sábado, 20 de fevereiro de 2010

João Só

João, esse homem.
Cuja história vou contar
Nunca teve fama
Que se possa comentar
Nunca teve nome famoso
Comida na sua casa era raro
Tudo na sua vida era caro
Não tinha dinheiro pra ganhar
Nasceu no interior Nordestino
Vamos contar um pouco do seu destino


Naquele maldito ano, a seca se alastrou.
Perderam-se as lavouras, e o açude secou
Os animais morriam de sede e fome
E os urubus faziam a festa, do resto que sobrou
Quando João teve a maldita idéia:
Vou embora dessa terra, tudo já se acabou.



João amanheceu o dia, num desespero total.
Reuniu a família, e comunicou: vamos embora pra Natal
Vendeu o burro e a carroça
Os porcos as galinhas e o guiné
De serventia só ia levar, os meninos, os teréns e a muié.



Chegando na Capital, vou ter que lutar
Meus filhos terão comida
E escola para estudar
Terá água, terá roupa
Terá casa para morar.


Chegando na favela do fio
Pararam para dormir
Deitaram todos no chão
Sem nada pra se cobrir
Quando dormiram, dizia João:
Quero Sair daqui, antes do sol abrir.

Quando estavam todos dormindo
João olhou para a mulher com tristeza
Com a lida do dia a dia perdeu toda a beleza
Ficou velha de repente
Com a boca funda, perdeu até os dentes
A bunda ficou mole, e os ossos salientes
Era tão bela quando a conheceu
Dançando no forró de Zé Bartolomeu.


Logo cedo João acordou
E levantou a família
Vamos embora dessa maloca
Esse local não tem serventia
Vamos embora para outro lugar
Aqui é uma esculhambação
Não presta para morar, só tem vadiação.


Potiguara sua filha, pegou a mala
Poti seu filho o sacolão
Izabel sua mulher, a sesta de estimação
João pegou os pratos, as panelas e o fogão
Botaram tudo na cabeça
E saíram, sem rumo e sem direção.


Saíram de rua afora, sem conhecer a metrópole
Dizia João muito contente: talvez hoje desse sorte
Eu não vim pra Capital, para ter desilusão
Eu tenho que melhorar de vida
E dar a meus filhos, vida boa e educação
Quando deu por si, estava no lixão


João com a família catava papel e papelão
Era uma vida dura, morava em um barracão
E os anos se passavam, e era a mesma situação
Vivia com os olhos marejados, lembrando do sertão
Cadê as escolas, cadê a saúde, cadê a educação
Pobre não tem direito a essas coisas de barão.






Os filhos de João entraram no ritmo da sociedade
Queriam possuir os objetos da moda, com toda facilidade.
Diziam que queria sair do lixão para ter felicidade
Iam abandonar os pais, para viver em liberdade.



Potiara e Poti abandonaram o lixão
Arranjaram mal companhias, viviam na devassidão
Levavam a vida igual a um furacão
Potiara como puta e Poti como ladrão


Poti assaltava postos de gasolina
Roubava o dinheiro dos bancos
Matava gente, tinha uma mente assassina
Aquele menino bom virou meliante
Nem parecia aquele rapaz, pouco falante.
Não lembravam dos conselhos da mãe, nem do pai João.
E todos já diziam: vai acabar dentro do rabecão.


Potiara desinformada transava sem camisinha
Era uma desvairada, medo de nada ela tinha
Era uma morena alta, bonita e fogosa
Não dava importância, a doença contagiosa.
Talvez um dia fosse se arrepender
Não sabia ela, como a vida é gostosa.


A polícia quando chegava no barraco de João
Revirava tudo, das camas velhas, até o fogão
E ainda gritava alto: Onde está o seu filho ladrão!
Empurrava D. Izabel, e a chamavam de alcoviteira
Você também é safada, não venha conversar besteira
Quem tem filho ladrão, vai sofrer a vida inteira.



D. Izabel chorava com sentimento profundo
Meu Deus o que está acontecendo com minha família
Nasci para sofrer nesse mundo
Nesses dias a Polícia faz do meu filho um defunto.




Potiara ficava a noite inteira
Rodando do Alecrim a Via Costeira
Para pegar coroas, que pagava mais real.
Mas sua mãe dizia: Você ainda vai acabar mal


Potiara estava magra
Da vida que levava
Seca que só um graveto
A vida estava ruim, tudo lhe faltava
Uma noite na batalha, Potiara passou mal
Foi levada imediatamente, ao leito de um hospital
Feito todos os exames, veio à notícia fatal
Potiara estava com AIDS, em estado terminal.


Potiara estava tão fraca, que não agüentou a pneumonia
Morreu de AIDS, lhe botaram na pedra fria
João e D. Izabel liberam seu corpo
E sepultaram no outro dia
A mãe chorava e se lastimava:
Descansou da triste vida que vivia.


João voltou com D. Izabel
Para o barraco do lixão
E se lamentavam: não tivemos dinheiro nem pro caixão
Vamos esperar em casa, pela outra execução.


A polícia e Poti era igual a gato e rato
Poti se escondendo, achava tudo aquilo um barato
A cara de Poti estava nos jornais e na televisão
Era um homem marcado para morrer, não tinha outra solução
Poti com um revólver na mão era um verdadeiro Lampião


No tiroteio fatal, a polícia matou Poti em Felipe Camarão
Poti levou 42 tiros, um deles no coração
Juntou muita gente, foi aquela multidão
Assim termina todos bandidos com fama de valentão


Estirado no asfalto, em plena segunda-feira
Uma mulher cobriu o corpo de Poti, com um pedaço de esteira
Assim termina todos bandidos, sem eira e nem beira
Morreu um desajustado social, que fez da vida uma besteira.
João foi ao ITEP, ver o filho pela vez derradeira
Botaram o corpo de Poti, dentro da geladeira
João chorava ao vê o corpo do filho, furado igual a uma peneira
E dizia: Adeus meu filho, descansasse dessa vida cangaceira.


Poti foi sepultado como indigente
Só com a presença do pai, não tinha mais nenhum parente
Morreu mais um Nordestino, da injustiça social dessa gente
Não vai ficar só nesse, se não tiver alguém que tome a frente.


D. Izabel sentia-se desampara, naquele barraco vazio
Onde estava as suas crias? Que ela cobria em noites de frio
Cadê meus filhos? Que a violência não teve compaixão
Será que vale a pena, viver nesta triste solidão


Foi assim que D. Izabel
Ateou fogo na roupa
Como uma tocha humana
Saiu no lixão a correr
Quando chegou no meio do lixo
Caiu para morrer.


João disso tudo, tirou uma triste lição
Vou embora dessa cidade, vou voltar para o sertão
Nesta cidade tive perda totalTenho fé em Deus, que nunca mais piso em Natal.
CURTAS E RASTEIRAS

NA HORA QUE O PERINO ATRAPALHA

A esposa de Ulisses vivia queixando-se de dores, e precisava ir a Natal fazer uns exames. E Ulisses mandou a esposa a Natal para se tratar.
Quando a esposa voltou e disse a Ulisses:
--- O médico disse que tenho que fazer perino e suspensão de bexiga.
--- Ulisses disse: não tem problemas, vendo um garrote e mando você fazer o seu tratamento.
E a esposa de Ulisses foi a Natal fazer o tratamento. Depois de 3 meses que a mulher chegou, Ulisses procurou a mulher.
Na hora “H”?
Ulisses disse que o negócio ficou arrochado demais, não entrava de jeito nenhum, então Ulisses falou para mulher:
--- O culpado disso tudo sou eu, porque eu devia ter mandado a medida da grossura do meu cacete. Mas mesmo assim, eu vou lhe dar dinheiro novamente, você vai a Natal e diga a doutora, que pelo menos tire dois pontinhos, para esse negócio ficar mais folgado.

ZÉ SIMÃO E O EXÉRCITO

Mulatinho deu um terreno que possuía por trás da rua chamado Carnaubal de D. Albertina, para Zé Simão colocar seus animais, trocando em miúdos tomar conta, como dissemos em nosso linguajar.
Zé Simão era uma fera na administração do terreno. No inverno dentro do terreno formava um poço, que chamavam o poço de Zé Simão, os meninos iam tomar banho, Zé Simão colocava para fora na base do grito, corria menino para todos os lados. Não admitia que ninguém entrasse para tirar uma lenha, menino não podia apanhar vaje de algaroba, que ele não admitia, dizia: ele que os meninos acabavam com os arames das cercas. Ele tinha um trabalho árduo para colocar aquele terreno em dia.
Eis que em 1974, o Exército veio realizar exercício de guerra na cidade de Pedro Avelino, no que foi uma grande novidade.
A tarde toda população ficavam nas calçadas olhando o os soldados do Exército fazer as manobras de guerra.
Zé Simão sentado na calçada se torcia de raiva vendo os soldados pegando nas pontas da escada de sua cerca para pular, pisando nos arames, que os grampos voavam lá fora, cortavam galhos para fazerem camuflagem, os soldados faziam um rebuliço grande dentro do terreno. Zé Simão ás vezes entrava em casa para não ver o que os soldados estavam fazendo no seu terreno.
Num desses dias Zé Simão estava arrastando a cadeira para dentro de casa numa reclamação grande:
--- Vão acabar com minha cerca, quando eles forem embora só vai ficar trabalho. Eu queria que esses pestes já fossem para casa do diabo.
Quando ele estava reclamando, ia passando um menino que Zé Simão costumava colocar para fora do terreno, disse:
--- Zé Simão vá empatar dos soldados do Exército entrar no seu terreno.
--- Vá para P.Q.P filho de uma P.

