sexta-feira, 21 de agosto de 2009

O Apetite de Avelino Soldado

Tenente Antonio José foi designado para ser o delegado de Pedro Avelino, o mesmo era casado com uma filha da terra, homem sério, mais metido a encapetado, dizia suas brincadeiras com um ar sério, cara fechada, dizia mais nunca ria do que fazia.
Chegando em Pedro Avelino, o contingente da delegacia era apenas de dois soldados, o tenente achando pouco, requisitou a Companhia de Macau, pelo menos mais dois soldados, no que foi prontamente atendido.
Apresentou-se ao Tenente os soldados Mendes e Avelino, o soldado Mendes era calado, falava pouco, comportado. O soldado Avelino um tagarela, o assunto dele era só comida, passava o dia reclamando, que em Pedro Avelino não tinha peixe, que terra era Macau, que tinha peixe franco. O povo dessa terra não conhece nem peixe, eles não sabe como é bom um ensopado de arraia. E uma caçarola cheia de ostra fervida no leite de coco com coentro, cebola e tomate, é de se comer pensando em não pecar. Mas o povo daqui só sabe comer carne de bode, carne salgada, e peixe de água doce, o peixe pior que existe, é a tal da trairá, tem as espinhas feito um gancho, enganchando na goela de um, só sai se for no Hospital Walfredo Gurgel. Se esse povo de Pedro Avelino fosse a Macau comigo, eu entupiria o rabo deles só com peixe do bom.
Todas as tardes que estava de serviço na Delegacia de Polícia, Avelino fazia café e comprava uma folha de pão doce na padaria de Dudu, a folha vinha com 20 pães, comia tudo com um bule de café, tinha uma gulodice de meter medo. O Tenente Antonio José ia passando no corredor da Delegacia e viu Avelino traçando os pães com café e disse:
--- Avelino você come mais do que a porca de Tigipió.
--- Por quê a porca de Tigipió Tenente?
--- A porca de Tigipió Avelino, eram quatro caminhões carregando comida pra ela, um caminhão quebrou ela morreu de fome.
Avelino só fez rir com o canto da boca, e o Tenente dizia para os outros soldados:
--- Ainda faço uma boa com Avelino!
E Avelino continuava com sua gulodice, chegou no bar de Dona Santina dentro do Mercado Público, mandou fritar 15 ovos para comer com farinha, quando Dona Santina colocou os ovos no prato Avelino reclamou:
--- D. Santina ainda ficou uns pedacinhos pregados na tacha. Traga tudo, passe também uma farinhazinha no fundo da tacha.
Dona Santina foi e raspou os pedaços que tinha ficado pregado, veio até com pedacinhos de alumínio. E Avelino continuava com sua fome canina. Um menino das retirantes ficou olhando ele comer, imediatamente Avelino reclamou com o menino:
--- Desencosta daqui menino apigorão. Eu tenho o maior abuso de menino espião, agente comendo e outro espiando a comida não serve, dá bucho inchado. Sai daqui menino, vá vê se eu estou ali na esquina.
O menino se retirou de perto do soldado, mais disse a sua piada:
--- Avelino come mais do que ferida de Laura de tororomba.
--- O que tem a ferida de Laura?
--- Laura tinha uma ferida na perna, todos os dias colocavam um quilo de carne de charque em cima, a ferida comia, deixava só a cinza.
--- Sai daí sambudo, vai conversar merda noutro lugar, num ver que eu estou comendo.
E Avelino levava aquela vida de glutão, a farda apertada, os botões da camisa só faltavam voar, suado, parecia uma anta. Andava todo arreganhado, só vivia com as virilhas assadas das coxas roçarem uma na outra. Os pés inchados, as pernas com varizes, do peso que era grande. Davam conselhos para o soldado fazer um regime, daqui a pouco ele não agüentaria nem andar. Ficava com raiva, não dava nem atenção, dizia: - quando morrer, morro de barriga cheia.
Estava toda guarnição conversando na calçada da Delegacia, assuntos bestas, quando Avelino saiu-se com essa:
--- Bom mesmo é peru assado em forno de padaria com cerveja bem geladinha, o caba come tanto que fica teso.
Os que estavam na calçada ficaram olhando para cara um do outro, não estavam falando em assunto de comida. O Tenente Antonio José perguntou:
--- Você já comeu Avelino?
--- Não, mais compadre Bastinho Ferreira comeu, e me disse que era bom que só a porra. Deu uma risada grande e entrou na Delegacia para comer uma banda de rapadura e tomar mais de dois litros dágua.
Á noite saíram em Patrulha pelo centro da cidade, estava havendo uma festa do Padroeiro da cidade, tinha muitas barraquinhas vendendo muitas iguarias, e Avelino lambendo os beiços, mas o Tenente Antonio José não parava, era só andando, e Avelino puto da vida porque estava longe das comidas. O tenente parou um pouco de lado da igreja, ficou os soldados perfilados, e tenente numa ponta e Avelino na outra. Por trás de Avelino tinha um menino com um balaio vendendo pitombas. Avelino perguntou bem baixinho para o tenente não escutar:
--- O que é isso:
--- Pitomba.
--- Isso presta?
--- É bem docinha, e de Ceará Mirim.
--- Quanto é um cacho?
--- Cinqüenta centavos.
--- Me dê dois.
