sexta-feira, 17 de julho de 2009

Talento não se compra em bodega

Raimundo saiu de Pedro Avelino, foi embora para Natal, em busca de uma vida melhor para sua família, tinha mulher e três filhos, sendo dois meninos e uma menina, arranjou bom emprego, tinha bons amigos, nada lhe faltava, era torcedor ardoroso do Flamengo, quando estava em rodas de bebida só faltava brigar defendendo o seu time de coração, suas duas paixões, o Flamengo e a família, quando o um belo dia, Junior seu filho mais velho falou em alto e em bom som:
--- Papai eu quero ser jogador de futebol, sei que meu destino a ser um craque do Flamengo. Esses jogadores que estão no nosso time de coração não estão com nada, o nosso Flamengo não ganha mais nada desde que Zico saiu.
Raimundo recebeu aquela notícia com os olhos esbugalhados, coração aos pulos, radiante perguntou:
--- Junior repete o que você disse, agora?
E Junior prontamente respondeu com todas as forças dos seus pulmões:
--- Eu quero ser jogador de Futebol, eu quero ser craque do Flamengo, para dar alegria a essa imensa torcida que não merece sofrer tanto com esse time.
Com os olhos marejados, Raimundo não se continha de tanta alegria e felicidade, ter um filho jogador de futebol, é o máximo para um pai, orgulho para toda uma família. Raimundo saiu para o bar onde costumeiramente bebia, foi encontrando os amigos, e dando a boa notícia:
--- O Junior, meu filho vai ser jogador de futebol.
O pobre Raimundo tomou um porre de lascar, comemorando a atitude de Junior, pagou bebidas para os amigos, naquele dia não deixou ninguém pagar nada, era tudo por conta dele, estava contente por demais para deixar alguém pagar uma despesa de botequim. Chegou em casa às quedas, e disse para a mulher:
--- O nosso filho vai ser craque de futebol, vai jogar no Flamengo. Já pensou mulher, ele com a camisa do Flamengo, fazendo gol no Vasco da Gama em pleno Maracanã, vai ser a minha glória, pra mim ele vai ser melhor do que Zico, Roberto Dinamite, Rivelino, Romário e esses Ronaldinhos que andam por ai, não vão nem amarrar as chuteiras de Junior.
A mulher de Raimundo respondia:
--- Acabe com essa besteira homem, deixe seu filho estudar que tem muito mais futuro. Para ser jogador de futebol tem que nascer com a sina, tem que ter talento, o talento de Junior é em cima de um prato de feijão e, na vagabundagem. Você ainda não prestou atenção, que Junior é doente de preguiça para estudar.
Raimundo queria de qualquer maneira que seu filho fosse jogador, respondeu para a mulher possesso de raiva:
--- Mulher não coloca areia na sorte do teu filho. Você nem imagina como jogador de futebol ganha dinheiro. Essas modelos loiras e gostosas que andam por ai, e que vivem atrás de jogador e cantor de pagode, todas elas querem ficar buchuda de jogador, você vai ver como elas vão dar em cima de Junior, mas vou dizer logo, eu quero ser o procurador dele, vou fazer contratos de publicidades, compro uma Mercedes para mim, e outra pra você, você vai andar com dois seguranças, porque seqüestrar mãe de jogador está na moda, agora não dê cabimento aos seguranças, tenho medo de chifre que me pélo. Junior vai ter que me obedecer deixo o emprego, vou só cuidar da carreira do meu filho, nome de craque ele já tem, Juninho Potiguar, Tem Juninho Paulista, Juninho Pernambucano, Juninho Carioca, Junior Bahia, Junior Baiano, é claro que o meu vai ser Juninho Potiguar.
Terminada a conversa, Raimundo adormeceu no sofá, com os pés e as sandálias cheias de poeira.
De manhã Raimundo acordou com uma ressaca de lascar, cuspindo bala, tomou dois Engov e um sonrisal, e foi a uma loja de material esportivo comprar o material para Junior entrar na escolinha de futebol. Chuteiras, meias, caneleiras e a camisa oficial do Flamengo, também fez a matrícula de Junior na escolinha de futebol. (Essas escolinhas que os jogadores veteranos inventam para ganhar dinheiro na moleza)
No outro dia Junior vestiu a fatiota de atleta, todo sem jeito, não tinha pinta nenhuma de quem ia ser craque. Pediu ao pai:
--- Pai eu queria pedir ao senhor para deixar de estudar, quero me dedicar só ao futebol, a copa do mundo está chegando, eu quero entrar na seleção brasileira da idade de Pelé, na próxima copa do mundo quero está na África do Sul com a camisa da canarinha.
--- Muito bem Junior, pare de estudar, se dedique só ao futebol, você tem que garantir o futuro de nossa família. Vou comprar umas vitaminas para você, sua comida tem que ser separa, você tem que comer bastante verdura, e proteínas.
Nisso a mulher de Raimundo se partiu com quatro pedras na mão, disse:
--- Raimundo você é louco? Tirar seu filho dos estudos, para ele se dedicar essa besteira que ele inventou, toma juízo homem, não faça uma malvadeza dessa, o futuro dele é no Colégio estudando. Esse safado está te enganando, o espinho quando tem que furar nasce logo a ponta. Eu vejo daqui de casa quando estão formando as peladas, colocam Junior para ser goleiro, porque em pelada quem joga no gol são os piores.
--- Você não sabe de nada, jogador de futebol hoje mulher, ganha mais dinheiro do que qualquer formado ganha mais do que o Presidente da República, o que vale hoje é dinheiro, você preste atenção nas entrevistas que os jogadores de futebol dá para imprensa, fala tudo errado, mais tem dinheiro, é o que importa. Tem jogador de futebol que diz, que o time ganha comigo ou sem migo, e ninguém ignora. Tem deles que quando perde só sabe dizer: Vamos levantar a cabeça e trabalhar para reverter esse quadro, pois futebol é uma caixinha de surpresa.
Raimundo foi trabalhar radiante com sua nova empreitada, ia investir no filho, sua alegria era total, sorria de canto a canto da boca. E Junior foi para a escolinha aprender a jogar futebol.
Passado uns dias, Raimundo notou que Junior estava triste, macambúzio, perguntou-lhe:
--- Junior o que está acontecendo?
--- Pai sabe o que é, quando eu passo pelo campinho de terra batida, tem um menino pretinho, que faz o que quer com a bola, faz embaixadas com os dois pés, da bicicleta, sem pulo, só da bola de primeira para os companheiros, chuta com as duas pernas, e tudo isso com os pés descalços, enquanto eu tenho, chuteiras da melhor qualidade, camisa do Flamengo, caneleiras e meias, estou na escolinha de Futebol, não sei fazer nada que aquele negrinho feio faz com a bola.
--- Não esquenta com isso Junior, com o tempo você aprende tudo isso na escolinha, os professores são pagos para ensinar os garotos a jogar futebol.
Mesmo assim Raimundo ficou preocupado com aquele relato do filho, foi até a escolinha de futebol, saber como andava Junior, como ia o seu futebol. Chegando lá perguntou a uns dos professores de Junior, que tinha sido um grande jogador:
---Professor como vai meu filho aqui?
