quinta-feira, 30 de setembro de 2010

MUNGANGA É O BICHO


Hoje a minha missão é relatar mais um dos causos mais audaciosos acontecido nesta bela cidade de Pedro Avelino. Aqui aconteceu cada uma que até o nosso padroeiro São Paulo lá em cima fica todo arrepiado.

A figura central é Doutor Marcos Antônio Tassino de Araújo, mais conhecido como munganga. Não se incomoda com o apelido.

Na literatura de cordel existe figuras emblemáticas que são admiradas em todo nordeste, graças aos cantadores de viola e cordelistas, são elas: Cancão de fogo, João grilo e Pedro malazarte, nenhuma dessas figuras amarraram as chuteiras de munganga, na sagacidade e na astúcia. Munganga tem manha de gato. Quando está inspirado conversa no ouvido de um bode e o convence entrar sozinho dentro de um açude para tomar banho. No seu bolso tem um escorpião, não mete a mão no bolso pra gastar uma pataca. Porém, para cuidar da saúde dos que lhe procuram, sempre está pronto para servir. Quem o procura em Natal, sempre está a disposição, seja para uma cirurgia, para um exame ou consulta, não mede distância, seja rico ou pobre, ele não olha para quem está fazendo.

Eu mesmo sou testemunha disso, já precisei e fui muito bem atendido. Com isso tudo, pelo amor de Deus, não fale em dinheiro que o negócio complica, e agora que políticos não podem distribuir dinheiro porque dá cadeia, ele está com a faca e o queijo na mão.

O dia 28 de julho de 1996, aquele era o dia “D”,dia em que Dr. Marcos Tassino ia provar mais uma vez a sua audácia e sagacidade que lhe é peculiar.

Dr. Marcos foi convidado mais uma vez para ser o candidato a Vice-Prefeito de Neide Suely, e o presidente do seu partido era contra (PTB). Luiz de Zaqueu que era o presidente do partido, não queria por hipótese nenhuma coligação com o PFL. O presidente e seus liderados detestavam o deputado José Adécio, e que também tinha a maioria do diretório, munganga tinha 4 votos do diretório e Luiz de Zaqueu 6.

O empasse estava formado. Munganga chamou Luiz para uma conversa franca e objetiva. Falou para o presidente que o partido ficaria mais forte com aquela coligação, não houve acordo, Orione Guedes também tentou convencer Luiz que os benefícios que o partido ganharia com aquela coligação, Luiz não cedeu uma polegada.

- Luiz eu falei com Felinto Rodrigues ele disse que não tinha objeção nenhuma sobre essa coligação.

- Acontece Dr. Marcos que o presidente do PTB aqui em Pedro Avelino sou eu.

- Eu sei Luiz, só que Felinto Rodrigues é o presidente do partido em todo o Rio Grande do Norte.

- E eu com isso, mas quem manda aqui sou eu, vamos pro voto, já ta tudo pronto. A urna, as cédulas, está tudo na medida, amanhã de manhã às 11 horas começa a votação, se devemos coligar ou não com o PFL.

- Deixe eu ver o material.

Luiz mostrou tudo a Dr. Marcos.

- muito bem Luiz, amanhã vamos ver no que vai dá.

Munganga saiu daquela conversa altamente contrariado, procurando uma maneira de reverter aquele quadro, só que estava muito difícil, se fosse para o voto de certo que perderia feio.Como seria o dia da votação, era o pensamento de munganga.Luiz compareceria com seu batalhão de choque, pronto para qualquer coisa, e ele estava com sua equipe toda capenga para entrar numa batalha corpo a corpo com a equipe de Luiz. Lábia, sabia que tinha, o que lhe faltava era equipe de apoio e estratégia de guerra, logística. Mas no outro dia teria uma solução para atacar o esquadrião de Luiz de Zaqueu.

Munganga não tinha idéias para dobrar o presidente do seu partido. Seu Dedinho o motorista de Munganga dizia:

- calma Dr. Marcos, calma, o senhor já enfrentou batalha pior do que essa e saiu vencedor. O senhor vai ver, amanhã o senhor amanhece com idéias brilhantes, o senhor é craque em matéria de audácia.