PARADA DIFÍCIL DE BATER

Manoel Barbinha estava jogando baralho, e não batia uma parada, já estava ficando encabulado. Quando de repente pegou uma parada armada, em um par duplo.
Aí Manoel Barbinha disse:
--- Se eu não bater essa parada eu quero ser um Corno
Chico Rufino que também estava no jogo, respondeu:
--- Compadre Manoel Barbinha, você só diz isso porque sabe a mulher feia que tem em casa. (era um bicho).

O Presidente Comedor

Zé de Flôro era Presidente do Vasco da Gama de Pedro Avelino. Certa vez veio um time de João Câmara jogar em Pedro Avelino. Murilo que é da família dos Rufinos, também já tinha jogado aqui em Pedro Avelino, era quem chefiava o time de João Câmara.
Foram todos bem recebidos, não lhes faltaram nada, o time de João Câmara ficou abismados com o tratamento que lhe deram, e acharam o povo de Pedro Avelino muito hospitaleiros.
Em agradecimento pela boa estada, o time de João Câmara convidou o Vasco para jogar lá. Zé de Flôro que era o Presidente aceitou na hora. Marcaram data e dia dos dois times. Tudo acertado.
Chegando em João Câmara o nosso time foi muito bem recebido. Botaram nosso time numa casa, com duas cozinheiras para fazerem o almoço para Vasco de Pedro Avelino.
Zé de Flôro fez logo amizade com as duas cozinheiras, e Zé não saía da cozinha.
Chegada à hora do almoço, primeiro foi comer os jogadores e depois o resto da delegação.
Quando começaram a servir o almoço, Zé de Flôro não era jogador, mais se sentou na cabeceira da mesa. Zé almoçou com os jogadores, almoçou com o resto do pessoal, já tinha almoçado toda delegação, só ficou Zé de Flôro sentado à mesa pedindo comida. As cozinheiras uma com a outra:
--- Eu acho que Seu Zé vai adoecer, ele ainda não parou de comer.
E Zé de Flôro gritava:
--- Ainda tem um bodinho por aí.
E as cozinheiras trouxeram mais bode para Zé e comentavam:
--- Meu Deus, Seu José vai adoecer, ele comeu demais, não tem mais nada nas panelas, ele tomou até o caldo da buchada com farinha, e ainda está pedindo comida, vou oferecer a ele um chazinho de boldo a ele.
Uma das cozinheiras se aproximou de Zé de Flôro, e perguntou:
--- Seu José, o senhor quer um charzinho de Boldo?
Zé respondeu:
---Só se for com pão doce.

O Pastoril

Luiz Inácio casado de novo com minha Tia Alice, no sábado se enfronhou todo para ir ao pastoril de mané paeta, que ficava na rua velha.
Tia Alice disse:
--- Luiz para onde tu vai, quem boa Maria faz, na sua casa está em paz.
--- Eu vou dar só uma olhada, e volto logo. E também porque casei não vou ficar chocando os ovos dentro de casa.
O pastoril corria solto, dançava o cordão azul, depois o cordão encarnado. Lá pras tantas pegaram uma briga, deram facada em gente, houve um tiroteio, foi bala para todos os lados.
Luiz Inácio que era mais frouxo que areia de rio, fez carreira para casa, corria mais ligeiro do que vento, chegando no alto da Igreja foi logo gritando:
--- Alice ABRA BALA QUE LÁ VEM PORTA COMO O DIABO.

O CORONEL E O PEIDO

O coronel Bonifácio Gouveia era um dos homens ricos da região Central do RN, possuía uma fazenda, na época Vila de Gaspar Lopes, hoje Pedro Avelino. Sua fazenda chamava-se Bela Vista, com grande criação de gado e, miunças, e grandes safras de algodão mocó.
O coronel Bonifácio Gouveia era um homem educado, prestativo e caridoso, muito considerado em toda região.
Lá para o idos de 1897, o dito cujo coronel, foi convidado para um casamento de grande cerimônia, onde seria um dos padrinhos.
Houve a cerimônia do casamento, e todos os convidados ilustres foram para a casa grande onde aconteceria o almoço. Na sala estava uma mesa grande, composta de licores e bebidas variadas, todos tomariam uns drinques e serviriam o almoço, de galinhas e perus torrados em tachos de barro. Tinha umas quarenta pessoas ao redor da mesa, quando estavam nos brindes, uma das moças que estava ao lado do coronel Bonifácio Gouveia, deu um peido, desses de arrasar quarteirão, todos olharam para ela, com cara de desdém, o coronel vendo a moça com bastante vergonha, o coronel tomou o peido para ele, e falou:
--- Amigos peço desculpas a vocês pelo que aconteceu agora, isso só aconteceu porque sofro do intestino, e quando passo muito tempo sentado, fico com muitos gases presas, saiu sem eu querer, por isso peço mil desculpas.
Todos entenderam a situação do coronel Bonifácio Gouveia, e o desculparam.
No outro dia a moça que deu o peido, em agradecimento, mandou de presente um peru gordo para o coronel Bonifácio comer.

LEITE COM SAPO NÃO DÁ CERTO

Nos idos dos anos 80, o BANDERN estava cheio de clientes, quando de repente entra Deca da Volta com uma panela com leite nas mãos, dizendo:
--- Assim não dá, vou deixar de comprar leite a você.
--- O que aconteceu Padinho? Perguntou Titiu.
--- O seu leite está cheio de sapo de rabo!
--- Não é possível. Vou falar com Cordeiro, e o colocarei para fora.
Titiu saiu apressado do Bandern, onde trabalhava, a procura de Cordeiro, e o encontrou na Farmácia de D. Mariinha.
--- Que merda é essa que você fez Cordeiro?
--- O que Titiu?
--- O leite que você está trazendo de Lajinha está cheio de sapo de rabo, Deca da Volta foi mostrar o leite lá no Banco, estava cheio de clientes, fiquei morto de vergonha.
--- Titiu não fique com raiva, eu só queria lhe ajudar com um pouquinho de água do riacho. Justificou-se cordeiro.

ESTÓRIA DE CAÇADOR

Estava eu na minha residência, lendo um livro extraordinário, que não levantava da rede nem para ir ao banheiro. Naquele sábado estava sem apetite para tomar aguardente. Quando de repente o danado do telefone toca (detesto telefone), não atendi, a minha mulher partiu lá dentro reclamando que eu estava perto e não atendia, nem dei ouvidos, não gosto de telefone mesmo. Por parte do diabo quem estava do outro lado da linha, era o indefectro do Tarcísio Eimar, fazendo um convite irrecusável:
--- Eimar quer falar com você. Disse a minha mulher
--- Diga aí mago!
--- Manoel Estamos lhe convidando para comparecer a cacimba de Rômulo da usina, para passarmos a par na lama.
--- Mago, estou lendo o livro de Nei Leandro de Castro, As pelejas de Ojuara, é putaria que da gosto. E hoje não estou com apetite para brincar de ficar embriagado.
--- Home venha, se eu lhe disser o que tem de tira gosto, você nem imagina.
--- Eu sei de sua estórias fantasiosas, mas diga o que tem.
--- Veja só Manoel o que tem: Cachaça Caranguejo com a tampa enferrujada, vinda diretamente de São José dos Angicos, Umbu da melhor qualidade vindo diretamente da fazendinha de Rômulo. Sardinha manteiga, bem tostadinha trazida diretamente da praia de Iracema no Ceará, e para complementar, ova de Pirarucu importada do Rio Amazonas, detalhes: essas ovas chegaram sexta-feira via SEDEX.
--- Está certo mago vou pra ir.
--- Eu sabia que você não recusaria um convite desse.
Tomei um banho ligeiro botei a mulher a tiracolo, partimos para a cacimba onde meus colegas já bebiam desde as dez horas da matina. Essa dita cuja cacimba, fica situada na área da casa de Rômulo. A praça da cacimba estava repleta, o conclave de biriteiros estava completo, não faltava ninguém. O gado estava com muita sede, tinham passado a semana em recesso, todos estavam tomando uma cima da outra, bebiam como quem estava roendo, já tinham secado duas garrafas, os cascos estava no canto da parede.
Na cacimba estava duas mesas juntas, em cima dessas mesas colocaram: uma garrafa de cachaça caranguejo com mais de trinta anos de idade, com a tampa toda enferrujada, se desmanchando.
Ao redor das mesas estava formado o conclave de cachaceiros: Ademir, Laécio, Rômulo, Antonio de Aristides e Tarcisio Eimar, (o magro). Jogando por fora estavam, as esposas dos biriteiros, Dulciene, Gildenora. Eu contrariado logo me abarraquei, e Auxiliadora minha mulher também.
Ao redor de todos ficava num vai-e-vem danado limpando as mesas, num requebrado mais infeliz do mundo, trazendo tira gosto e fazendo todos os recados, um Gay de primeira viagem chamado JOSA, vestindo uma roupa toda danada de arrochada, principalmente a calça colada e uma blusa estampada, brinco de argolas grandes e cabelos loiros batendo nos ombros, este rapazinho alegre, atende pelo codinome de Bárbara. Essa bichinha é um docinho de pessoa, delicado e prestativo, toda hora oferecia alguma coisa as damas presentes.
E tocamos o pau na cachaça caranguejo, tomamos uma garrafa, mais outra, mais uma, depois sujamos com cerveja, bem geladinha, dessas de doer nos dentes. Aí como dizia a finada minha mãe: todos cachaceiros são mentirosos, pode ser da pessoa mais pobre ao Presidente da República, inclusive meu filho quando está melado.
Laécio estava mentindo tanto, que não tinha panderista que o acompanhasse, Ademir também contava das suas, e eu não ficava atrás contava as minhas também.
Nessas alturas Heriberton mais conhecido como Belo, com a cara toda amarrotada de cachaça, passou disse uma graça, ninguém lhe deu atenção para jogar no time, ele saiu de fininho. Maria Antonia a patroa do mago Eimar, fazia seus golzinhos escondido para o mago não ver, já estava triscada, com um umbu na mão esquerda e o cigarro nos dedos da mão direita.
Estava uma festa, cada biriteiro que quisesse contar uma mentira mais extraordinária do que o outro. Todos falando de uma vez só. Varela chegou pedindo dinheiro para comprar pilhas para um radio, Rômulo deu-lhe dois reais, o biriteiro foi embora, ficamos levando aquele papo sadio que costumávamos implementar todos os sábados.
No meio dessas mentiradas toda, Tarcisio Eimar foi contar uma de suas estórias acontecidas na sua terra Natal, Santa Cruz do Inharé, Eimar jura por tudo que é sagrado, que essa estória é verdadeira, e que tudo foi na sua infância. O mago quando começa a mentir, é fogo, o que ele mente numa hora, macaco não pula em um ano.
Assim começou Eimar.