--- Seu. Raimundo eu sou obrigado a dizer o senhor como vai seu filho, e vou ser muito sincero: o filho do senhor tem muito, mais e preguiça, todos vão treinar no campo, ele fica no vestiário dormindo, ele não sabe de nada de futebol, como chamam na gíria dos boleiros, o seu filho é um tremendo cabeça de bagre.
Raimundo saiu decepcionado com Junior Potiguar, estava acabando o sonho da Mercedes nova, dos contratos de publicidades, dos gols no Vasco da Gama em pleno Maracanã, ele com camisa da seleção Brasileira, disputando uma Copa do Mundo na África do Sul, seu sonho acabou. Foi se aconselhar com o seu amigo Pedro, velho amigo das mesas de bares:
Pedro escutou o desabafo de Raimundo, a decepção, com muita atenção, sem perder nenhuma palavra do amigo, respondeu-lhe:
--- Amigo Raimundo, espero que você entenda minhas palavras, não fique contrariado com o que vou lhe falar: o que está faltando a seu filho é talento, quem nasce para ser jogador de futebol, não precisa de escolinha de futebol, aprende a jogar de pés descalços na rua, em terrenos baldios, na praia, em qualquer lugar que uma bola possa rolar. Veja o seguinte: Zico foi um dos maiores jogadores de futebol do Flamengo, nunca conseguiu fazer o seu filho Artur um craque, o levou para o Guarani de Campinas, para o Fluminense, e o Juninho de Zico nunca decolou. Pelé foi o maior jogador do Mundo, o Atleta do Século, nunca conseguiu que seu filho Edinho fosse convocado para a seleção Brasileira ou titular fixo do Santos, o Juninho de Pelé também não decolou, só aprendeu o que não prestava, até preso foi. Sabe o que era isso? Falta de talento. Não tem dinheiro no mundo que faça um perna de pau ser titular de um grande time do Futebol Brasileiro. Agora vou lhe dizer uma coisa, lugar onde qualquer um faz sucesso sem ter talento, é na Televisão e na Literatura, se você possuir dinheiro, contrate um Empresário bom, esse empresário pega o seu Juninho Potiguar, coloca ele entre duas mulheres, uma loira e outra morena, agora as duas tem que ter a bunda grande, coloca os três dançando no palco, as mulheres com a bunda de fora, e Juninho Potiguar com uma roupa afrescalhada, os três cantando qualquer besteira e dizendo que é da Bahia, faz o maior sucesso. Você tira pelas merdas da Bahia que estão por aí se apresentando, e ganhando muito dinheiro. E na Literatura é do mesmo jeito, só é você ter amizade com pessoas da imprensa, e da publicidade, como colunistas sociais, contratar uma grande Editora, fazer um Marketing bem feito, no dia do lançamento do livro fazer uma boca livre com bastante bebidas e comidas, também dizer que ele leu num sei quanto livros, como Machado de Assis, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, todos os livros de Câmara Cascudo e um bocado de porcarias estrangeiras e o Pequeno Príncipe, que seu filho faz o maior sucesso, e não esquecendo de convidar a Televisão. Nunca mais ele sai das colunas Sociais, embora o livro que ele escreveu seja uma porcaria. Ainda vai ter gente se oferecendo para fazer um elogio na orelha do livro.
Raimundo ficou pensativo, caçou a cabeça, e falou para o amigo:
--- É amigo Pedro você abriu meus olhos, foi muito proveitosa a nossa conversa, vou chegar em casa, pegar aquele filho de uma égua, dou-lhe uma surra de cansar o braço, coloco ele para estudar de manhã e de tarde, aquele Juninho Potiguar cacete, estava era me enrolando com esse negócio de ser jogador de futebol, o que ele tem mesmo é muita preguiça no rabo. Ele vai se reiar comigo.

A Carta

No pé da Serra Verde, morava uma grande família tradicional nos seus costumes, os Ciriacos. Sempre viveram da exploração de caprinos, tinham rebanhos grande, que tomava toda extensão da serra. A serra era como se fosse a mina de ouro daquele pedaço de chão, sempre tinha pasto para os animais se alimentarem, no sopé um olheiro que nunca faltava água para todos daquela grande família.
O velho Ciriaco juntamente com o seu pessoal, fabricava o melhor queijo de coalho de leite de cabra de toda região. Essa iguaria nordestina na fazenda dos Ciriacos é feito artesanalmente, com receita passada pelos troncos velhos da família, feito no chincho de madeira, com coalho de preá, engomado no ferro quente.
Para família dos Ciriacos a tradição está acima de tudo, ainda se conservam os mesmos móveis de mais de cem anos, os oratórios com os santos, principalmente São Sebastião, são adorados por todos de casa. Os filhos tomam abença aos pais pela manhã e ao deitar. Nos horários das refeições, o velho senta na cabeceira da mesa comprida, ao lado direito os filhos mais velhos, até chegar no caçula. Do alto de sua autoridade o velho puxa as rezas, só se começa fazer a refeição, depois que velho termina, as mulheres servem a comida para os homens, depois é que sentam a mesa para comer. Essa rotina rígida sempre foi o carro chefe daquela família á muitos e muitos anos, tudo isso foi passado de bisavôs, para avôs, pai, filhos, netos, e bisnetos, naquela família não se arreda o pé desses costumes antiquados.
D. Sebastiana é a matriarca, toma conta de todos os filhos com ferocidade de uma mãe extremosa, os filhos e filhas a obedecem cegamente, inclusive genros e noras, ao todo são cinco mulheres e sete homens, o mais novo tem quinze anos, o mais velho trinta e cinco anos, mais quem manda é D. Sebastiana. Na fazenda da serra verde, é uma vida tranqüila, uma vida sem luxo, agora foi que chegou energia. D. Sebastiana exigiu do marido uma televisão e uma antena parabólica, que é a diversão de todos.
Aos domingos o velho Ciriaco não precisa se deslocar para o povoado mais próximo, como fazia antigamente para assistir a missa, agora assiste na televisão, os filhos assistem todos os programas, inclusive os jogos de futebol. D. Sebastiana toma conta de tudo, nos dias normais á televisão é ligada das cinco da tarde as dez da noite, no sábado das duas da tarde até meia noite, no domingo de sete da manhã até dez horas da noite. Tudo com D. Sebastiana tem limites, o velho Ciriaco concorda com tudo. O Velho não é manicaca, mas dentro de casa quem manda é a mulher, botando o pé do batente pra fora, quem manda é ele, tudo naquela família tem ordem, quando casa um filho ou uma filha, o velho trás para dentro da fazenda, para viverem da criação de caprinos, tudo é repartido rigorosamente igual, nenhum filho tem direito mais do que o outro, as filhas também, todos tem direitos iguais.
Zé Geraldo o filho mais velho, anda meio cismado com o irmão mais novo chamado Tiãozinho, que tem quinze anos. Acha Zé Geraldo que a mãe anda mimando demais o caçula, porque com ele não foi daquele jeito, desde que começou a andar que foi ajudando ao pai na lida das cabras, levou a infância correndo atrás de miunça em cima daquela serra, ao contrario de Tiãozinho que só anda todo emproado, com os pés calçados, com sapatos e tênis da melhor qualidade, vestido da cabeça aos pés. Ele não, quando era pequeno calçava umas alpercatas de sola crua, só andava sem camisa, correndo a procura de cabras e cabritos perdidos na caatinga, seus irmãos do mesmo jeito, até as meninas, suas irmãs, corriam a procura de cabrito, por que o fim de rama, como dizia os mais velhos, com quem nasce por último, tinha mais privilégio do que eles, que eram mais antigos, o pai sempre dizia que antiguidade na família é posto.