- É Dedinho, estou num beco sem saída, mas amanhã eu decido esta parada, ou eu não me chamo Munganga.

Seu Dedinho rumou o carro para a estalagem de Jerôncio onde passaram a noite.

Amanheceu o dia, Dr. Marcos acordou, fez a barba, e foi tomar café. Lindalva preparou-lhe um café de responsabilidade, quando Munganga estava se deliciando nos quitutes de Lindalva chegou à notícia que João Coleta tinha morrido, Munganga ficou apreensivo e também estava acontecendo uma vaquejada no parque denominado cheiro do povo.

Naquele dia Munganga tinha que administrar três coisas, a coligação do partido pela manhã, o enterro de João Coleta a tarde e o forró do cheiro do povo a noite, aquele dia prometia.

E Munganga macambúzio, pensativo, quando de momento as lampadinhas de suas idéias acenderam e fez plim, plim.

-Dedinho eu já sei como resolver essa parada.

-Eu bem que disse ao senhor que logo o senhor teria uma saída, eu bem que lhe avisei.

-Foi mesmo Dedinho, foi mesmo.

Dizendo isso Munganga saiu a procura de guerrilheiros para sua causa. Ficou no bar da praça, (por atrás da igreja) e mandou seu Dedinho convocar todo o seu pessoal. Quando se deu fé estavam todos reunidos. Orione Guedes, Ozimar Caldas, Diva, João de Armando, Verônica, Rosa Câmara, Ana Lígia e outros que agora me falta na memória.Todos reunidos, Munganga começou a explanação.

- Amigos estamos aqui reunidos para enfrentarmos o batalhão de Luiz de Zaqueu , ele não quer coligar o PTB com o PFL, com essa coligação depende a nossa vitória em 3 de outubro.

- E como podemos ajudar? Perguntou Ozimar.

- É o seguinte: nós vamos trocar a urna, a nossa urna já vai votada com nossa vitória.

- E como podemos fazer isso? Perguntou Ozimar.

- A urna é uma caixa de rom-montila com um buraco no meio, revestida de papel branco, as cédulas também são de papel branco.

- E daí?

- E daí que nós vamos arranjar uma caixa do mesmo tipo na bodega de Domingos, e fazemos do mesmo jeito, trocamos as urnas.

- Na frente dos guerrilheiros de Luiz? Perguntou Ozimar.

- É aí onde mora o problema, nós vamos levar o Barão , sentamos ele, quando todos terminarem de votar, o Barão desmaia, todos vão acudir o Barão, é aí que trocamos a urna deles pela nossa que está com Dedinho lá fora.Só que o problema maior está em convencer o Barão a desmaiar.

- E quem vai falar com o Barão para ele desmaiar?

- Eu não vou, falou Rosa. – filha do barão

- Eu também não, falou Verônica. Neta do barão

E ninguém tinha coragem de falar com o Barão, foi que Munganga decidiu:

- Quem vai falar é o papai aqui.

Todos ficaram no bar e Munganga se encaminhou para a casa do Barão, acendeu o cachimbo e saiu baforando. O Barão estava na área de sua casa sentado, Munganga aproximou-se e foi logo o cumprimentando.

-Como vai Francisco de Assis Câmara, o famoso Barão!

-Oi Doutor Marcos, vou aqui, mais velho do que ontem.O que lhe trás aqui?

-Barão você é um homem muito inteligente, já sabe que eu venho a procura de alguma coisa.

-Menino eu conheço o povo dessa terra de todo jeito, pelo direito e pelo avesso.

Dr. Marcos contou todo plano para o Barão, que ficou logo escabriado.

-Menino isso é coisa muito feia, e eu não faço não.

-Mas Barão isso tudo é por uma boa causa.

-Menino eu sou um homem de vergonha, eu tenho consideração pelos outros, um negócio desse é uma gatunagem, roubar urna é coisa de gatuno.

Nessas alturas os guerrilheiros de Munganga já cercavam o Barão, e todos pediam para ele desmaiar, e o Barão dando brabo.

-Menino eu sou um homem direito, com que cara eu vou olhar para Severino Cosme, pra Rosilda e pra Bastinha.

-Com essa cara mesmo Barão, respondeu Munganga.