Isso aconteceu em 1940. Morávamos na zona rural de Santa Cruz, num lugarejo onde tinha poucos habitantes. Vizinho a minha família morava dois amigos que caçavam juntos há bastante tempo, eram amigos mesmo, eram unha e carne, viviam como dois irmãos, qualquer coisa que acontecesse com um, o outro estava presente para dar a assistência devida como fazem todos os amigos de verdade. Um certo dia saíram para caçar.
O dia tinha amanhecido ensolarado, o céu estava limpo como o véu de Maria. Os dois muniram-se dos apretechos de caça, espingarda de soca, facão, cabaço com água, rapadura e farinha, foice e munição (chumbo, pólvora, bucha de corda e espoleta). Saíram os dois estrada afora, o sol estava quente de tinir, e os amigos dentro da mata a procura de algum bicho. Passaram no açude do alívio, molharam a cabeça, tornaram a encher os cabaços com água fria. Entraram na mata novamente, e nada, naquele dia não estavam com sorte. O sol estava perto de se pôr, e nada, a água tinha acabado. Os dois amigos estavam preparando-se para voltar para casa, quando um dos caçadores afastou-se um pouco para urinar, escorou-se num pé de jurema preta, abriu a braguilha, e de dentro das calças puxou, como diz Gordo Maciel, o pênis. O caçador de pênis de fora, dava aquela mijada gostosa, que faz aquele cacho de espuma na areia fofa, e salpica pingos de mijo em cima das botas. Quando de repente, uma cobra cascavel dessas novinhas, saiu de dentro do oco que tinha no tronco da jurema, que o caçador estava escorado, picou a cabeça do pênis do caçador, (segundo o filosofo Gordo Maciel, o nome não é cabeça, é glande). O pobre homem contorcia-se em dores na cabeça, (Em tempo) da glande do pênis machucada, o amigo chegou em socorro:
--- O que aconteceu?
O ferido contou o ocorrido, pediu ao amigo que saísse imediatamente a procura de socorro. Mesmo assim fez o amigo. Saiu louco por dentro da mata a procura de alguém para pedir um remédio ou algo parecido para salvar o amigo que estava mordido de cobra. Encontrou um velho sentado na frente de uma cabana, contou-lhe o ocorrido, só não disse onde tinha sido a picada da cobra. O velho prontamente ensinou ao caçador como ele iria fazer para livrar o amigo da morte, e o velho ensinou:
--- No local onde a cobra picou você dar um cortizinho de nada, quando começar a minar sangue, você chupa, até tirar a última gota do veneno que a cobra injetou. Se você não fizer isso, o seu amigo vai morrer, agora você tem que chupar muito e ligeiro, senão o veneno toma conta do corpo do seu amigo.
Nessas alturas todos estavam estupefatos com a estória cultural que Eimar estava contando, o silencio tomava conta de todos, era um silencio sepulcro, todos querendo saber o final daquela aventura. Eimar parou de contar o ocorrido, e delicadamente pegou a garrafa de caranguejo, colocou uma dose, jogou na garganta, e imediatamente empurrou uma colherada de ova de pirarucu vindo do Rio Amazonas, de goela abaixo. E Eimar fazendo cera com a estória para ver a pressão da galera.
Laécio já puto da vida, gritou:
--- Termina logo a porra dessa estória.
Josa de codinome Bárbara, também incomodada dizia:
--- Também Eimar quando começa uma estória, só falta não terminar.
Eimar elegantemente disse:
--- Continuando – O caçador voltou para onde estava o amigo, onde o encontrou de pernas abertas, com o pênis em estado fetal. O ferido perguntou:
--- Achou o remédio?
--- Encontrei um velho numa cabana lá em cima. Ele disse que você vai morrer.
Escutando a estória com bastante atenção, estava Bárbara, que imediatamente retrucou:
--- Que maldade, se eu estivesse lá, esse homem jamais teria morrido.
Dizendo isso, Bárbara deu uma rabanada, e foi para a cozinha para trazer mais um prato de umbu.
--- Pode acreditar, que tudo isso foi verdade, eu não sou homem de mentira.

DOUTOR LUIZ BRAÇO DE RADIOLA NÃO É MOLE

Quando começaram a fazer o asfalto de Pedro Avelino para Afonso Bezerra, Luiz braço de radiola trabalhava na frente de emergência. O Prefeito tinha decretado estado de calamidade pública, por causa da seca, por isso Luiz braço de radiola estava trabalhando nas frentes de emergência.
No dia do pagamento da emergência Luiz estava numa fila no sol quente para chegar sua vez de pegar o dinheiro.
Nesse mesmo dia tinha uma grande festa na cidade de Afonso Bezerra, Luiz braço de radiola enfronhou-se todo, e tirou para festa. Chegando na festa sentou-se puxou uma cadeira que estava perto de uma mesa e sentou-se, pediu um litro de Campari, e colocou uma carteira de cigarros do mais caro do lado do litro de bebida.
Logo tirou uma garota para dançar, e convidou para sentar em sua mesa, ela logo que aceitou, e trouxe mais três colegas.
Luiz meteu o pau a conversar, dizia as meninas que era Engenheiro da empresa que estava fazendo o asfalto de Pedro Avelino a Afonso Bezerra, e que também tinha uma fazenda no Riacho do Meio. Isso era um domingo, e as convidou para ir até sua fazenda qualquer dia.
No outro dia as meninas vieram à procura de Doutor Luiz, vieram em um carro novo à procura de Doutor Luiz, uma delas vinha dirigindo.
Zequinha passava uns dias na casa do seu sogro Antonio Maciel, quando chegaram as quatro meninas num carro, e perguntaram a Zequinha que estava no alpendre:
--- O senhor sabe onde é a entrada da fazenda de Doutor Luiz?
--- Doutor Luiz, por aqui que eu conheço tem Doutor José Marins e Douto José Antonio, aqui no Riacho do Meio, eu não conheço nenhum Doutor Luiz. – disse Zequinha.
--- Mas esse Doutor Luiz que estou falando, é engenheiro, ele tem os olhos verdes e também um braço torto, o cabelo dele é fino, caindo em cima dos olhos, e é também engenheiro desse asfaltamento que estão fazendo lá em baixo. Disse as meninas.
Foi aí que Zequinha manjou a estória:
--- Já sei quem é, vocês vão por está estrada, lá embaixo estão fazendo um barreiro, Doutor Luiz está lá administrando.
Quando as quatro meninas chegaram lá no barreiro, Luiz braço de radiola, estava preto de suor, camisa rasgada nas costa, sandálias havaianas com uma tira preta e outra vermelha, carregando barro num carro de mão para colocar na parede do barreiro.
As meninas quando viram Luiz naquela lástima, deram ré no carro, e saíram ciscando pneus. No caminho Zequinha encontrou com elas e perguntou:
--- Acharam Doutor Luiz?
Elas olharam bem para cara de Zequinha e disseram:
--- Você parece que é besta.
Zequinha ficou rindo, e elas encheram o mesmo de poeira.