Todos aprenderam a ler e escrever pouco mais aprenderam. Antigamente saiam depois do almoço para escola, todos montados em burro a osso, na volta não podiam se empalhar com nada tinha que chegar na hora certa, para enchiqueirar os cabritos, para no dia seguinte tirar o leite das cabras. Para Tiãozinho a mãe comprou uma bicicleta cor de rosa com uma cestinha na frente, para ele ir para escola, sai bem cedinho com o sol frio, e chega á tardinha quando o sol está se pondo. Não ajuda em nada, vive de boa vida, quando vai ao chiqueiro das cabras, D. Sebastiana grita do alpendre:
--- Tiãozinho venha pra dentro de casa, saía já dessa poeira, senão você vai ficar resfriado, não vai poder dormir a noite com o nariz entupido, nem dorme, e nem me deixa dormir.
De repente Tiãozinho vai para casa com um andar miudinho, com as perninhas bem juntinhas, os bracinhos para cima e as munhecas para baixo. Para Tiãozinho não tem horário certo para ele assistir televisão, ele chega mete a mão e liga, assiste até a hora que quer, ninguém diz nada, quando outros irmãos param um pouquinho para assistir, D. Sebastiana diz logo: - você não tem o que fazer? Vá ajudar a seu pai.
Zé Geraldo estava ficando puto com tudo aquilo, só não tinha coragem de reclamar a mãe das regalias de Tiãozinho, mesmo assim foi até a mãe, fazer umas indagações:
--- Mãe, a senhora sabe que tudo aqui na fazenda, o que produzimos é repartido em partes iguais, também todos trabalham para terem direitos a essa parte, eu só não vejo Tiãozinho trabalhando, até meus filhos que são menores do que ele trabalham. A senhora agora está diferenciando os filhos?
--- Zé Geraldo, você sabe muito bem que eu não faço diferença de vocês. Acontece que Tiãozinho é um menino fraco, é um menino que já nasceu doente, gosta muito de estudar, eu não dou regalias a ele não senhor, você é que colocou isso na cabeça, eu não vejo os seus outros irmãos reclamarem, só você que tem essa pinimba com o bichinho, deixe Tiãozinho em paz, vá cuidar de sua família, não se preocupe com seu irmão, deixe que eu tomo conta da vida dele, deixe de ser chafurdento.
Zé Geraldo não disse mais nada, botou o chapéu na cabeça, saiu para lida, Tiãozinho sentado em frente á televisão, assistia o show da Xuxa todo dengoso, roendo as unhas, nem dava atenção para as besteiras de Zé Geraldo. D. Sebastiana foi até onde ele estava, deu-lhe um beijo na cabeça, foi para cozinha preparar o café da manhã do caçula, mingau de Neston com flocos de aveia, pão integral com margarina Dait, e bebida a base de soja, sabor laranja, cem por cento de proteína vegetal com vitamina C, um complemento alimentar a base de soja light, com zero de lactose, zero de colesterol, com 12 vitaminas, A, B1,B5,B6,B9,B12,C,D,E,H e PP, com alto teor de vitaminas B9,B12 e H, rico em Cálcio, Dizia D. Sebastiana que essas comidas brabas como: feijão, pirão de costela, mocotó, e corredor, não era alimentação para Tiãozinho, ele era um menino fino.
Sem querer aparentar nada, todos da família sabiam que Tiãozinho era o xodó da mamãe. O velho Ciriaco não se metia no tratamento que a mulher tinha para com o filho caçula, dizia ele que tudo aquilo era coisa de mãe que queria bem aos filhos.
E Tiãozinho foi levando a vida na maciota, só andava todo emperiquitado, tinha umas viagens para a cidade, onde tinha varias amigas, cantava no coral da igreja, andava com uma cruzinha de madeira pendurada no pescoço. Passava de dois dias sem pisar em casa, quando chegava D. Sebastiana o mimava dando-lhe beijos e abraços, fazendo-lhe todos os gostos. Os irmãos tomavam água da cacimba, mas Tiãozinho, água mineral com gás, a mãe comprava garrafas e garrafas de água para o filho, ninguém tinha direito de mexer nas coisas de Tiãozinho, tudo dele era separado, e ai de quem mexesse nas coisas do caçula. Zé Geraldo parou de ir á casa dos pais, só ia quando tinha uma grande necessidade.
Um certo dia pela manhã, Zé Geraldo adentrou a casa dos pais, o que encontrou, Tiãozinho se olhando no espelho, cantando e dançando as musicas da Xuxa, Hilari, hilari, é, ôôôô, é a turma da Xuxa que vai dando o seu amor, panran, panran, panranran, paran ran,ran,ran, Tá na hora, tá na hora, tá na hora de brincar, pula, pula bole, bole, remexendo sem parar, de bundinha vai pra frente, de bundinha vai pra trás. Zé Geraldo pensou consigo mesmo: - Esse negócio está desmantelado, esse bicho tá fazendo coisa feia, não tem quem me diga o contrário.
Os tempos foram passando, Tiãozinho foi ficando diferente, deixou os cabelos crescerem, batia nos ombros, tirava as sobrancelhas ás deixavam fininhas, tinha entrado num grupo de dança da igreja, tudo que acontecia na cidade, Tiãozinho fazia parte, Grupos de teatro, dança, organizações de festas, pastoril e lapinha. Penteava os cabelos das colegas, as roupas eram diferente, D. Sebastiana admirava muito filho por sua inteligência. Os irmãos e irmãs de Tiãozinho não se incomodavam com a vida dele, mas Zé Geraldo vivia lambendo uma rapadura para pegá-lo no fraga, mostrar para mãe que a vida do irmão estava desmantelada.
E Tiãozinho continuava dentro da Igreja, metido em clube de jovens, fazendo teatro, fazia apresentações de dança em cidades vizinhas, era o melhor cantor do coral da Igreja, andava rodeado de moças, brincava de roda com as meninas, pintou os cabelos de loiro, ajustou as calças, ficou com a bundinha bem empinadinha, usava tênis cor de rosa, pulseiras coloridas, não parava um minuto na fazenda, os irmãos se matando, tomando conta das cabras, fazendo queijos de coalho. No sábado, toda a família do velho Ciriaco estavam na feira vendendo queijos, depois com o apurado da venda dos queijos, faziam as compras e iam para casa a cavalo, uma viagem cansativa. Enquanto isso, Tiãozinho só chegava em casa de moto-taxi, a mãe pagava com a maior satisfação. Na geladeira o kit de Tiãozinho já estava guardado, Toddinhos, biscoitos recheados, leite condensado, sopinhas de criancinhas de colo, latas de farinha lacta, no almoço só comida leve, verduras peito de frango, peixe grelhado, sempre estava de dieta, não podia ficar gordo, D. Sebastiana dava o maior apoio. Enquanto isso o resto da família penava no feijão brabo com rapadura do Cariri. Zé Geraldo aproveitou um dia que Tiãozinho não estava em casa, era Domingo pela manhã, ele tinha ido com um grupo de dança se apresentar na cidade de Pataxó. Reuniu os irmãos e irmãs, cunhadas e cunhados, o velho Ciriaco falou para Zé Geraldo:
--- Essa reunião que você quer fazer Zé Geraldo, tem que terminar antes do programa Globo Rural começar, você sabe muito bem que eu não perco de jeito nenhum, você sabe disso.