Depois de mais de 40 minutos de conversa Munganga conseguiu dobrar o Barão.Todo o material da mutreta estava preparado, urna já votada, os guerrilheiros de Munganga sabiam as suas funções, só estavam esperando o chamado do presidente do partido para começarem a votação.

Dr. Marcos fez uma rodinha com seus comandados e disse:

- Vamos repassar nosso ataque. Dedinho fica sentado dentro do carro com a urna, Ozimar fica no portão para dá o sinal a Dedinho, o restante fica na frente da mesa fazendo uma barreira, assim que o Barão der a vertigem de mentira, que todos forem acudir o Barão, Dedinho joga a urna por cima do muro, e nós fazemos a troca, certo?

- Certo. Todos responderam.

Ficaram no bar da praça esperando o chamado de Luiz de Zaqueu. De repente Luiz subiu até a praça, dirigiu-se a Dr. Marcos:

-Dr. Marcos vamos começar a votação mais cedo, todos querem ir ao velório de João Coleta.

-Está certo vamos pra lá!

Diva e Rosa foram pegar o Barão, a equipe de Doutor Munganga ficou nos seus pontos estratégicos.Luiz apareceu com a urna debaixo do braço com destino a área de lazer de Orione, entrou colocou a urna em cima da mesa, distribuiu as cédulas para começar a votação. O Barão sentado longe da mesa. O Barão chamou Diva.

-Menina eu num vou fazer isso não, eu tenho vergonha na cara, eu não posso fazer isso com Severino Cosme.

-Papai o senhor dar só uma desmaiadinha de nada, é por pouco tempo.

-Num dô uma bilola, num dô.

-O senhor se comprometeu com Dr. Marcos de desmaiar.

-Acontece menina que eu sou um homem forte, num desmaio por besteira, eu fui criado com leite puro.

Diva foi falar com Dr. Marcos.

-Dr. Marcos papai não está querendo desmaiar.

-Não é possível uma coisa dessa...

-É possível Doutor Marcos, é possível, ele bateu o pé e disse que não tem quem faça ele dar uma bilola, que gosta muito de Severino Cosme.

Munganga a passos largos foi até onde estava o Barão, a votação estava no fim.

-Barãozinho de Deus, dê só uma desmaiadinha por favor, dê Barão.

-Num dô, isso que vocês querem que eu faça é uma das maiores amarguras da minha vida.

Terminada a votação, Luiz chamou todos para a apuração dos votos, Doutor Marcos preocupado com o desmaio do Barão.De perto do Barão Rosa fazia sinal que o pai ia desmaiar. Luiz chamou todos para perto da mesa, onde abriria a urna quando de repente Rosa gritou:

- Acudam aqui que papai está passando mal.

Quando todos olharam pra trás o Barão estava descangotado na cadeira, Luiz largou a urna em cima da mesa, o resto dos escrutinadores também correram em socorro ao Barão. Vigiando a urna ficou Rosilda.Dr. Marcos colocou dois dedos na boca e deu um assobio estridente, e fez sinal para seu Dedinho que estava dentro do carro.

Seu Dedinho pegou a urna jogou pra cima e bateu um tiro de meta, como faz os goleiros, a urna passou por cima do muro, que chegou perto de Ozimar, que rapidamente agarrou com as duas mãos, e jogou para Mungangá, nessas alturas João de Armando pulava na frente de Rosilda, para ela não vê a caboetagem da troca, mas foi em vão ela viu quando Mungangá fez a troca. Alguns ainda estavam acudindo o Barão quando Munganga bateu um saque jornada nas estrelas, como fazia Bernard jogador de vôlei, (isso tudo com a urna) a caixa de pirata que servia de urna, não deu para chegar às mãos de Ozimar. Ozimar que tem o raciocínio rápido, deu um peixinho e jogou de manchete, a urna subiu e ultrapassou o muro e os óculos de Ozimar caíram no colo de Joana de xixica, mulher de João Luiz gordo.

Do outro lado do muro seu Dedinho encaixou a urna como fazem os bons goleiros, entrou no carro e fez carreira para estalagem de Jerôncio.

Dr. Marcos chegou perto do Barão e disse:

- Chega Barão, está tudo concretizado.