CADERNETA ESCOLAR VIROU PAPEL HIGIÊNICO

Auxiliadora minha mulher era Secretária de Educação e Dôdora supervisora da merenda escolar da zona rural.
Certo dia saíram as duas visitando as escolas rurais, chegando no Olho D’água velho, onde o professor era Chico Constâncio.
--- Chico como vai a distribuição de merenda por aqui? Os meninos estão comendo bem? – perguntou Dôdora.
--- Aqui é tudo tranqüilo Dôdora, os meninos estão uma fera na leitura, eu tenho muito cuidado com a merenda deles.
--- Chico, deixe eu dar uma olhada na caderneta escolar, quero ver a freqüência dos alunos e as notas. – pediu Auxiliadora.
Chico se aperriou, corria para um lado, corria para outro, abria gavetas, fechava gavetas, e não encontrava, dentro do armário também não estava, dentro do guarda-roupa, também não. Perguntou a esposa ela também não sabia.
Quando de repente Chico saiu de carreira para um cisqueiro que tinha por trás da casa, e começou a juntar pedaços de papéis.
Lá vinha Chico de cabeça baixa, com as mãos cheia dos pedaços da caderneta escolar.
--- O que é isso Chico?
--- É a caderneta escolar Auxiliadora, esses meus meninos são muito danados, não acharam jornal por aqui, limparam a bunda com a caderneta
.

Bolacha de Leite

Isaura fazia bolacha de leite para vender e também distribuía no comércio e nos cafés de dentro do mercado.
Isaura fumava cachimbo, e com o dito cujo na boca, escorrendo a baba no canto da boca, confeccionava a iguaria para distribuir. Alguns quando chegavam para comer a bolacha, perguntava de primeiro: - É de Isaura? – alguns não comiam.
Certo dia Isaura estava com vontade de comer bolacha de leite, chamou um menino seu vizinho e disse:
--- Menino vá comprar por aí, cinco bolachas de leite, que estou desejando comer. Só não compre das minhas.

Antonio Cabralzinho e os Santos

Padre Antas mandou refazer o emadeiramento da Igreja de São Paulo, pelo mestre de carpintaria Antonio Cabralzinho.
Padre Antas da casa paroquial escutou o barulho dentro da igreja, e partiu para Igreja ver o que estava acontecendo. Antonio Cabralzinho estava quebrando o emadeiramento e a poeira cobrindo por cima de tudo, quando Padre antes viu aquela poeira cobrindo os santos gritou:
--- Mestre Antonio, devagar! Você está cobrindo os santos de poeira.
--- Eu só sei trabalhar assim, se não quiser que eles levem poeira, tire suas merdas de dentro da igreja.

Amor Sem Limite

Seu Antonio Tomáz pegou Zequinha e botou para estudar em Natal, mas acontece que Zequinha estava namorando Aninha Maciel que morava na casa de D. Lourdes. Hoje Aninha é esposa do dito cujo.
Zequinha saiu de Pedro Avelino apaixonado, foi estudar em Natal e morar na casa do estudante. Certo dia foi até a hospedaria Central à procura de algum conterrâneo para saber notícias de sua terra, era uma sexta-feira.
Chegando na hospedaria central, lá estava o caminhão de Ranulfo Costa, saiu procurando Ranulfo, e o encontrou.
--- Seu Ranulfo vai para Pedro Avelino hoje?
--- Daqui a pouco. – respondeu Ranulfo.
--- Dá para me levar?
--- Claro!
--- Vou buscar minha bolsa e volto já.
--- Venha logo, quero sair daqui para as 12 horas.
Zequinha saiu voando para casa do estudante pegar a bolsa, e dizia consigo mesmo: ainda hoje vejo Aninha, passo o sábado e o domingo com ela, e volto na segunda feira no trem.
Zequinha fez tudo às pressas, nem almoçou, e chegou na hora marcada.
--- Já cheguei seu Ranulfo!
--- Tá certo Zequinha, daqui a pouco vamos sair.
E Zequinha pensava, tomará que quando chegar em Pedro Avelino Aninha ainda esteja acordada. E ás horas começou a passar, e deu 12, 13, 14, 15, 16 horas, e Zequinha esperando viajar para ver a amada.
Daqui a pouco chegou Ranulfo e falou:
--- Olha Zequinha, eu tinha que receber um dinheiro de um algodão aqui em Natal, mais agora que vieram dizer que tenho que ir receber esse bendito dinheiro em Baixa Verde (Hoje João Câmara). Nós vamos até lá, eu recebo o dinheiro, e vamos embora, de 2 hs da manhã nos estaremos em Pedro Avelino, certo?
--- Certo! – respondeu Zequinha.
Na boleia do caminhão pensava: hoje não, mais amanhã eu vejo Aninha.
Chegando em Baixa Verde, Ranulfo foi até a Usina receber o dinheiro. Mais soube da péssima notícia, que o gerente da Usina só chegaria ao meio dia, do dia seguinte (sábado).
Ranulfo saiu da Usina desconsolado, e foi procurar Zequinha.
--- Zeca, o gerente só chega ao meio dia de amanhã, aí eu recebo o dinheiro e nós vamos para Pedro Avelino, lá pras 6 horas, estaremos chegando, certo?
--- Certo, respondeu Zequinha.
Dormiram em Baixa Verde.
E Zequinha pensando: eu chegando de 6 horas, ainda dar tempo para ver Aninha, e ainda passo o domingo com ela.
Amanheceu o dia e Ranulfo tirou para Usina, esperar o gerente. Depois de meio dia, lá vem Ranulfo da Usina, cabeça baixa, mais animado, e falou:
--- Zeca, meu filho é o seguinte: o meu dinheiro houve um engano com ele, e mandaram para Santa Cruz, se sairmos agora, chegaremos Já, já lá, aí eu recebo o dinheiro e de madrugada estaremos em Pedro Avelino, tem algum problema Zeca?
--- Nenhum! – respondeu Zequinha.
Tiraram para Santa Cruz, onde Ranulfo receberia o dinheiro do algodão.
E Zequinha pensando: eu chegando de madrugada, ainda passo o domingo com Aninha, eu não vejo a hora para beijar Aninha, faz muito tempo que não a vejo.
Chegando em Santa Cruz, era 6 horas da noite, Ranulfo mandou parar o caminhão na porta da Usina, e desceu para receber o dinheiro, e logo voltou.
--- Bem Zeca, o gerente foi a Natal, e só volta amanhã cedo, nós vamos dormir aqui, e amanhã bem cedinho vamos embora, lá para as 10 horas, estaremos em Pedro Avelino, certo?
--- Certo! Respondeu Zequinha.
Zequinha, Ranulfo e o motorista, foram todos dormir no hotel.
Zequinha não conseguia dormir, só em pensar que amanhã ia ver Aninha, isso vali qualquer sacrifício.
Amanheceu o dia, e Ranulfo foi a Usina, e o gerente ainda não tinha chegado. Passaram o dia por Santa Cruz, andando de um lado para o outro, e Zequinha, só pensava em Aninha.
Quando de 6 horas da noite do domingo, o gerente chegou, Ranulfo foi lá e recebeu o dinheiro.
--- Bem gente vamos jantar, e depois vamos embora para Pedro Avelino. Disse eufórico Ranulfo.
E saíram para Pedro Avelino, as estradas eram ruins, ainda não tinha asfalto, era barro bruto, chegaram em Pedro Avelino às 4 horas da manhã da segunda feira.
Zequinha só fez saltar do caminhão, ir em casa tomar abença a D. Carminha e a Seu Antonio Tomáz, pediu o dinheiro da passagem do trem para Natal, e se mandou para estação.
Zequinha passou o final de semana passeando com Ranulfo e não viu Aninha, amor assim só o de Roberto Carlos.
É mole ou quer mais......

A Lingua Malvada de Zé Braulino

O meu avô Zé Braulino quando chegou das bandas das Minas Gerais, morou na casa de todos os filhos, brigou com todos, não se dava com ninguém, o velho e ranzinza todo.
Findou indo morar na casa de minha tia Alice, pintando e bordando. Certo dia tia Alice pegou ele escondendo dinheiro de um jeito inusitado. Pegava o lenço abria, colocava o dinheiro no meio do lenço, dobrava, tirava a calça e cueca e amarrava o lenço com o dinheiro no tronco do pênis, depois vestia a cueca e calça e se deitava na rede dizendo mal criação com todos que passavam. Dizia ele que escondia o dinheiro daquele jeito para ninguém roubá-lo.
Um dia o seu amigo Sebastião Inácio foi fazer-lhe uma visita, perguntou-lhe:
--- Como vai Zé Braulino?
--- Mau, muito mau Sebastião, aqui nessa casa ninguém presta, esse seu irmão Luiz Inácio, não vale merda, eu estou sofrendo que só Deus sabe, vivem tudo aqui atrás de roubar o meu dinheiro, não me dão de comer, eu estou passando uma grande necessidade, estão doido que eu morra.
Tia Alice estava costurando, escutou toda a conversa, levantou-se da máquina e disse:
--- O que é que o senhor está dizendo papai?
--- Nada Alice, eu só disse a Sebastião Inácio que vocês são muito bons para mim, principalmente Luiz irmão dele, que aqui não me falta nada.