Zé Geraldo colocou todos na sala da casa do pai, começou falando:
--- Bem eu quero relatar aqui o que eu estou achando errado na nossa família, espero não magoar ninguém, porque não é esse o meu intuito. Quase toda família está se matando de trabalhar, correndo atrás de cabras e bodes por essa caatinga afora, subindo a serra e descendo, procurando cabras, cabritos que se perdem, tratando de umbigo de cabrito novo, tratando de bicheiras das cabras, tirando leite, fazendo queijos, para vender na feira. A nossa luta aqui é muito intensa, até o nosso pai que está velho, precisando de um descanso, também trabalha demais, só Tiãozinho não faz nada disso, tem os mesmos direitos de todos, eu acho isso muito errado, uns se matando para dar boa vida a outro, queria que todos compreendessem que eu não estou com inveja dele, e tão pouco com marcação, eu só quero que cada um dê a sua contribuição no trabalho por igual, aqui é tudo distribuídos em partes iguais, ninguém tem direito mais do que o outro, então eu estou sugerindo que as tarefas também seja distribuídas por igual, que um não tenha mais privilégios do que os outros.
A proposta de Zé Geraldo não teve eco, os seus irmãos e irmãs ficaram calados, não tinham coragem de enfrentar D. Sebastiana, o velho Ciriaco também ficou calado, ninguém deu opinião, só que a matriarca partiu lá da cozinha onde estava coando o leite de cabra para fazer queijo, com mais de mil:
--- Eu sei porque você está dizendo isso Zé Geraldo, é marcação que você tem com Tiãozinho, você morre de inveja dele, mais não adianta esse fuxico que você está fazendo, porque ninguém vai dar jeito no que eu queira fazer para ele, faço para todos do mesmo jeito, eu não tenho separação de bem com nenhum de vocês, quero bem por igual, mas você acha que eu quero mais bem a Tiãozinho do que a você é problema seu. Faço tudo por ele até enquanto eu puder.
Afobada D. Sebastiana saiu para cozinha enxugando as mãos no avental. O velho Ciriaco com os olhos grudados na televisão no programa Globo Rural, não dava nem atenção para a reunião. Quando Zé Geraldo perguntou ao pai:
--- O que o senhor acha disso tudo papai?
--- Eu não acho nada Zé Geraldo, essas coisas de dentro de casa quem resolve é sua mãe.
Zé Geraldo levantou-se, colocou o chapéu na cabeça e saiu, os outros irmãos o acompanharam, todos calados iguais a uns cordeiros. Zé Geraldo ficou conformado, sabia que aquela parada tinha perdido, mais ainda tinha esperança de desmascarar Tiãozinho, mostraria a mãe e ao resto da família que o irmão estava com a vida desmantelada, e a mãe não se dava conta daquela safadeza que o caçula estava fazendo.
A luta da fazenda continuava árdua, acordavam cedo, na hora que o galo cantava, quando botavam os pés no chão começavam a trabalhar, enquanto isso Tiãozinho só acordava lá para as dez horas da manhã, dormia numa cama coberta com um mosquiteiro, para não se mordido pelas muriçocas, pijama de flanela enfeitado com gatinhos cor de rosa e pantufas. Quando Tiãozinho levantava era todo dengoso, sentava a mesa aborrecido quando alguma coisa não estava do seu gosto, por exemplo: só gostava ovos mole com torrada de pão integral bem passada com queijo mussarela e presunto da Sadia, só tomava suco de frutas naturais com mel de abelha italiana, quando algo não estava do seu gosto, ficava emburrado em frente à televisão assistindo o programa da Xuxa. É louco apaixonado pelo cachorro Txutxucão. D. Sebastiana ficava preocupada quando o caçula estava contrariado, fazia tudo ao seu gosto. Quando dava à tardinha vinha um moto-taxista pegar Tiãozinho para as aulas de dança. E o resto da família a procura das cabras que estavam paridas em cima da serra verde.
Fazia dias que Zé Geraldo não entrava na casa dos pais, mas naquele dia precisava ir até lá para pegar uns chocalhos que estavam guardados na dispensa. Quando adentrou a casa, encontrou Tiãozinho á frente da televisão imitando os passos de uma bailarina que se apresentava num programa matinal. Quando Zé Geraldo avistou o irmão com aquelas roupas que não eram normal para quem nascia dentro de uma família de macho. Gritou:
--- Epa! Epa! Que danado é isso? Que roupas são essas Tiãozinho?
--- É minha roupa do grupo de dança!
--- Meu amigo seja homem, você só tem coisa de baitola. Vista uma calça de homem, coloque umas alpercatas de couro cru, vamos trabalhar como homem, vamos atrás dos nossos animais que estão perdidos na caatinga. Deixe essa vida de coral, de grupo de dança, de teatro, pare de viver dentro da igreja sendo coroinha, isso não leva a nada, você trabalhando junto com toda nossa família, progride, depois arranja uma mulher, casa e vai ter seus filhos, isso não é jeito de viver.
--- É ruim. Eu sou um artista Zé Geraldo, não nasci para ser vaqueiro de bodes, eu sou um homem fino, essa vida que vocês vivem não é pra mim, uma vida medíocre, sem perspectiva, eu vou brilhar nos palcos da vida, eu vou ser um artista, nunca um pobre como você vai entender o que estou falando, você vai morrer nestas caatingas a procura dos bodes e das cabras da família, as minhas vocês podem ficar com elas, a mim não interessa um cabrito. Você vive fazendo chafurdo de mim com ganância, por causa dessa meia dúzia de miunças, mais eu nem ligo para elas, você é um ganancioso, eu não sou, eu quero viver minha vida do jeito que eu gosto, um dia vou viver como tenho vontade, eu só não quero dar desgosto a minha mãe, que me quer muito bem. Não crie seus filhos da mesma maneira que você foi criado, eles vão ser uns brutos dentro desse mato. E outra coisa eu sou veado sim, agora vá dizer a mamãe, para ver se ela acredita, vá Zé Geraldo, um dia ela vai saber que eu sou Gay, que eu sou bicha, mais esse dia ainda não chegou, quando esse dia chegar quem vai dar a notícia a ela é você que é o mais interessado em descobrir minha sexualidade, não tenha medo que esse dia vai chegar.
Com aquela lição de moral que Zé Geraldo tomou, saiu de mansinho, foi até a dispensa, pegou os chocalhos, e foi embora para o chiqueiro enchocalhar as cabras. Zé Geraldo não se conformava, sua mãe tinha que descobrir com urgência que Tiãozinho era baitola, mas como? Mais um dia vou desmascarar aquele safado para todos verem que eu tenho razão.