Rosa ainda empurrava uma lã de álcool nas ventas do Barão e Verônica massageava os pulsos do avô. O Barão recobrou os sentidos,ajeitou-se e foi pra casa.

Luiz dirigiu-se a mesa e foi contar os votos, Doutor Marcos ganhou por 6x4.Luiz esbravejou:

- Não é possível...

- É possível sim, é possível. Falou Munganga.

E Rosilda com os olhos rasos d’água gritou:

- Dr. Marcos trocou as urnas!

- Não diga isso Rosilda.

- Digo, porque eu vi...

- Rosilda eu sou um homem de respeito, eu vou levar essa mágoa sua para o meu túmulo, essa ofensa que você me fez é muito forte.

Rosilda ainda hoje reclama dessa troca de urna.

Dr. Marcos chegou para Luiz e disse:

- Quer dizer Luiz que estamos certo?

- Certo Doutor Marcos, está tudo certo.

Luiz pegou sua turma e foi para casa do sogro, cabeça baixa e derrotado pelas traquinagens de Dr. Marcos traquino.

Dr. Marcos acendeu o cachimbo, e saiu andando com seu jeito de lutador de Box. Atrás vinha Ozimar todo quebrado do peixinho que deu, um pé destroncado e a cara com uma raladura do cimento e duas costelas trincadas.

Na calçada Joaquim Campos comentava:

- Esse Doutor Marcos é mais esperto do que eu. E Luiz gordo contava como tudo aconteceu.

- João Dedinho chutou a Joana urna, João Ozimar cabeceou, João Doutor Marcos trocou a urna, João Doutor Marcos jogou a Joana urna de volta, João Ozimar deu uma bicicleta, João Dedinho encaixou a Joana urna, pegou o João carro e ganhou o mundo. Até os óculos de João Ozimar caiu no colo de Joana de xixica.

Dr. Marcos a tarde foi ao enterro de João Coleta, compenetrado, e a noite dançou forró até o dia amanhecer.

E assim termina mais um causo do homem mais esperto do que cancão de fogo, Pedro malazarte e João grilo.