A Cerca de Seu Manoel Soares

Mulatinho contratou Seu Manoel Soares para fazer uma cerca na fazenda Condado. Todos os dias Seu Manoel Soares, saía bem cedinho para trabalhar na cerca só voltava á tarde, a viagem de ida e volta dava umas quatro léguas. E ele ia a pé.
Num desses dias Seu Manoel saiu cedo e chegou para trabalhar na cerca, quando começou a esticar os arames, chegou o administrador da fazenda de carreira e disse:
--- Seu Manoel Soares, pare, hoje aqui nos temos ordens de Seu Mulatinho para ninguém trabalhar. Hoje é dia de Santa Luzia.
--- Puta que pariu, nem me lembrei, que hoje é o dia da rapariga da Santa Luzia, e os besta não trabalham. Complementou Seu Manoel Soares.

A Carona do Seu Justino


Seu Justino era conhecido por não dar carona a ninguém, todos os domingos de três horas da manhã, saía para o distrito de Baixa do meio, fazer o pagamento dos funcionários da sua fazenda Santa Helena. Na camioneta só ia ele e Mauro curto que era o motorista. Quando alguém perguntava:
--- Seu Justino, dá para me levar?
--- Não, já vai cheio.
--- Como cheio só vai o senhor e o motorista?
--- E num vai cheio, eu Mauro e eu, Mauro e eu e Mauro, eu Mauro e eu. Já está cheio não cabe mais ninguém.
Mas certo dia Cacheado que morava em córregos ficou esperando pela saída de Seu Justino na Praça do Cruzeiro, que ficava perto da casa do dono da camionete.
Seu Mauro passou e foi pegar a camionete que ficava numa garagem que ficava no centro da cidade, perto da Prefeitura.
Seu Mauro chegou e ficou esperando a saída de Seu Justino, Cacheado foi até onde estava seu Mauro, e perguntou:
--- Mauro será que seu Justino me leva até córregos?
--- Não sei, só com ele.
Apareceu Seu Justino no portão, pasta embaixo do braço, abriu a porta da camionete e entrou, Cacheado se aproximou e falou:
--- Seu Justino da para me levar até Córregos?
--- Não dá, já vai cheio.
--- Como cheio, só vai o senhor e Mauro.
--- E então, vai eu Mauro e eu, Mauro e eu, eu e Mauro. Por isso não dá, e mesmo assim eu vou para Caicó.
--- Eu também vou, tenho coisas para resolver em Caicó. Disse Cacheado.
--- De Caicó vou até Areia Branca.
--- Eu tenho uns primos que moram em Areia Branca, vou visitá-los. Disse Cacheado.
--- De Areia Branca eu vou Direto para Natal.
--- Eu também preciso ir a Natal, tenho parentes lá.
--- Em Natal eu vou passar dois dias.
--- Pronto dar certinho pra mim, que vou visitar todos os parentes. Disse Cacheado.
--- Vai sobe. Disse Seu Justino muito aborrecido.
Cacheado subiu na camionete e rumaram para Baixa do Meio, chegando em córregos Cacheado desceu e perguntou:
--- Quanto é Seu Justino?
--- Pague a Mauro.
--- Há Seu Justino, Mauro é meu amigo, a ele eu dou só um aperto de mão.
Rodeou a camionete foi até onde estava Seu Mauro deu um aperto de mão e foi embora.
Seu Justino saiu reclamando, dizia: por isso que eu não gosto de dar carona.

A Balança Mimosa

Ranulfo Costa foi um dos grandes comerciantes de Pedro Avelino, fornecia mercadoria para os proprietários de terra, e no final do ano recebia em algodão.
Ranulfo comprava algodão em toda região, tinha uma balança chamada MIMOSA que era o terror dos agricultores. A balança era feita de madeira, na frente tinha um quadrado de madeira, pendurado nas correntes que era para colocar os pesos.
Quando Ranulfo chegava no caminhão, dirigido por João Bumbum, que descia a balança, os agricultores ficavam todos se tremendo com medo da tal balança.
Certo dia Ranulfo comprou algodão dos moradores da Fazenda São Pedro, e a carga vinha muito alta, colocaram MIMOSA amarrada lá em cima. Como a estrada era muito ruim, tinha muitos buracos, a balança ficava balançando, e Ranulfo dizia:
--- Cuidado João para MIMOSA não cair.
Já chegando perto do Alto da Cachorra, João Bumbum, foi livrar um jumento que estava na estrada. MIMOSA se desequilibrou caiu lá de cima, quebrou-se toda, ficou só os pedaços de tábuas espedaçadas.
Nessas alturas vinha da rua, um dos moradores da Fazenda São Pedro, Chico Zeba, viu MIMOSA toda espatifada, e saiu a galope num jumento para contar a novidade na comunidade.
Quando Chico Zeba contou o acontecido ao povo de São Pedro, todos ficaram radiantes de alegria com o fim trágico de MIMOSA.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