Tiãozinho continuou fazendo as suas peripécias, cada dia ficava mais afrescalhado, suas roupas deixavam o povo de sua terra mais indignado com os modelos extravagantes. Zé Geraldo vivia envergonhado com a vida que o irmão levava, todos notavam, mas ninguém tinha coragem de dizer a D. Sebastiana, pois ela não acreditava que o filho fosse Gay. Tiãozinho se metia em tudo, em festas, era o primeiro a chegar na igreja para ensaiar no coral, sempre com uma cruz de madeira pendurada no pescoço, era um requebrado mais infeliz do mundo. E D. Sebastiana só acreditava no que o filho caçula dizia, não acreditava mais em ninguém.
Tiãozinho completou dezoito anos, ia fazer uma festinha para os amigos e amigas, convidou até o padre. A casa do velho Ciriaco estava preparada para comemorar o aniversario do caçula. D. Sebastiana chamou umas comadres para fazerem os quitutes, mandou fazer um bolo na cidade vizinha, o bolo tinha uma bailarina em cima vestida de cor de rosa. Tiãozinho faria uma dublagem de Nei Matogrosso, e daria uma bela notícia a toda família, também para as amigas e amigos. Só não veio para o aniversario as beatas da igreja, o detestavam.
Á tarde do domingo, dia do aniversário, as amigas de Tiãozinho chegaram logo cedo, mais tarde chegou o padre, D. Sebastiana e seu Ciriaco estavam muito satisfeitos com as amizades do filho. Zé Geraldo todo por fora, dizia aos outros irmãos:
--- Eu mesmo não vou, nunca gostei de frescura.
Tiãozinho deu pela falta de Zé Geraldo, sabia que ele não compareceria ao seu aniversário, naquele dia estava muito satisfeito e alegre para se aborrecer com o irmão sem senso de humor. Estavam todos sentados na sala, amigos e familiares, esperando pela apresentação de Tiãozinho, que se arrumava no quarto vizinho á sala, uma de suas amigas colocou o a musica de Nei Matogrosso “Mamãe eu sou é homem”. Tiãozinho adentrou a sala com um lenço amarrado na cabeça, uma saia de rosas berrantes, um cinto preto, bem largo na cintura, o rosto pintado de varias cores. Deu um show de requebros e trejeitos, deitou no chão, ao som da musica, sentou-se numa cadeira, colocou as pernas para cima, passou as mãos no peito, deu beijos para todos. Foi uma bela apresentação, todos ficaram fascinados com os dotes artísticos daquele menino criado dentro de uma fazenda. A mãe de Tiãozinho D.Sebastiana dizia:
--- Eu sei que esse menino vai fazer muito sucesso na vida, esse menino tem uma veia artística que nem um dos irmãos tem.
Partiram para outra sala onde estava o bolo com a bailarina em cima, cortaram o bendito bolo, o primeiro pedaço do bolo Tiãozinho ofereceu ao Negão moto-taxista, cantaram parabéns, bateram palmas, dançaram e cantaram com muita alegria, de repente Tiãozinho pediu silencio a todos, queria fazer um comunicado, já que passara a maior idade. Todos ficaram em silencio ao redor da mesa, Tiãozinho começou a falar:
--- Bem amigos e amigas, seu Padre e toda minha família aqui presente. O homem quando completa dezoito anos tem que dar um rumo na vida, esse é o meu caso, não nasci para viver o resto da minha vida dentro de uma fazenda tomando conta de caprinos, como eu sou muito religioso, decidi me tornar Padre, para isso já me comuniquei com um seminário em Aparecida do Norte, em São Paulo, fui aceito, parto para o seminário daqui a quinze dias, espero que todos compreendam, eu não posso viver numa cidade pequena como essa, tenho que dar vôos mais altos de todos. Por gentileza, não me peçam para desistir, já decidi, não volto atrás, espero compreensão.
D. Sebastião caiu chorando numa cadeira, o velho Ciriaco lagrimejava os olhos, aquele comunicado tinha pegado a todos desprevenidos, até o Padre da freguesia nunca tinha imaginado que aquele menino tivesse a intenção de ser Sacerdote, também estava surpreso. Foi até onde estava a mãe do garoto, a consolou:
--- D. Sebastiana ser Padre não é nada demais, ele vai para o seminário, todos os anos volta de férias para vê-los. Deixe seu filho seguir o destino dele, por exemplo: eu sou Italiano e moro aqui á tanto tempo, todos os anos viajo para visitar os meus na Itália, não queiram cortar o destino do seu filho, ele vai sempre estar protegido nos braços do senhor.
Todos aceitaram a decisão de Tiãozinho numa boa, o Padre Italiano convenceu a todos, Tiãozinho ficou muito contente, pelo Padre ter convencido seus pais. Todos foram embora. D. Sebastiana ficou pensando consigo mesmo: - Eu nunca pensei que esse menino tivesse tino para ser Padre, a maior felicidade de uma mãe é ter um filho sacerdote. Sei que vou sentir muita falta dele, me ajudava muito dentro de casa, varria a casa, lavava os pratos, lavava roupa e passava, costurava muito bem, deitava até galinha, como vou me acostumar com Tiãozinho longe de mim, mas se ele vai procurar o destino dele, que Deus o proteja.
No outro dia Tiãozinho falou com a mãe para vender uns bodetes que pertenciam a ele, precisava arrumar o enxoval, e dinheiro para as passagens. D. Sebastiana falou com o marido, que rapidamente vendeu ao marchante de miunça de uma cidade vizinha, trinta bodetes capados e gordos chega eram roliços. Colocaram o dinheiro nas mãos de Tiãozinho, que fez toda arrumação para a viagem, comprou as passagens em Natal, só estava esperando o dia de viajar. Na véspera da viagem, encontrou com irmão Zé Geraldo, lhe falou:
--- Pronto Zé Geraldo, você vai ficar livre de mim, vou fazer minha viagem, vou ser Padre, pode tomar conta de tudo, você não vai ter mais preocupação com minha vida.
--- Acontece Sebastião Ciriaco de Medeiros, que eu não estou acreditando nessa sua conversa, isso tudo foi para enganar mamãe, você é um desmantelado, pelo seu jeito, logo se percebe na hora o que você é.
--- E o que eu ou Zé Geraldo?
--- E eu que vou saber o que você é, quem sabe da sua vida é você.
Chegou o dia da viagem de Tiãozinho. D. Sebastiana já amanheceu o dia chorando, fazia as obrigações de casa e chorava. Tiãozinho todo serelepe só pensava na viagem, na liberdade de viver só. O velho Ciriaco não saiu de dentro da rede chorando, D. Sebastiana foi até Tiãozinho e pediu:
--- Meu filho não vá embora para os confins do mundo, Sum Paulo é muito longe, lá tem assalto todos os dias, queimam os ônibus no meio da rua, os bandidos matam gente lá igual a tinguir, No Sul ninguém é de ninguém, o povo de lá vive correndo, tudo aperriado, o povo de lá não tem sossego, aqui você tem sua vida livre, calma sem aperreio de nada. Tudo que você pede eu num faço pra você? Então fique meu filho.
--- Não mamãe, eu quero outra vida para mim, eu quero ser Padre. E onde eu vou ficar, não tem nada disso que a senhora ver pela televisão, eu vou para um seminário, onde só se faz rezar. Se acalme vai dar tudo certo.