Manoel Julião Neto

A BATALHA DO BODE COM MUNGANGA

Foi desse jeito sim, do jeito que vou contar, nem vou aumentar nem diminuir, vou contar como tudo aconteceu, lá vai poeira.
Foi no dia 10 de setembro de 2004, a cidade de Pedro Avelino estava engalanada, nos próximos dois dias, se realizaria os comícios das Araras e dos Bacuraus. A cidade era um caldeirão fervendo em temperatura altíssima. Na cobertura da feira livre as discurções pegavam fogo, os ânimos acirrados tiravam os mais fanáticos do sério, o meu amigo Cadinho como sempre conversava esterco para todos que estavam presentes.
Quando de repente e derepentemente, precisamente as19 horas o ônibus da Empresa Cabral estaciona. Eis quem surge na porta do ônibus, quem, quem, Zé Cedéia, genuinamente Pedroavelinense, nascido nas paragens da Fazenda ÁRABIA, mas atualmente residindo em Natal, na zona norte.
Zé Cedéia veio tomar pé como estava andando a política no seu torrão natal. Naquela noite sexta-feira, aconteceria o comício das Araras, com Senador da República e tudo. Cedéia com a bolsa nas costa, não procurou as casas dos parentes, queria rapidamente entrar na fuzarca. Foi tomar umas cachaças no trailer de Ademir para poder aquecer as turbinas, enquanto isso a Banda Montagem aquecia a galera das Araras, era um preto e amarelo que doía na vista, Cedéia assistia passivo, sem esboçar nenhuma reação. Moças e homossexuais corriam de um lado para outro com bandeiras vibrando ao vento. O senador da república discursou com um entusiasmo e euforia, defendo os seus candidatos. Terminado o comício, a banda continuava botando pra quebrar, Cedéia cheio de birita, foi embora para o bairro São Francisco, dormiria na casa de Joaquim Quincor amigo de infância e capiloçadas quando crianças.
Amanheceu o dia, sábado, dia 11 de setembro de 2004, dia de feira em Pedro Avelino, Cedéia o personagem central dessa estória, acordou cedo, passou uma mão d’água na cara, rapidamente encaminhou-se para feira livre, rever amigos e parentes, aquele sábado prometia. Fazia tempo que não participava da feira da sua cidade. Quando chegou no quadro da feira, diga com quem encontrou, quem? Quem? Vocês não acreditam, ora bolas, encontrou com primo velho Zé de Pedro, vaqueiro aboiador, o primo Zé de Pedro já estava biritando, bem meladinho igual um peba. O abraço foi grande, confraternizações terminadas, partiram para o quiosque de Damiana de Zé Fragoso (Isso é que ter Zé que só a porra). Mandaram descer uma meiota de pitu, com tira gosto de carne de bode, e farofa bem amarelinha que só Damiana sabe fazer. Aí o pau comeu solto, chegaram os Árabes da fazenda Arábia, os recreativos da fazenda Recreio, era uma festa, Zé de Cedéia estava na terra, na reunião de birita estavam Joaquim Quincor, Zé Grosso, Pirranha, Chico Tonico, Zé Cícero da Arábia, e outros com menos expressão, era uma festa.
A tarde vinha caindo, Cedéia, deu uns cochilos por ali, se refazendo tecnicamente, psicologicamente e fisicamente para a batalha da noite.
A cobertura estava verde e branco, Eugênio e Foquinha fazia a alegria da galera de bacuraus (pode copiar). Era um mar de bandeiras verdes e galhos verdes da arborização da cidade. Marchinhas esculhambando o outro candidato, bêbados caído nas calçadas, mulher mijando no meio do tempo sem nenhum constrangimento, tudo era festa. Zé de Cedéia pelos seus cálculos a peleja estava pau a pau.
Terminou o comício, mas o conjunto de Eugênio ficou pegado. Pirão estava escornado cuspindo gosma de fumo, fazendo positivo com o polegar, Chico do catombo de dedo em riste, fazia discurso para o nada. Zé de Cedéia bastante melado foi dormir no bairro São Francisco, na casa de Joaquim Quincor, no domingo iria a fazenda Arábia visitar os restantes dos amigos e parentes. Ainda não tinha decidido em qual dos dois partidos votaria, estava em dúvida.
O dia amanheceu, Zé de Cedéia pegou carona com Zé de Teodoro, que ia com destino à fazenda Arábia, sentou-se no canto da grade da camioneta, adormeceu. O Primo Zé de Pedro também fazia a viagem de carona, em chegando no destino, todos desceram, em cima só ficou Cedéia dormindo, Zé de Teodoro falou:
--- Acorda esse bebo para ele descer, quero ir embora de volta...
Zé de Pedro subiu na carroceria do transporte, mexeu com Cedéia, notou que ele estava gelado, gritou:
--- Zé Maria meu filho! Primo Zé de Cedéia está morto, bateu as botas, está igual uma pedra de gelo. (isso é que ter Zé que só a porra)
--- Eu não acredito – respondeu Zé de Teodoro.
--- Pode acreditar Zé...
--- E agora o que vamos fazer? – perguntou Zé de Teodoro.
--- Levar para o Hospital...
--- No meu carro não, manda buscar a Ambulância, eu tenho medo de quem morre. – respondeu Zé Teodoro.
--- Zé a ambulância está presa na rodoviária federal em Macaiba, por falta de emplacamento, você num sabe. – disse Zé de Pedro.
--- Exato, perfeito, vamos levar o homem no meu carro.