O Caçador de Tartaruga

Um dia desses, num ano desses, não sei dizer quando foi, só sei dizer que chega mais um povo para residir em Pedro Avelino proveniente da cidade de Serra do Mel. E a família de Qéqé, que já tinha pai e mãe e irmãos residindo na rua Odilon Cabral.
A família de Qéqé era composta de Dona Graça, esposa, três filhas e dois filhos, o mais velho chama-se Herondi, a mãe era fã da dupla Jane e Herondi que fez muito sucesso nos anos setenta com a musica não se vá.
Herondi pelo seu porte físico, recebeu imediatamente pelos amigos que fez na escola o apelido de tartaruga, pequeno, pescoço enterrado nos ombros, atarracado e caminhava curvado para frente, de longe parecia um cágado, mais o apelido que pegou mesmo foi o de tartaruga. Ele não tinha problemas com o apelido, com ele não tinha stresse, até os pais e toda família adotaram o apelido numa boa. Só que tartaruga tem um problema grave, os seus ossos são fracos, qualquer pancada que levava quebrava um osso. Certa vez jogando bola, caíram por cima dele, danificaram três costelas do desgraçado. Outra vez tartaruga passeava de bicicleta perto da linha do trem, quando de repente um jumento vinha desembestado atrás de uma jumenta para transar, foi só no que deu, atropelaram tartaruga com bicicleta e tudo, pisaram no quadril do infeliz, quebraram o osso do patim, lá vai uma porrada de tempo sem o anfíbio poder andar. Com um bom tempo começou andar, puxando por uma perna, ainda hoje anda mancando, mas com tudo isso leva a vida numa boa, rindo de todos com a cara redonda parecida com um prato de sopeiro.
Tartaruga era menino safado, nunca ligou para nada, tudo para ele estava bom. Abandonou os estudos para trabalhar com o tio dele chamado Marcos na matança de animais, virou marchante. Era a graça do matadouro público puxando por uma perna. Misturado-se com a turma de marchante aprendeu a tomar cachaça e a jogar baralho e a raparigar, toda qualidade de safadeza tartaruga aprendeu. Mas um belo dia conheceu Rosa e casou-se, tiveram filhos e tartaruga controlou a vida, parou com as safadezas que tinha aprendido.
Em todos matadouros das cidades do interior, existem mulheres que limpam fato de gado e buchadas de miunças, no matadouro de Pedro Avelino não é diferente, existiam cinco mulheres. No meio dessas mulheres tinha uma que tartaruga era tarado por ela, mas tinha um problema sério, ela era casada, só que tartaruga não estava nem ai, dava em cima dela a todo o momento, dava-lhe de presentes, pedaços de fígados, carne de primeira, costelas gordas. Ela sempre dizendo que era casada e não podia trair o marido, só que recebia os presentes. Tartaruga passou meses atentando Sandra, esse é o nome da dita cuja. Tartaruga sempre dizendo:
--- Vou esperar a vida de um burro, mas te como meu cartuchinho.
Sandra saía rindo com um short muito curto e apertado.
--- Ainda passo por cima de você danada, nem que seja a última coisa da minha vida, mais comer eu te como.
E as tentativas do anfíbio eram em vão, mas ele não desistia, perturbava demais aquela presa difícil de ser conquistada. Às vezes Sandra estava de cócoras lavando tripas, o anfíbio chegava por trás, e dava-lhe um beijo no pescoço. A morena ficava toda arrepiada, e tartaruga saía andando mancando por uma perna, com uma bermuda suja de sangue e uma peixeira de dez polegadas atravessa na cintura, desdenhava:
--- O cartuchinho ficou toda arrupiada.
Os pelos dos braços da morena estava todos de pé, ela pedia:
--- Não faça mais isso, está ouvindo tartaruga.
Passado os dias, tartaruga resolveu que era agora ou nunca, daria uma cantada em Sandra, não estava mais agüentando aquela tesão que sentia pela morena, quando avistava a morena lavando fato com uma saia curta mostrando as calcinhas vermelhas, ficava logo de pau duro, todo se torcendo, corria para dentro do banheiro, e olhando pelo buraco da fechadura para as pernas da morena, colocava cinco para brigar com um. Sandra também provocava o anfíbio, com suas roupas curtas que deixava as pernas roliças e morenas á amostra.
--- Sandra vamos nos encontrar?
--- É ruim eu querer um bicho feio como você!
--- Eu sou doido para vadiar com você, estou ficando maluco.
--- Te enxerga tartaruga, tu não dá conta desse material, isso aqui é muita carne para você.
Cada dia tartaruga ficava mais excitado com as provocações de Sandra, não conseguia fazer nada pensando nas pernas e na bunda da morena, e ela não lhe dava nenhuma esperança, só lhe dava negativas. Atacaria novamente, aquela seria sua última tentativa, se desse tudo bem comeria a morena, senão tentaria esquecer. Preparou carne de primeira para dar de presente para ela, dois quilos de carne de primeira, picanha gorda.
--- Toma Sandra para você comer um pirão.
--- Não precisava disso não tartaruga, você já é muito bom pra mim.
--- Então me dê uma coisinha de periquita para eu matar minha tara que eu tenho por você.
--- Tá certo, vou fazer os seus gostos, mas só vai ser uma vez.
--- Vai mesmo?
--- Vou, só que na minha casa não dar, o meu marido tem dois cachorros enormes e brabos, não tem quem entre lá em casa. Agora eu sei que o melhor lugar que tem é na minha casa quando João Maia vai caçar, o problema são os cachorros que mordem até o vento.
O negócio estava engatinhando, Sandra tinha concordado de dar uma reiada com ele, o que estava estragando o acordo eram os infelizes dos cachorros do marido da morena que eram umas feras. Mas tartaruga não desistiria, procuraria uma solução para o seu problema de fornicação latente. Os dias passavam e o anfíbio não encontrava um meio de entrar na casa do seu cartuchinho, e a morena desdenhava:
--- Você é um frouxo tartaruga, morre de medo de cachorros.
Á noite Tartaruga perdia o sono pensando na solução para domar os cachorros do seu adversário, a mulher perguntava:
--- O que é que tu tens Herondi, que todas as noites está perdendo o sono?
--- Nada, é preocupação minha mesma.
--- Você não está aprontando das suas Herondi, está?
--- Nada disso, você só pensa em besteira Rosa.
Depois da discursão, Herondi ou tartaruga como queiram, teve uma idéia brilhante, pegou no sono bem ligeirinho. Acordou cedo foi para o matadouro fazer o seu serviço. A morena também tinha chegado, tartaruga lhe disse:
--- Estou armando um esquema para entrar na sua casa e mete-lhe o ferro.
--- Duvido que você entre lá em casa, os cachorros te matam. E tem outra coisa tartaruga, você não dá conta desse material aqui, você é muito fraquinho.
---Vamos ver. Você não me escapa.
A morena estava mais arrochada, com um short bem curtinho entrando nas talhadas da bunda. O anfíbio ficava babando com tanta formosura da morena. Mas estava com sua estratégia formada para se agasalhar dentro das pernas dela.
Tartaruga matou as reses, juntamente com o tio, começou a despencar as bandas de boi, também fazia a limpeza. Jogava pedaços de carne morta no canto da parede, juntou no mínimo uns cinco quilos de pedaços de carne, colocou tudo numa sacola plástica, e avisou ao tio que ia dar uma cagada depois do pontilhão.
--- Porque você não caga aqui nos banheiros do matadouro?
--- Hoje vou dar uma cagada ao ar livre, olhando a natureza.
A casa da morena ficava o conjunto da COHAB, do matadouro se avistava o conjunto, o marido da morena naquela hora não estava em casa. Quando tartaruga chegou no muro da casa, os vira latas magros que pelo cu se via os dentes, só comiam caldo de feijão branco com farinha. Os cadelos voaram pra cima do conquistador numa latumia grande, o conquistador de mulher casada esperto como ele só, começou a distribuir pedaços de carne para os animais que estavam mortos de fome, nunca tinham comido carne fresca. Os dois receberam aquele presente do céu de uma alma mal intencionada, os vira latas comeram tanto que ficaram redondos, rapidamente tartaruga retornou para o matadouro.
Tartaruga já ia com mais de trinta dias dando carne aos seus amigos comuns. O anfíbio já entrava no muro e dava carne na boca dos animais, ficaram amigos íntimos, brincavam, se embolavam no chão, eram unha e carne, o palco de tartaruga estava armado.
Na casa de Sandra, o marido se admirava dos cachorros:
--- Sandra tu já notou como os cachorros estão gordos? Chega os cabelos estão finos.
--- Já, num sei como esses bichos só comendo restos de comidas, estão gordos desse jeito. Não estão comendo nem o que boto para eles, nem ligam, só ficam dormindo debaixo do pé de limão.
E João Maria se admirava todos os dias como seus cachorros estavam lutridos.