Chegou á tarde, todos da família estavam no alpendre da casa grande para se despedir de Tiãozinho, menos Zé Geraldo, que de propósito inventou de procurar uns cabritos em cima da serra. Todos choravam, abraçados com o caçula, principalmente a mãe, D. Sebastiana, Tiãozinho não melava nem os olhos, era só olhando para estrada para ver se o moto-taxista estava perto de chegar. E o moto-taxista chegou, Tiãozinho pegou as bolsas, montou na moto não olhou nem pra trás, todos do alpendre ficaram acenando para o caçula que iria ser Padre em São Paulo. No caminho Tiãozinho comentava com o moto-taxista:
--- Que povo besta, é um chororó danado, eu já estava com agonia das besteiras de mamãe, eu não vou morrer, eu vou viver minha vida do jeito que tenho vontade, vou ser liberto, vou ser forro.
Passava pra mais de três meses, e D. Sebastiana não recebia uma linha do filho, estava ficando, apreensiva com aquela falta de noticias do filho. No próximo sábado ia para feira, falaria com padre para se comunicar com os padres de São Paulo, para saber notícias de Tiãozinho. O velho Ciriaco foi á cidade, quando chegou em casa, disse para D.Sebastiana:
--- Oia aqui uma carta que o homem do correio me entregou, eu acho que é de Sebastião.
D. Sebastiana abriu a carta apressada, começou a ler, satisfeita com as noticias que filho mandava, terminou de ler, fechou a carta colocou novamente dentro de envelope, disse para o velho Ciriaco:
--- Tiãozinho está muito bem, manda dizer que já fez muitas amizades, com os padres de Sum Paulo, que só não celebrou missa porque está lhe faltando a batina, e os paramentos, está pedindo dinheiro para fazer essas compras, mandou até o número da conta do banco, disse que podiam vender uns bichos dele, e mandasse o dinheiro. O velho Ciriaco pegou a estrada e foi para cidade vizinha, vendeu mais trinta bodetes, e enviou o dinheiro para Tiãozinho.
D. Sebastiana era só alegria, com a profissão que Tiãozinho escolheu, contava a todos que o filho já ia celebrar missa, que tinha muitos amigos padres, que seu cartaz em Aparecida do Norte era imenso.
Quase todos os meses Tiãozinho mandava pegar dinheiro, cada carta trazia um pedido para uma coisa diferente. Ele já tinha acabado com a criação dele, já tinha entrado na da mãe. Zé Geraldo andava aborrecido, o rebanho estava ficando pequeno, depois que Tiãozinho tinha ido para São Paulo já tinha vendido pra mais de trezentos bichos só para mandar o dinheiro para ele, as cabras que estavam parindo, não estava acompanhando o que estava sendo vendido para mandar o dinheiro para o irmão em São Paulo. Foi falar com a mãe:
--- Mãe a senhora sabe que este ano não foi bom de inverno, que teve muitas cabras que não tomaram cria, a parição está sendo pequena, eu vim pedir a senhora, que pare de vender as cabras e os bodetes, dê um tempo, deixe passar pelo menos seis meses, para nós recuperar o que foi vendido. Mande dizer a Tiãozinho que faça umas economias por lá, só mande buscar dinheiro mais pra frente.
--- Não senhor Zé Geraldo, todas as vezes que Tiãozinho mandar buscar dinheiro eu mando, ele precisa mais do que agente, ele está longe não tem quem faça por ele, então só quem pode socorrer somos nós da família. As minhas cabras se ele precisar, eu vendo até a última.
Zé Geraldo saiu desconfiado, foi pra casa pegar o gancho para queimar xiquexique, para dar as cabras magras que estavam enchiqueiradas.
E vida na serra verde continuava tranqüila. A família Ciriaco toda voltada para os caprinos. Ninguém ficava parado, na fazenda serra verde ninguém tinha tempo para brincadeiras, a televisão e o trabalho era maior diversão daquele povo, principalmente Zé Geraldo, que trabalhava noite e dia. O velho Ciriaco andava meio adoentado, com fraqueza nas pernas, doença de velho mesmo.
Soprava um vento forte vindo do poente, arrastando poeira para dentro das casas, os pés de mato que ficavam no meio da caatinga se mexiam todos, sem uma folha, estavam todos secos, só os gravetos empinados para o céu. A família do velho Ciriaco estava todos apanhando vage de algaroba, para guardar, pra mais longe quando o verão estivesse mais brabo. O armazém estava meio de vage de algaroba e um pouco de milho para dar as cabras de leite, no verão só quem comia ração era as cabras paridas, que era quem sustentava a família dos Ciriacos.
D. Sebastiana tinha acabado de fazer os queijos daquele dia, sentou-se um pouco no alpendre para esfriar o calor, quando apontou na estrada barrenta, o rapaz do correio, calça azul e camisa amarela, vinha de bicicleta com uma sacola pendurada no ombro. Chegou-se perto de D. Sebastiana, entregou um envelope, despediu-se e foi embora. D. Sebastiana rapidamente abriu o envelope, tirou a carta, começou a ler. Uma leitura minuciosa, com paciência, e riso nos lábios, foi até onde estava o velho Ciriaco e relatou o teor da carta:
--- Meu velho acabei de ler uma carta de Tiãozinho, ele manda pedir sua benção, e diz que espera que todos estejam com saúde, pede mais dinheiro porque ele vai fazer um curso de Papa em Roma, esse curso é caro e a duração é de seis meses, diz que espera ser atendido, e que essa é a última vez que manda pedir dinheiro, porque, ele passando no curso de Papa, vai ganhar muito bem.
--- Mas Sebastiana ele vai ser Papa assim como João Paulo II?
--- Eu acho que sim, ele deve ficar no lugar de João Paulo II, quando ele se aposentar, o Papa está meio adoentado, capenga, eu acho que Tiãozinho vai ficar no lugar dele. Tiãozinho sempre foi danado, ora já vai ser Papa, com tão pouco tempo.
--- E Papa também se aposenta como nós, os véios? E o banco dá um cartão de plástico pra enfiar naquelas máquinas que cospe dinheiro, e uns números e umas letras – perguntou o velho Ciriaco.
--- Eu acho que sim, mas eu vou perguntar tudo direitinho ao rapaz do sindicato rural. Ele deve me explicar tudo explicadinho.
--- Bom Sebastiana, se você quiser perguntar pode perguntar, mas eu acho que Papa não se aposenta só com um salário mínimo não, eu acho que é mais.
--- Eu também acho. Mas como é meu velho, vamos mandar o dinheiro pra Tiãozinho?
--- De certo Sebastiana, se ele quer ser Papa temos que ajudar. Quantos bichos de bode vamos precisar vender, para ele ir para Roma?
--- Num sei meu velho. Mas eu acho que umas oitenta dá.
--- Quando Zé Geraldo chegar, diga que venha falar comigo.
