais eu arrochava. A caba mijou-se todinho, que ficou o lago dentro do ônibus. Só soltei a mão do cabra quando a polícia chegou, o ladrão ficou com os dedos todos quebrados. O levaram para hospital, e depois para a delegacia.

--- Essa é verdade pura, mestre Luiz, todos daqui conhece essa estória.

Ficaram conversando besteira, Luiz Bambão ainda queria, contar mais coisas da sua ida para Natal, mas Tomé não queria, queria uma de suas mentiras.

--- Mestre Luiz, as aves de arribação começaram a chegar, já vi umas passando para o açude maracajá.

--- Tá no tempo delas chegarem para comer por aqui.

--- O mestre gosta de ribaçã?

--- Gosto Tomé, gosto muito, e paçoca dela com feijão verde, da água na boca.

--- Você já caçou alguma vez mestre?

--- Meu filho eu não te conto, num me lembro o ano, tinha ribaçã aqui como peste, principalmente no açude de Sítio novo de Teodoro Ernesto. O povo ia para o mato trazia bem pouquinha, então Seu Teodoro me pediu para eu dar um jeito nas ribaçã que estava acabando com a plantação de feijão dele, botou espantalho, botou menino para espantar e nada dava jeito, elas não saiam de dentro do roçado dele comendo o feijão todinho, não ia colher quase nada de feijão, elas estavam acabando com tudo. Elas comiam no roçado e iam beber no açude, e ribaçã quando sai para beber é tudo de uma vez só.

--- O que você fez mestre?

--- Ora o que fiz uma espingarda possante.

--- Possante como?

--- Peguei uma transmissão de caminhão, mandei fazer uma coronha fixe por Severino Doninha, fiz o ouvido da boca de uma torneira, e o batedor de uma escapa de ferro, a espoleta e fiz de tampa de garrafa, colava pólvora dentro da tampa, estava feita a espoleta, a espingarda cabia um caneco de leite condensado de chumbo e um de pólvora, socava com pedaços de panos velhos e estava pronta para atirar, a espingarda eu botei o apelido de Rita mundão.

--- E a vareta para socar?

--- Eu fiz de uma mão de pilão.

--- Deu certo mestre Luiz?

--- Ora se deu, peguei uns meninos meus vizinhos e fui para o açude de Sítio novo. Fiz a tocaia debaixo de um pé de algaroba grande que tinha na beira do açude, de longe só si via o cano de Rita mundão. Meu filho era avuete que negrejava, parecia tapuru em carniça. Carreguei a espingarda, os meninos me amarram no pé de algaroba, pois o supapo que a espingarda dava pra trás era grande. Quando nos vimos ficou escuro, era os avuetes que estavam chegando para beber, quando elas baixaram na beira do açude, os meninos disseram, agora. O tiro saiu, a espingarda deu um coice tão grande que quase quebra minha clavícula, só se via o peneiro no meio do mundo, os meninos saíram com os sacos para apanhar os avuetes. Só dessa vez apanharam seis sacos, desses grandes de estopa. Eu seu que durante o dia matei mais de dez mil avuetes fora as que saíram chumbadas e os meninos não poderam pegar, levei todas para Natal bem salgadinha, vendi numa mão só no Mercado do Alecrim. As avuetes que escaparam morreram tudinho dentro do roçado ficou podre que ninguém agüentava a catinga, pelas minhas contas, ficou chumbada e morreu no mato pra mais de vinte mil avuetes.

--- Basta mestre Luiz, na minha despedida você botou para lascar. Jô jeito que estou vendo, não tem panderista que acompanhe você na mentira, até as férias de junho.

--- Você não venha mas nunca aqui na minha oficina, tudo que eu conto você diz que é mentira, eu não sou homem de mentira. Não me apareça mais nunca aqui.

Em Junho Tomé apareceria novamente para aperriar O mestre Ferreiro Luiz Bambão.

Manoel Julião Neto

A BODEGA DE SEU JAIME

Bem do lado Sudoeste do Mercado Público Municipal ficava a tão cantada e decantada bodega. Lembro-me bem da fisionomia do seu proprietário. Era um homem calmo, compreensivo e que sabia conduzir aquela taberna tão do povo.

A mercearia tinha pouca iluminação, um cheiro forte de fumo e muito freqüentada tantas vezes por dia. Lá poderíamos encontrar pavios, lamparina, urupemas, esteiras, vassouras, querosene e cereais.