Naquela sexta-feira a morena chegou cedo ao matadouro, estava fazendo o fogo para colocar água para ferver e escaldar os fatos de bois. Quando tartaruga chegou por trás encouxou a morena, e deu-lhe um cheiro no pé do ouvido.
--- Ai tartaruga, não faz assim, que eu fico toda arrupiada.
--- Quando é que eu vou me enfiar em você morena?
--- Hoje era o dia ideal, João Maria foi caçar rolinhas, saiu de casa bem cedinho, só Chega lá para as doze horas.
--- Hoje eu vou lá!
--- Você é doido? E os cachorros?
--- Deixa comigo, eu dou meu jeito!
--- Não se arrisque, aqueles cachorros são umas feras, vão lhe rasgar todinho, do jeito que eles estão gordos.
--- Por você minha morena, eu atravesso o mar a nado, brigo até com um leão.
Sandra terminou o serviço, saiu para casa num gingado mais danado do mundo, fazia de propósito, só para deixar tartaruga excitado.
O anfíbio salgava a carne para a feira do sábado, fazia tudo muito rápido, tinha que salgar a carne, depois enfardar nas esteiras, estava fazendo tudo desastradamente, quando seu tio Marcos gritou:
--- Tartaruga arroche esses fardos direito, estão todos ficando frouxos, parece que está com a cabeça no outro mundo.
A tartaruga garanhão só pensava na madeirada que daria na morena, estava fazendo tudo errado, Marcos nunca tinha reclamado nada dele. Guardou os fardos de carne, também a peixeira de dez polegadas, saiu de porta afora com destino ao conjunto da COHAB á procura da casa da morena. Em chegando lá, abriu o portão e entrou, os vira latas correram ao encontro dele, fazendo a maior festa ao seu redor, lambiam suas mãos, e tartaruga tirava pedaços de carne do bolso da bermuda, e colocava na boca dos amigos, Sandra saiu na porta e disse:
--- Por isso que esses cadelos estão gordos, você os viciou com carne.
--- Eu só podia entrar na sua casa morena, se fosse dessa maneira.
Tartaruga foi dizendo isso e se agarrando no pescoço da morena. O anfíbio estava com a madeira tesa que parecia um jumento. Foi quando Sandra pediu:
--- Calma, vá pelo menos tomar um banho, você está fedendo a sangue.
--- Só vou tomar banho se for com você, topa?
--- Topo!
--- Os dois entraram para o quarto, tiraram as roupas, jogaram em cima da cama, e foram para o banheiro. Dentro do banheiro começou o furdunço, tartaruga queria pegar a morena, que se esquiava, e dizia:
--- Na cama é melhor, você é muito pequeno para alcançar o meu periquito, e ainda tem a perna curta.
Um passava sabonete no outro, os dois ficaram bem branquinhos, que pareciam que estavam cobertos de neve em pleno sertão nordestino.
--- Eu esperei muito por esse dia morena.
--- Agora você vai ter tudo que desejou.
Os cachorros começaram num bramido danado lá fora, tartaruga cismou:
--- O que danado esses cachorros estão latino?
--- São os meninos mexendo com eles, não se incomode, passe sabonete nas minhas coxas, na minha bunda, vamos tartaruga me arroche, num era isso que você queria?
--- Num sei não, estou com maus pressentimentos.
Quando os dois estavam num amassado danado, entrou João Maria com a espingarda na mão. Quando o traído empurrou a porta do banheiro estava o bolo:
--- Que arrumação é essa?
--- Não é o que você está pensando João Maria!
--- Pego você comendo a minha mulher dentro da minha casa, com o pau duro, que parece um jumento, e você ainda diz que não é o que estou pensando!
--- Não está mais duro não, amoleceu. – disse tartaruga.
--- E você Sandra, eu nunca pensei que você fizesse isso comigo. Agora vou matar os dois. Tartaruga eu mato de facão, e você Sandra, dou só um tiro.
Tartaruga era mais frouxo do que areia de rio ajoelhou-se no chão, e começou a pedir:
--- Por favor, João Maria, não me mate, eu sei que errei, mas quem não erra, diga?
--- Você e cabra de pêia tartaruga.
--- Sou, desde menino, todo mundo diz isso.
--- Diga bem alto, tartaruga é um cabra de pêia.
--- Eu tartaruga sou um cabra de pêia!
--- Você me fez de corno tartaruga.
--- Fiz não, você não é corno João Maria, eu não cheguei nem a penetrar em sua mulher, o cara só é corno quando acontece a penetração.
--- Sabe o que vou fazer com você bicho feio?
--- Não!
--- Você vai sair daqui nu, e eu ainda vou dizer a sua mulher.
--- João Maria, me dê um tiro, mais não diga a minha mulher o que aconteceu.
--- Saía daí de dentro sujeito sem futuro, pra fora cachorro. Sandra volto já para conversar com você, é só eu terminar de matar tartaruga que volto para conversar com você baixinho.
Tartaruga saiu com as mãos cobrindo a genitália, o rosto vermelho, a cara de pânico, os olhos esbugalhados e cheios de lagrimas, e com João Maria com a espingarda apontada para a cabeça dele, dizia:
--- Vou esbagaçar seu casco tartaruga, a pinha de chumbo que eu vou dar em você, vai ficar só o rombo, não vai ter doutor no mundo que tape o buraco.
--- Num faça isso home de Deus, me dê minha bermuda, e deixe eu ir embora, e não se fala mais nisso.
--- Pensando nisso, eu não vou atirar no seu casco, vou dar um tiro é na sua rola, vou lhe capar só com um tiro.
--- Na rola não João Maria, dê na perna que eu manco, pronto você está vingado, ou então me dê uma surra de facão, pronto está tudo acertado. E se você não quiser fazer isso sexta-feira eu lhe dou uma perna de boi, dois mocotós e dois quilos de chã de dentro, estamos conversado.
--- Você é um covarde tartaruga, dizia que era meu amigo e me traiu.
--- É verdade, mamãe sempre disse que eu sou covarde. Tudo que você disser eu concordo.
--- Eu pensei que ia para o mato matar rolinhas, chego em casa e vou matar uma tartaruga no seco.
--- Ó meu Deus, acabe com essa estória de matar João Maria, deixe eu ir embora e pronto.
--- É muito bonito, você bota chifre em mim e quer deixar por isso mesmo, não senhor, vou atirar na sula rola.
--- Home não faça isso, é única coisa que tem em cima de mim que presta, você ainda que danificar.
A casa de João Maria ficava em frente ao Hospital Doutor José Varela, as janelas do referido hospital estavam cheias de funcionários olhando aquele entrevero passional que se passava no pátio. As portas das casas do conjunto estavam repletas de gente apreciando tartaruga nu e João Maria apontando a espingarda para rola do seu adversário. E cada vez juntava gente, os moto-taxistas só era chegando com gente do centro da cidade para ver o espetáculo dantesco que tinha se formado. Algumas pessoas se juntaram, encabeçada por Oliveira um corno antigo acostumado com chifre, e foram até João Maria pedir para deixar o pé de lã ir embora, que também lhe devolvesse a bermuda, João Maria concordou, jogou a bermuda, o pé de lã pegou, quando ia começar a vestir a bermuda, João Maria deu um tiro de espingarda nos pés do garanhão, que mancando pela perna danou-se nu em procura da ponte, só se via a bunda branca de tartaruga balançando, e a mundiça cobrindo o pé de lã na vaia. No caminho tartaruga do medo que estava, vestiu a bermuda com a braguilha para trás, pisou num galho de xiquexique seco, espetou a sola do pé que mancava, morto de suado, encostou-se no muro do cemitério para descansar e retirar os espinhos da sola do pé. Só pensava numa coisa, na brigada que mulher ia dar com ele.
João Maria foi direto onde estava á mulher do anfíbio e disse:
--- Peguei agora mesmo seu marido comendo minha mulher.
--- Eu não acredito!
--- Pode acreditar, eu agora sou corno. Mas eu não me incomodo não, pense num corno manso, sou eu. – justificou João Maria.
Tartaruga veio por dentro do mato até chegar em casa, escondeu-se por trás de uns pés de pinhão, e ficou vendo o que aconteceria na sua casa. Quando ele deu fé, viu foi suas roupas voarem pela janela, as calças e as camisas ficaram penduradas nas pontas das varas da cerca. Ele pensava: - amansar essa mulher vai ser a coisa mais difícil do mundo depois dessa tragédia.
No outro dia era sábado, dia da feira, quem entrava no mercado dizia uma piada com tartaruga, uns o chamava de bodão, outros de garanhão, pai dégua, pé de lã, cada um que falassem um lero com tartaruga, quem mais o chateava era Marcos seu tio, mas tartaruga tirava tudo de letra, não estava nem ligando para o que diziam, ficava rindo com a cara de cachorro que roubou a panela de cima do fogão.
João Maria deixou Sandra que foi embora para Natal, mais tomou a mulher do irmão Damião. Tartaruga acertou-se com a esposa e está muito bem. João Maria quando passa vendendo preá diz:
--- Quer comprar preá tartaruga?
--- Quero, separe quatro pareias.E tartaruga levava as parelhas de preá para comer com a esposa.