D. Sebastiana foi para o alpendre da casa, ficou de olho na vereda, por onde Zé Geraldo apareceria com um dos rebanhos de miunça. D. Sebastiana estava num pé e noutro, Zé Geraldo não apontava. A velha torcia as mãos, nervosa. E pensava: um menino daquele á tão pouco tempo em Sum Paulo, já vai estudar para Papa, em Roma. Eu sabia da inteligência de Tiãozinho, eu sabia. Só não podia ficar gavando ele, o povo ia dizer que era coisa de mãe besta, por isso não dizia nada. Olha ai Tiãozinho vai ser Papa, menino nascido no pé da serra verde, Papa, pra todo mundo ver, e queimar a língua de Zé Geraldo, que só o chamava de desmantelado.
Finalmente Zé Geraldo apontou na vereda tangendo o rebanho de cabras, vinha com uma vara na mão, chapéu velho enfiado na cabeça, roupas rasgadas pelos espinhos e garranchos da caatinga, gritando para os bichos tomarem o caminho certo. Quando de repente viu o aceno da mãe, chamando-o, foi até o chiqueiro trancou os bichos, dirigiu-se até a casa do pai. Chegando no alpendre perguntou a mãe:
--- O que é Mãe?
--- Seu Pai quer falar com você.
Zé Geraldo entrou foi até o quarto, onde o pai estava deitado numa rede, perguntou:
--- Está me chamando pai?
--- Tô sim Zé Geraldo. Como é que estão os bichos solteiros?
--- Estão magueirão, numa época dessa, o senhor sabe muito bem que o pasto está seco, os bicho sofrem demais.
--- Tem como tirar oitenta pra vender?
--- Tem, mas pra quê?
--- É pra mandar o dinheiro para Tiãozinho, ir pra Roma, estudar pra ser Papa.
--- Papai, pelo amor de Deus, não vá na conversa de Tiãozinho, isso tudo é invenção dele, Tiãozinho não vai ser Papa coisa nenhuma, deixe os nossos bichinhos duplicarem, agora que nós estamos recuperando o rebanho, o senhor vai vender mais oitenta. Esse ano e meio que ele está em São Paulo deu um abalo grande na nossa criação. Ele só faz mandar buscar dinheiro, ajuda nenhuma, mande dize que não manda uma ruela, que ele se vire por lá.
--- Zé Geraldo, o seu pai está dizendo que venda oitenta bichos, a ordem aqui dentro dessa casa ainda é dele, faça o que seu pai está mandando, não discuta. Exigiu D. Sebastiana.
--- É pra vender mesmo pai?
--- É
Zé Geraldo com muita raiva escolheu os bichos mais cheios do corpo, e vendeu, foi entregar o dinheiro a mãe, que imediatamente enviou pelo banco.
Passaram-se mais de dois anos, nada de notícias de Tiãozinho, D. Sebastiana estava preocupada, por não receber noticias do filho caçula, ao todo fazia três anos e meio que Tiãozinho tinha partido, nunca mais tinha vindo na serra verde, também fazia dois anos que não escrevia para casa, a última vez foi quando ele mandou pedir dinheiro para ir para Roma fazer o curso de Papa. D. Sebastiana vivia magoada por falta de noticias do filho caçula. Não sabia se ele tinha terminado o curso que tinha ido fazer em Roma, nada o povo da serra verde sabia.
Os anos foram bons de inverno, o rebanho de caprinos da família Ciriaco tinha triplicado, a serra estava verde com muito pasto, água franca pra mais de dois anos. Zé Geraldo não tinha muita preocupação com os bichos, os filhos era quem tomava conta de tudo, o velho Ciriaco tinha parado de trabalhar, vivia dentro de casa vendo televisão, juntamente com D. Sebastiana. Todas as casas dos filhos do velho tinha energia, com televisão e antena parabólica, todos viviam tranqüilos naquele pedaço de terra, que vinha passando de pai pra filho e pra netos e pra bisneto. Só D. Sebastiana que todos os dias se ajoelhava aos pés de São Sebastião pedindo felicidade e proteção para o filho caçula que estava longe.
Chegou o final do ano e nada de noticias de Tiãozinho, e D. Sebastiana com esperança que a qualquer momento via o filho entrar de casa adentro vestido de Padre. D. Sebastião pensava dia e noite na volta do filho.
No final mês de março do ano corrente, houve uma exposição de Caprinos numa cidade vizinha, São Paulo do Potengí, Zé Geraldo foi a essa exposição à procura de uns reprodutores de linha, para diversificar a raça do rebanho, pois estavam cruzando pais com filhas e netas, estava nascendo muitos cabritos aleijados, então o médico veterinário aconselhou a fazer um refrescamento de sangue em seu rebanho. De volta a sua cidade, o carteiro lhe entregou um envelope grande pardo, Zé Geraldo ficou admirado, nunca tinha recebido uma correspondência daquele tamanho, só recebia papel do INCRA, papel para pagamento da energia da fazenda, mesmo assim levou pra casa, abriria depois, quando descarregasse os bichos que tinha comprado na exposição. Terminado o serviço do desembarque dos reprodutores, Zé Geraldo foi para casa. Pegou o envelope e abriu, dentro tinha uma carta perfumada, varias fotos de uma mulher linda de Biquíni fio dental, em varias posições. Zé Geraldo pensou consigo mesmo, quem danado é essa mulher que mandou essas fotografias para mim, se minha mulher pegar, me mata. Zé Geraldo pegou a carta com as fotografias e foi ler no chiqueiro das cabras. A carta começava assim:

Meu querido irmão Zé Geraldo.

Espero que todos daí estejam gozando de saúde, assim como eu. Estou lhe enviando esta pequena carta, com essas fotos para você avisar a mamãe, porque eu não tive coragem. Diga a ela que eu me realizei, resolvi sair do armário, agora eu sou travesti, resolvi assumir minha sexualidade. Diga também a ela que eu nunca fui para seminário nenhum, que aquela viagem para Roma para fazer o curso para ser Papa, foi tudo cascata minha. E que todo aquele dinheiro que ela me mandou foi muito bem empregado, fiz varias plásticas, Coloquei silicone no bumbum, também coloquei 320 ml de silicone nos seios, botei silicone em mais lugares como batata das pernas, coxas, botox no rosto, fiz uma plástica nos lábio para ficarem mais carnudos, fiz no nariz, fiz no queixo, diminui as orelhas, deixei o cabelo crescer e pintei de loiro agave, tomei muito hormônio feminino para delinear a cintura e alargar os quadris, coloquei unhas de porcelana, extrai todos os dentes, fiz um implante só com dentes de marfim, meu sorriso ficou lindo, só não fiz uma coisa, cortar o bilau, mas quem sabe, se na próxima operação ele não vai para faca. Hoje eu sou uma mulher de verdade, todo o dinheiro que ela mandou com a venda dos caprinos, não foi gasto atoa, foi muito bem empregado, sim eu já ia me esquecendo, não me chamo mais Sebastião Ciriaco de Medeiros, eu agora sou mais conhecida como Raissa Redford, Tiãozinho morreu para sempre. Diga também a ela que eu sou Atriz pornô, tanto faço ativo como passivo, artista não escolhe qual personagem que quer fazer, encara. Sim já ia esquecendo, no próximo mês vou até Juiz de Fora disputar a miss Brasil Gay, eu acho que tenho muitas chances de ganhar o primeiro lugar, se isso acontecer, mando para você algumas fotos do concurso.
Zé Geraldo eu mandei essa carta endereçada a você só para matar o seu piolho, você que tanto me atormentou, agora quero lhe mostrar que eu sou mais eu. Thauzinho Beibe.