E lá vem Zé de Teodoro com o defunto na carroceria do seu carro, na estrada esburacada do bairro São Francisco. A cabeça do defunto batia no lastro da camionete, fazia Puf, puf, puf.
A estória se espalhou pela cidade, os políticos ficaram em polvorosa, os dois partidos queriam ser donos do defunto. Zé de Teodoro deixou o defunto estirado na mesa do necrotério e fez carreira pra casa.
Formou-se dois pelotões de choques para tomar conta do defunto, os bacuraus e as Araras. O time das Araras era formado por Bodinho, Osimar e Paulinho Brás, tendo como bodinho o capitão da equipe.
O time dos bacuraus tinha a seguinte formação: Dr. Marcos Tassino, capitão do time, mais conhecido como Munganga, Joyce, Luiz Tomás e Tomé.
Os dois times entraram no necrotério, cada time segurou uma perna de Cedéia, que ficou arreganhado que parecia uma tesoura aberta, Munganga gritou logo:
--- O defunto é bacurau, é nosso, vamos enterrar...
--- Não senhor, o defunto é nosso, ele é arara.- respondeu bodinho.
Estava formada a batalha dentro do necrotério do Hospital Governador José Varela. Dr. Munganga com sua sagacidade fez a seguinte pergunta:
--- Quem é você menino?
--- Eu me chamo Sandro, sou conhecido como bodinho de João de Neves, nascido em São Pedro. E torcedor roxo do Flamengo, todos em são Pedro Torce pelo Flamengo, menos Chico vaquejada que é do contra, torce pelo Vasco da Gama, mais alguma pergunta?
--- Eu também sou Flamengo, como está o nosso Time? Perguntou Dr. Marcos.
--- Tá mal Dr. Marcos, essa semana o nosso goleiro Julio César, fez uma besteira com o centro avante do Atlético Paranaense, perdemos de 2x1.
--- E o nosso goleiro não é mais Raul Plasma, pelo que sei Julio César é o ponta esquerda. E Zico, Adílio, Junior, Nunes, Andrade e Paulo César Carpegiano estavam no banco?
--- O senhor está muito por fora de Futebol, esses jogadores deixaram de jogar faz mais de dez anos. Esse time é de 1982. Eu acho que o Senhor quer me engabelar com esse papo, quer fazer do mesmo jeito que fez na convenção de 96, a convenção do PTB, que o senhor trocou as urnas para ser candidato à vice-prefeito de Neide, até hoje Rosilda de Severino Cosme jura de pés juntos que o você trocou as urnas.
--- Você me respeite, marido da cabra...
--- Marido da cabra uma ova, o defunto vai ser enterrado por nós.
--- Isso é o que você pensa, quem vai enterrar somos nós os bacuraus – afirmou Munganga.
As duas equipes não arredava o pé de perto do defunto, cada equipe agarrada em uma perna, Cedéia descangotado, duro, com as pernas arreganhadas, Joyce suada não largava o joelho de Cedéia, Luiz Tomás com o pé do defunto debaixo do sovaco, Bodinho e Osimar e Paulinho Brás estavam em desvantagem, eram quatros contra três. Mandaram saber na fazenda Arábia em quem o defunto votava, e não largavam o corpo de Cedéia. Chegou a notícia, O defunto votava no partido de Zé Santiago, mas Zé Santiago já tinha morrido, mas Dede Martins dono da fazenda é Bacurau (isso é que ter Zé).
--- Dede Martins e Bacurau o defunto também é.
--- Não senhor Dr. Marcos, o defunto é nosso, não venha com suas mungangas pra cima de mim.
O impasse estava formado, Dr. Marcos Tassino tentando convencer Bodinho, que o defunto era do partido dele, mais bodinho não aceitava. Bodinho teve uma idéia:
--- Osimar telefona para Elsa em João Câmara e diz, que manda um caixão de defunto com urgência.
Osimar telefonou, Elsa respondeu:
--- Já estou de Saída.
Munganga ficou nervoso, se o caixão das Araras chegasse primeiro perderia os votos da família do defunto, gritou:
--- Toto vá ligeiro a Angicos e traga um caixão de defunto....
--- Me dê o dinheiro...
--- Que dinheiro Toto, você sabe muito bem que eu não ando com dinheiro, você sabe que eu sou o plano de saúde dos pobres, diga lá que depois nós acertamos.
Toto fez carreira para Angicos, chegando lá o negócio enganchou, foi telefone pra lá, foi telefone pra cá, só sei que liberaram o caixão, Toto tirou de volta.
Dr. Munganga gritou para o bode:
---O Caixão de quem chegar primeiro, fica com o defunto, Tá certo?
--- Tá certo, fechou o Bode.
E as duas Equipes agarrada nas pernas de Zé de Cedéia, ninguém o largava por nada, era uma batalha ferrenha. Discurções, bate-boca, ofensas, a reieira estava formada, era uma festa. O hospital ficou cheio, o calor era imenso, a população do bairro São Geraldo, São Francisco, IPE, COHAB e Donatile se fazia presente no evento macabro, que as duas equipes peso-pesado estava travando. Chegou Elsa com o caixão, a pé junto Chegou Toto com o de Angicos, entrou os dois caixões de uma vez só no necrotério, a corrida de caixão de defunto tinha empatado. E agora de quem era o defunto?
Essa batalha dentro do necrotério persistia por mais de seis horas. Elsa rapidamente, também agarrou a perna de Cedéia, Dr. Munganga falou:
--- E agora Bodinho, como é que fica?
--- Num sei...
Pirrita ia passando gritou:
--- Disputem na porrinha.