Entretanto o que fazia a diferença era variedade de cachaça que o mesmo comercializava. Façamos uma viagem no tempo para lembrarmos dos nomes de algumas delas: Dois tombos, canta galo, chora na rampa, língua de sogra, olho D’água, Guaru, pitu e uma Ana mole de 1ª cabeçada que era preparada por Chico do Enchimento e Chico Paulo que quando se colocava no copo, fazia logo um rosário. Ainda tinha Vinho de Jurubeba, Cinzano, quinado, São João da Barra e Zinebra ou Genebra Gato.

Se a bodega era famosa, famosos também eram os seus fregueses. Dentre muitos lembraremos os mais assíduos: Diomedes, Tio Eugênio, Tio João da Costa, Chico Xexem, João Lopes, a Velha Bola, Nelson e Maria Chica, Manoel Toucinho, Joaquim Rato e Elisa, João Quixá(pai) Capão e seus meninos, Cirilo, Fernando e Júlio, a Velha do preso, João Rajado, os miguéis, Fiel, Chico Gasolina, Seu Vicente, Segundo, José Veríssimo, Chico Português, Gregório, Manoel Pedro Marcelino, João Rosa, José Targino, Cleto, Israel, Chico Duvidoso, Franscisquinho, Chico Dantas, Joaquim Brás, Pedro Guarda, Relâmpago, Manoel Mulato, José Tenente, Chico Macaco, O mudo, José Pade, Pernambuco, Floro, Guachelo e Chico Raposa, Chico Paulo, Pedro Guarda e muitos outros que me falha a memória.

O mais interessante era maneira de pedir uma de cana:

--- Seu Jaime, bote uma da que matou o guarda!

--- Bota uma da que matou Tio João da Costa!

--- Seu Jaime bote uma de come o figo!

--- Seu Jaime bote uma de quando não mata aleja!

O nosso grande poeta e saudoso amigo Hermógenes Tenente fez uma glosa com a mais famosa bodega

A cachaça de Seu Jaime

É ruim de dá pipoco

Matou a velha bola

Deixou Segundo Louco

Floro Bem intoxicado

Chico Português bem rouco.

A cachaça era pagã

Seu Jaime batizou,

Fiel foi o padrinho

Segundo apresentou,

Chico Português anda bem prejudicado

Foi gripe que apanhou

No dia do batizado.


E assim durante muitas décadas, aquele pequeno mundo foi o ponto de convergência de muitos amigos, que passavam momentos felizes e angustiosos, mas sem nuca ter deixado de ser um ambiente ordeiro e de muita paz.


João Bosco da Silva

Professor, Escritor e Poeta, e um dos Apaixonados pela sua terra Pedro Avelino.

POEMA/HISTÓRIA

A poesia da história está raro.

No meio das sombras das ocorrências,

Pode estar no canto, no gesto, no dia pós dia.


A história também tem sua poesia.

A história de Gaspar Lopes como as demais.


No sertão do centro nasceu entre cactos e promérias,

Sob o sol intenso, os olhares incautos dos viajantes,

A feitos aparagens de muitas léguas.

No chão pedregoso que enrijecem e deformam,


Os cascos dos animais e os pés humanos.

Enfim nós: Homens da terra do Capitão Gaspar Lopes

Dos Reis;


Do Coronel Antônio da Rocha Bezerra,

Velho seismeiro português; Francisco de Souza Oliveira,

Posseiro e demarcador.


Casas muito poucas, e só vieram a surgir

Com a seca dos dois setes,

Com a presença maciça dos retirantes.


Plantio e criação continuando tranqüilo,

Os serviços ferroviários para Macau.

Em 1922, inauguração do ramal, discurso e palmas.


O pequeno vilarejo é manchetes nacional.

Um patrono ilustre: Presidente Epitácio Pessoa.


Em 1938, distrito Vila de Angicos,

Em 1948, maioridade com distinção para

Pedro Celestino da Costa Avelino:

Jornalista de combate, dedicado aos idéias da República.


Em 1950, despertar letárgico do pequeno povoado.

A locomotiva passa apitando pela estaçãozinha, com ela

Os olhares curiosos dos poucos habitantes.


Esta é a nossa história, nossa matéria prima.

O embaçamento do seu invólucro.

As saudosas lembranças do Riacho do Machado.



Severino Vicente

Professor, Historiador e Folclorista, e louco por Pedro Avelino.