Lembrança para todos
Raissa Redford

Zé Geraldo começou a ver as fotos, viu como Tiãozinho tinha mudado, era uma mulher perfeita, linda, nunca tinha visto uma mulher tão bonita daquele jeito, nem marca de barba tinha. Correu foi até onde estava a mãe, a chamou escondido, queria lhe mostrar uma carta que tinha recebido de Tiãozinho. E leu para mãe escutar, depois mostrou as fotos, D. Sebastiana olhou as fotos com bastante cuidado, devolveu as fotos para Zé Geraldo, que guardou rapidamente no envelope, e perguntou a mãe:
--- Mãe a senhora não vai dizer nada? Eu pensei que a senhora fosse chorar espernear, não, ficou aí tranqüila como se nada tivesse acontecido.
--- Eu não, eu já sabia de tudo!
--- Como á senhora sabia, ele mandou lhe dizer?
--- Não, eu vi pela televisão, no último dia de carnaval, num Baile chamado Galla Gay, que acontece no Rio de Janeiro, ele estava vestido dessa maneira.
--- Eu bem que dizia que ele tinha um jeito desmantelado, a senhora dizia que eu tinha marcação com ele, olhe ai no que deu, taí o curso que ele fez em Roma para ser Papa.
--- Cada um faz de sua vida o que quer, se ele escolheu assim, assim seja. Eu só não entendi uma coisa, ele diz que é ativo e passivo o que é isso Zé Geraldo?
--- Eu sei lá mãe, isso deve ser coisa de bicha.

O sapo da esperança

No ano de 1965, em plena campanha política em Natal, inventaram um sapo de lona verde que simbolizava o não fechamento da Lagoa Manoel Felipe, era o símbolo da campanha do então candidato a prefeito Agnelo Alves, Natal fervia com o sapo de lona verde dançando em cima do caminhão da Esperança, Agnelo ganhou a campanha para Prefeito de Natal. Essa campanha política em Natal foi muito acirrada, Era Agnelo Alves de um Lado e o Doutor Pedro Lucena do outro. A população Natalense cantava em coro queremos Agnelo e não Pedro Chinelo. O então partido do Doutor Pedro Lucena diziam que iriam fechar a lagoa Manoel Felipe e o sapo era para dizer que não, a lagoa não poderia ser fechada.
Nessa época Garibaldi Alves filho andava muito aqui em Pedro Avelino, e trouxe esse bendito sapo de lona verde para mostrar o povo daqui e de Afonso Bezerra, onde o pai dele tinha elegido os dois Prefeitos.
Garibaldi Filho parou a rural willis do pai em frente à Prefeitura, e pediu a Chico Locutor, que arranjasse uma pessoa para entrar no sapo de lona verde, para saírem em passeata na cidade de Afonso Bezerra e depois Pedro Avelino. Chico locutor saiu à procura, não encontrava ninguém, passando dentro Mercado Público falou com Zé Dutra, que concordou na hora. Acontece que João de Dionísio, irmão de Zé Dutra escutou a conversa, e disse:
--- quem vai dentro do sapo sou eu!
A confusão ficou formada, os dois irmãos começaram a discutir, cada um que quisesse entrar no sapo. Chico locutor levou a celeuma para Garibaldi Filho resolver. Garibaldi Filho conversou com os dois, disse: que cada um entrava no sapo, um faria a Passeata de Afonso Bezerra e o outro de Pedro Avelino. Não houve acordo. Apelaram para o pai dos dois, contaram para Dionísio batatinha o que estava acontecendo, Dionísio conversou com Zé Dutra e com João, não tinha acordo, Garibaldi Filho ficou numa sinuca de bico desgraçada, foi quando Chico Locutor teve a brilhante idéia:
--- Vamos fazer o seguinte, vocês dois vão pegar uma parelha de corrida, vão até a beira do rio correndo, e volta quem chegar primeiro aqui na frente da Prefeitura, é quem entra no sapo.
Os dois se emparelharam como cavalo de vaquejada, foi dada a partida, os dois saíram na carreira mais louca da vida, passando por dentro de buraco e a poeira cobrindo, chegou João de Dionísio preto de suor, Zé Dutra não agüentou, cansou, ficou por lá mesmo descompondo João. Então Garibaldi Filho disse para João de Dionísio:
---Vamos para Afonso Bezerra, lá você entra no sapo, damos uma volta na rua e voltamos para Pedro Avelino em passeata, o encerramento será aqui no meio da feira onde o nosso Prefeito eleito vai falar.
João de Dionísio não gostou de idéia, esbravejou:
--- Eu quero sair daqui já dentro do sapo.
--- Não João, esse sapo é muito quente, basta você entrar em Afonso Bezerra, está uma temperatura passando dos 38 graus, você não vai agüentar ficar esse tempo todo dentro desse sapo de lona, que é muito grossa. Você pode ficar desidratado, não faremos isso com sua saúde.
Não adiantou os argumentos de Garibaldi Filho, João de Dionísio queria sair dentro do sapo já de Pedro Avelino. Passava das ll horas do dia, colocaram João dentro do sapo de lona, fecharam o zíper que tinha na barriga do sapo, colocaram João dentro da rural de Garibaldi velho. João de Dionísio parecia o diabo sentado dentro da rural vestido de sapo. Partiram para Afonso Bezerra, onde a cidade em peso estava esperando aquela novidade, passava das l2 horas, o sol estava quente de tinir. Tiraram o sapo de dentro da rural e colocaram em cima, o sapo dava pulos danados, o locutor gritava:
--- O sapo está vibrando, que a Lagoa Manoel Felipe não vai fechar, vejam como o sapo vibra.
E o sapo pulava e dava saltos mortais, eram pulos grandes que parecia que era de circo. A rural rodando pelas ruas de Afonso Bezerra, o sapo arrastou gente dos confins da cidade, a zona rural veio toda para a cidade para ver a novidade. o locutor anunciava:
--- Vamos todos em passeata para querida cidade de Pedro Avelino. Pula sapo diz ao povo que lagoa Manoel Felipe não vai ser fechada.
Passava das 13 horas, as pessoas que estavam acompanhando o sapo em cima da rural, estavam pingando de suor, estavam todos esbaforidos com tanta quentura. Daqui a pouco o sapo deu uma pirueta no ar, e caiu de cima da rural, saiu pulando e caindo, pulando e caindo, o locutor gritava:
--- Há sapo vibrador danado, pula sapinho, pula sapinho.
Lá na frente o sapo caiu no chão, Era uma tremedeira mais infeliz do mundo, parecia que estava com maleita. Foi que chegou uma pessoa arrodeou, e falou:
--- Esse rapaz que está dentro desse sapo de lona está morrendo.
Quando abriram o zíper, que viram o estado de João de Dionísio, fazia pena, branco que parecia uma folha de papel, todo cagado, molhado de suor, jogaram uma lata dágua dentro do sapo, que quase mataram João de Dionísio estoporado, levaram João pra Natal entre a vida e a morte, passou mais de oito dias internado no hospital. E Zé Dutra dizia:
--- Achei foi bom, se fosse comigo não tinha acontecido isso, tomara que ele morra.