--- Assim é sacanagem demais, vamos buscar a viúva e o filho deles, eles é quem decide. – argumentou Bodinho – foram buscar a viúva.
Lá fora no hospital, os dois partidos estavam reunidos, com bandeiras e carros de som.
O carro de som das Araras cantava “ADECINHO, MEU PREFEITO É VOCÊ, ADECINHO, EU NÃO VOTO PRA PERDER”.
Do outro lado a Kombi dos bacuraus cantava (Foquinha se esgoelava) PEDRO AVELINO MUDOU O SEU DESTINO COM VITÓRIA DO MAGRÃO, E CARNAVAL E VAQUEJADA .. Pode copiar.
E o carnaval estava formado em frente ao Hospital Governador José Varela, tinha banca de cachorro quente, a mocidade tomando aguardente, meninos vendendo garrafinhas de água mineral e din-din, chegou o galego das bananas com uma bandeja de pasteis, coxinhas e suco de goiaba para vender, era uma festa, cada partido que quisesse ganhar o defunto.
Bodinho se descuidou, Dr. Munganga jogou o defunto dentro do caixão dos bacuraus, bodinho pulou por cima da mesa, agarrou-se com o defunto e tirou de dentro do caixão, jogou dentro do caixão das araras, Luiz Tomás imediatamente, agarrou o defunto e puxou para cima de sua equipe. Finalmente chegou a viúva, Dr. Mungaga perguntou:
--- Minha senhora o seu marido é arara ou bacurau?
A mulher respondeu:
--- É arara
--- Eu já sabia disso, olha como estão os dedos do safado, em forma de V. só tem uma coisa eu não forneço o laudo para ele se enterrar, se quiserem laudo, que vão buscar no ITEP em Natal, tiraram com o defunto Zé de Cedéia para a capital.
Nessas alturas as araras faziam o carnaval do lado de fora do hospital, e saíram em passeata.
Dr. Marcos Tassino estava com um problema grave, o que ia fazer com aquele caixão, saiu pela rua, chegou perto de Pedão, disse:
--- Pedão tenho um presente para lhe dar...
--- O que é?
--- Um caixão de defunto que está sobrando...
--- Tô fora, dê a João do Barão que está bem pertinho de viajar.
Ofereceram a João do Barão, não quis, mandou oferecer a Pedrinho também do Barão, também rejeitou o presente. O problema estava formado, Dr. Munganga não tinha a quem presentear o caixão, disse:
--- Deixe esse caixão guardado, isso entra como saldo de campanha.
Essa conversa de saldo de campanha chegou nos ouvidos de titiu, que saiu espalhando que Dr. Marcos estava com saldo de campanha para doar. O galego das bananas escutou essa conversa nas quatro bocas, e foi falar com titiu:
--- Titiu é verdade que Dr. Marcos está doando uma tal de saldo de campanha?
--- É galego vá lá...
--- Eu vou mesmo, sou bacurau desde menino, e estou precisando aumentar os meus negócios, comprar mais banana, agora eu vou colocar ata maçã para vender.
O galego foi à procura Dr. Marcos, e o encontrou:
--- Dr. Marcos eu vi dizer que o senhor tem um saldo de campanha para doar, é verdade?
--- Verdade Pura, você quer?
--- Quero sim senhor, quero aumentar o meu comércio, quanto é?
--- Galego velho de guerra, você sabe que eu não ando com dinheiro. O que eu tenho para doar é caixão de defunto que o povo de Zé de Cedéia, quer?
--- É o satanás quem quer, Deus me livre.
O galego das bananas desistiu do saldo de campanha.