O Mal Entendido

Miguel irmão de Sena, todos os anos chega em Pedro Avelino para passar as festas de Natal e Ano novo, nesse período do mês dezembro gosta de tomar umas cervejas, juntamente com seus familiares e amigos. No dia de Natal festeja na casa do cunhado Alvino, e no Ano novo casa de outros familiares. Num desses dias festivos, Miguel conversava com seu irmão Sena, e Sena expôs suas preocupações com as doenças que estavam lhe incomodando. Contou a Miguel que constantemente estava com enxaqueca, também com freqüência tinha crises horríveis de hemorróidia. Com o relato de Sena, Miguel ficou muito preocupado com a situação do irmão, passou a aconselhar:
--- Meu irmão, a enxaqueca ninguém fica bom, mas tomando algumas precauções se convivi muito bem com ela, tome uns remédios faça uma boa dieta, que raramente terá uma crise, agora hemorróidia você tem que fazer um tratamento com um proctologista.
--- Que danado de profissão de médico é essa Miguel?
--- É a especialidade do médico que trata de hemorróidas.
--- Tá certo, vou procurar esse médico.
Passada as festas do final do ano, Miguel foi embora para Sergipe, onde residia e trabalhava. Sena ficou sofrendo com suas doenças, sabia ele que aquele final de ano tinha sido terrível para ele, comeu tudo que tinha direito e também bebeu.
Quase todos os dias Erivan de Biguinha fazia visitas ao amigo Sena para conversarem amenidades. Nesta bela tarde em que os dois batiam papo, Sena contava seu rosário de doenças:
--- É isso mesmo Erivan, estou sofrendo mais do que couro de pisar fumo. O que mais perturba é a hemorróidia. Vivo com a boca do frasco pegando fogo. Miguel meu irmão indicou um médico para essa coisa de furico.
--- E dói muito? – perguntou Erivan.
--- Num dói não, queima como pimenta, tudo isso foi às extravagâncias que fiz nesse final do ano que passou. Comi costelas de porco assada na brasa, buchada de bode e pirão de curimatã, isso puxado à cerveja. Tudo isso que falei é o pior veneno para hemorróidia e enxaqueca.
--- É mesmo Sena?
--- É
--- E que médico é esse que seu irmão lhe indicou?
Creuzinha mulher de Sena estava na cozinha lavando os pratos, Sena gritou:
--- Creuza! Qual a especialidade do médico de boca de frasco que Miguel falou?
--- Protético!
--- É isso mesmo Erivan, protético.
--- Tem certeza Sena que é protético?
--- Claro, Miguel foi quem disse.
--- Então você não precisa ir muito longe, na cidade de Afonso Bezerra, aqui vizinho, tem um só do bom, Alarisio Junior, ele é até vereador.
--- Acontece Erivan que Alarisio Junior faz prótese dentária, e pelo que sei, boca de frasco não precisa de dentes, ela já tem pregas.
Erivan é um sujeito falante, não gosta de palavrões, enquanto Sena só conversa com sacanagem, deixava o amigo contrariado.
--- Sena esse seu linguajar é que me deixa intrigado. Você só fala palavras obscenas, um linguajar rasteiro, palavras chulas, como: boga, furico, boca de frasco e ruela, acabe com isso, fale as coisas como elas são, o nome cientifico é ânus. Outra coisa, a especialidade do médico é proctologista, e não protético. Protético é que faz qualquer prótese, não é só dentaria.
--- É mesmo Erivan, a especialidade do médico que cuida de furico é proctologista, era porque eu não me lembrava.
--- Só para finalizar, hemorródia são pequenos vasos que se dilatam no reto, por tanto, você é um hemorroidário, e o que é hemorroidário? São pessoas que sofre de hemorróidia. E uma boa tarde para você, desejos melhoras.
--- Vai Erivan, vai pra casa enfiar peido num cordão que é que você sabe fazer.
Erivan foi embora aborrecido com o linguajar rasteiro do amigo. E Sena penando com dores horríveis provenientes de suas doenças. Aquele dia estava atacado das duas, enxaqueca e hemorróidas, passou o dia deitado sem poder olhar para a claridade, a cabeça doía que parecia que ia voar a tampa, e lá embaixo a hemorródia queimava como brasa. Sena colocava pedra de gelo no ânus, não adiantava, naquele dia estava como nunca. Não tinha vontade de comer nada, só tomava água, do jeito que ia viraria corpo seco.
Á tardinha chegou o sogro e a sogra de Sena, Aldo Macedo e Dona Maria, os dois chegaram a cavalo, vieram de véspera para receberem suas aposentadorias no outro dia no BB. Creuzinha recebeu os pais, pediu que os dois se apeiasem e adentrasse a casa, e Aldo Macedo perguntou:
--- O que tem Sena Creuza?
--- Está doente, desde ontem de manhã cedo que está arriado.
Creuzinha ficou conversando com os pais, perguntando pela fazenda, também pedia noticiais dos irmãos. E sena amargurado dentro de uma rede, coberto da cabeça aos pés, sofrendo com seus males, a cabeça enrolada com hortelã da folha grossa e amarrada com uma toalha de rosto, e o furico queimando como pimenta malagueta, como dizia ele.
Creuzinha fazia tudo dentro de casa com rapidez, naquele momento preparava o jantar, e Sena gemendo dentro da rede. Todos jantaram e foram assistir à novela. Sena não quis comer nada, estava com estomago embrulhado, não se levantou para assistir o jornal nacional, que não perdia. Chegando a hora de dormirem, Creuzinha armou duas redes na sala para os pais. Aldo Macedo deitou-se, D. Maria também, só que Aldo Macedo não conseguia conciliar o sono. Quando de repente, Aldo escutou falas dentro do quarto, onde Sena estava com o Creuza.
--- Ai, ai, ai Creuza não agüento, assim não dá, passe Vick-vaporub na cabeça, passe bem na testa, ai, ai Creuza, ai Creuza. Não passe vick no pescoço não, passe só na cabecinha.
Aldo Macedo arregalou os olhos, puxou no punho da rede de D. Maria e disse:
---Maria está escutando?
--- O que Aldo?
--- Sena dizendo ai, e pedindo para passar vick-vaporub no cacete. Será que eles estão atrelando?
--- Não sei Aldo, vá dormir.
Aldo ficou de orelha em pé, e lá dentro do quarto, continuavam saindo vozes.
--- Creuza meu amor, será que passando Vick lá embaixo também melhora?
--- Sei não Sena.
--- Ai, ai Creuza, tá queimando feito a peste, eu não agüento, ai Creuzinha, ai Creuzinha, chegue mais pra perto, assim, assim mesmo.
Aldo Macedo puxou novamente no punho da rede de D. Maria.
--- Maria eu não amanheço o dia nessa casa, vou pegar meu cavalo e vou embora, onde já se viu, esse povo não respeita mais ninguém. E Creuza num disse que esse infeliz estava doente, como é que estão vadiando. É duro um pai escutar um cabra enfiando a vara numa filha é duro.
--- Aldo eles são casados, podem fazer o que bem entenderem no quarto deles, nós não devemos nos meter na vida do casal.
--- Eu sei Maria, mais pelo menos podiam falar mais baixo, quem já se viu uma zuadeira danada dessa, uns gemidos da molesta, parece cachorro grunino com frio na chuva. Só se escuta esse macho dizendo: ai Creuza. É duro um pai escutar uma latumia dessa.
Aldo metia o pé na parede se balançando na rede, com raiva do que estava acontecendo. E Sena sofrendo (sempre foi manhoso), reclamava:
--- Ai Creuzinha meu amor, chegue mais pra perto, chegue Creuza.
Dentro do quarto Sena sofria desesperadamente. Creuza fazia tudo que podia para aliviar o marido das dores dilacerantes que estava sentindo.
--- Creuza pela enxaqueca estou acostumado, o negócio é na boca do frasco, eu acho que não tenho mais nenhuma prega, devem esta todas com os elásticos esgarçados.
--- Para com essas besteiras Sena, você faz um alarido danado, papai e mamãe na sala estão escutando tudo.
--- Eu não sei não Creuza, até quando eu vou agüentar essa queimação na boca do meu foba.
--- Precisa você ficar com essa gemedeira parece que vai parir.
--- Você diz isso porque não é em você.
Passava das 2 horas da manhã, e Sena gemendo, e Aldo Macedo acordado se balançando na rede, escutando tudo que se falava no quarto do genro.
Sena já desesperado pedia para Creuza:
--- Creuza arranje qualquer coisa para passar no meu furico, tô que não agüento mais essa queimação.
--- O que você quer que eu faça, me digo homem de Deus?
--- Arranje qualquer remédio, banha de tejuaçu, banha de raposa, qualquer coisa para passar no meu cu.
Creuza começou a mexer nas gavetas a procura de alguma coisa para passar no ânus do marido.
--- Sena o que achei foi acentona.
--- Será que acetona é bom?
--- Não sei, só experimentando.
De dentro da rede, Aldo Macedo meteu a mão na rede da mulher, disse:
--- Está escutando Maria?
--- O que Aldo?
--- Agora vai ser com uma tal de acetona, pra que serve acetona Maria? Acetona escorrega, e como banha.
--- Eu sei lá Aldo, vá dormir.
--- Como eu posso dormir Maria, escutando minha filha vadiando e eu escutando, só fico pensando aquele calango magro em cima de minha filha, metendo a vara nela.
Aldo inconformado ficou de mutuca escutando.
--- Creuza coloque devagar, só um pingo.
--- Num é melhor com uma lã?
--- Então eu vou abrir as pernas.
--- Não Sena, é melhor de bunda pra cima.
--- Tá certo, agora quando for botar a acetona, abra as duas popas da bunda, depois assopre.
--- Aldo Macedo não agüentou, puxou novamente no punho da rede da mulher e disse:
--- Oia, oia Maria, está escutando a servegonhice?
--- Aldo eles são casados.
--- Maria será mesmo que eles estão dando uma reiada?
--- Aldo vou repetir pela última vez, eles são casados podem fazer o que quiserem.
Dentro do quarto, Sena administrava com Creuza como colocaria a acetona.
Creuza é melhor colocar a acetona numa bisnaga de desodorante, que dá uma borrifada só.
Assim mesmo Creuza fez, pegou a bisnaga de desodorante Rexona vazia, colocou toda acetona que tinha encontrado.
---Bote a bunda pra cima.
--- Deixe-me colocar um travesseiro debaixo da barriga, pra bunda ficar mais impinada.
--- Vamos Sena, se ajeite.
--- Vou borrifar.
--- Abra bem as duas bandas, acerte bem no centro, depois assopre.
Aldo Macedo sentou na rede, puxou a rede da mulher, disse:
--- Maria que danado de safadeza é essa, que esse povo está fazendo dentro desse quarto?
--- Não sei Aldo, vá dormir.
--- Eu não vou dormir não. Não consigo dormir com essa zoada de gente fudendo, eu vou já arrombar a porta desse quarto, e vou ver o que está acontecendo.
--- Você não é doido Aldo. Respondeu D. Maria.
Creuza estava se preparando para dar a borrifada, e deu. Sena deu um grito tão grande, que acordou o conjunto do IPE, Conjunto Donatile, bairro São Geraldo e adjacências.
--- Ai Creuza, me lasquei, a boca do meu cu encolheu.
Foi dizendo isso, e arrancou de cima da cama com toda molesta dos cachorros, abriu a porta do quarto, passou debaixo da rede de Aldo, deu um sopapo tão grande na rede que quase a cabeça do sogro bate nas telhas. Rapidamente entrou no banheiro, foi para debaixo do chuveiro, reclamava:
--- Chegue aqui ligeiro Creuza!
Creuzinha rapidamente também emburacou no banheiro, para acudir o marido. Aldo dizia a mulher:
--- Oia, oia, o que eu estou dizendo, foram terminar a safadeza debaixo d’água, tais vendo Maria, tais vendo o que tô vendo?
Dentro do banheiro Sena se maldizia de suas doenças.
--- Eu nunca tinha sentido uma coisa tão ruim como essa. Creuza vá ligeiro buscar a bacia de alumínio, eu encho d’água e sento dentro, assim no chuveiro é mesmo que nada.
E Aldo dizia para D. Maria:
--- Que coisa Maria, começaram a boca da noite e ainda não terminaram, agora vão fornicar dentro de uma bacia.
--- Aldo não julgue as coisas desse jeito, você muito precipitado nas suas conclusões, o seu pensamento só tem maledicências.
--- Oia, oia Creuza entrando com a bacia. Será Maria que dentro da bacia cabe os dois?
Creuza encheu a bacia com água, Sena sentou, foi um alívio. Sena parou de reclamar, ficou sentado um bom pedaço, foi inventar de levantar, a ardência começou novamente, sentou-se outra vez.
--- Maria parece que terminaram de reiar. O Sena é um garanhão da peste.
Aldo adormeceu, D. Maria também. Passava de cinco horas da manhã, quando Sena saiu de dentro da bacia tremendo de frio, deitou-se e adormeceu. Creuzinha não se deitou, foi fazer o café do pessoal de casa. Aldo levantou-se, D. Maria também, sentaram a mesa para tomar café, e Aldo perguntou a Creuza:
--- Que danado de Zuada era aquela, dentro do quarto?
--- Era a hemorróidia de Sena que atacou, e ele mandou passar acetona, aí teve que ir para dentro da bacia com água, estava queimando muito.
--- Assim tá certo, eu pensei que vocês estavam fazendo outra coisa.
--- Que outra coisa papai, diga?
--- Oia Maria, oia, eu bem que disse, deve ser alguma coisa com as doenças de Sena.
Aldo e D. Maria, tomaram café e foram para BB receberem suas aposentadorias. Creuzinha foi trabalhar na Prefeitura, e os dois filhos para Escola. Sena ficou deitado, amargurado em cima da cama. Passaram-se três dias, Sena ficou bom da hemorróidia. Sem querer passou a unha na boca do frasco, como dizia ele, e arrancou uma casquinha, quando olhou era a pele da boca do frasco com prega e tudo, e bem redondinha, parecia uma tampa de cerveja, cheia de preguinhas.
Ainda hoje Sena tem bem guardadinha numa caixa de fósforos, as impressões digitais do ânus. (a pele). O nosso amigo Sena até hoje, nunca mais sentiu nada de hemorróidia, só continua com enxaqueca, não pode ver comida.



Manoel Julião Neto.