Avelino tirou todas as pitombas do cacho e colocou no bolso soltas, era só tirando e chupando, e engolindo os caroços, gostou, comprou mais dois cachos, fez do mesmo jeito dos dois anteriores. Passou a fome, atrás dele ficou uma ruma de cascas de pitombas. Terminou a festa foram todos para casa. No outro dia de manhã bateu a mulher de Avelino na Delegacia, queria falar com o Tenente:
--- Diga Idalina!
--- Tenente, Avelino mandou pedir ao senhor para arranjar um transporte na Prefeitura, para levar ele no Hospital.
--- O que ele tem?
--- Tá com o bucho por acolá, não pode nem ir fora, não sai nada.
--- O que ele comeu para ficar desse jeito?
--- Diz ele que foi umas pitombas que chupou ontem de noite, e fez mal.
--- Eu sei o qual é a doença. Ele está entupido, deve ter engolido todos os caroços das pitombas.
--- Foi ele disse.
O tenente arranjou um transporte na Prefeitura e levou Avelino para o Hospital, com a barriga maior do que era. Estava com febre.
--- Você nesses dias morre de congestão, não pode ver comida, tudo demais é veneno Avelino. – disse o Tenente.
Avelino com vergonha do Tenente cobria o rosto com o lençol, e falava para o tenente:
--- O pior que não posso dar nem um peidinho, tá tudo tapado.
As enfermeiras fizeram uma lavagem intestinal em Avelino, que foi caroço de pitomba até para casa de caixa prego. Avelino ficou dois dias se restabelecendo da entupição anal.
O tenente Antonio José convivia com Avelino, mas tinha muito abuso de sua gulodice. Vivia pensando como fazer uma presepada com o soldado comilão. Tinha que armar uma para ele de qualquer maneira, mas não tinha aparecido oportunidade.
Um certo sábado, Zé Branco proprietário da fazenda Olho dágua velho, falou com o Tenente Antonio José para ir patrulhar a festa que ia fazer em sua propriedade, era uma novena, depois um bingo de uma novilha de cabra, uma bicicleta Monark de segunda mão e uma porca com doze bacorinhos, depois o forró até o dia amanhecer. Ficou tudo acertado entre o Tenente e Zé Branco.
O tenente reuniu os soldados e deu as ordens para o sábado à noite:
--- Vamos está noite em patrulha, para uma festa que vai acontecer na fazenda do Senhor Zé Branco, peço a vocês que reforcem no jantar, por que não irão oferecer nada de comida pra nós, é só trabalhar, certo?
Todos concordaram e foram para frente da Delegacia, nisso foi passando um dos meninos de Avelino, Avelino Chamou:
--- Senhor pai!
--- Diga a sua mãe que pegue aquelas costelas secas, que comprei na feira, faça uma sopa pra janta, faça muito, que vou trabalhar a noite toda. Os pães eu levo quando for para casa.
Avelino não demorou muito, foi na padaria de Dudu, comprou uma base de uns vinte pães, e dois pacotes de bolacha regalia. E fez carreira para casa, no caminho comprou uma espiga de milho assado e saiu traçando pelo meio da rua.
Mais tarde chegaram todos para irem patrulhar a festa de Zé Branco. Avelino vinha suado, com a camisa da farda, pregada nas costa, e dizia:
--- Tomei pra mais de três litros de sopa, com seis pães franceses, estou aqui arfando, tá saindo pelo ladrão, cada arroto que dou a sopa vem no gogó.
Mendes ainda aconselhou Avelino a folgar o sinto, podia ser que ele passasse mal com o calor que estava fazendo, naquela noite de verão.
Chegando na festa, ficaram todos formados em fila indiana. A novena tinha começado, o Tenente saiu e foi conversar com o dono da festa, conversaram um pouco, e o Tenente voltou e, falou para os seus comandados:
--- Zé Branco me avisou agora, que lá pras duas horas da manhã, vai ter um jantar para nós da polícia, Peru assado com farofa carioca e arroz a lá grega, e cerveja bem geladinha.
--- Mais Tenente como é que o senhor faz isso comigo, eu estou aqui cheio até a tampa, tomei mais de três litros de sopa, chega estou arfando, não tenho lugar para butar mais nada.
--- Eu não sabia de nada, Zé Branco me avisou agora.
Avelino ficou resmungando baixinho: - Como é que pode uma coisa dessas, não vou comer nadinha, ainda estou arrotando a graxa das costelas. - Teve uma idéia:
--- Tenente vou ali fora, fazer uma necessidade.
Avelino se distanciou da patrulha, e foi bater no chiqueiro das cabras, escorou-se em duas estacas fortes de pau sabiá, meteu o dedo na garganta que o arco de sopa subiu, vomitou a sopa toda, misturada com pedaços de pão e caroços de milho. Arredou-se um pouco do chiqueiro das cabras, foi para dentro de um partido de jurema e ainda foi cagar sem ter vontade, queria desbastar tudo. Urrava, fazia força, não estava com vontade da cagar, mas tinha que desocupar a barriga para comer o peru de Zé branco com arroz a lá grega, nunca tinha visto falar nesse tipo de arroz, mas devia ser bom. De longe o Tenente Antonio José apreciava o que Avelino estava fazendo, as calças arriadas por cima dos coturnos, aquele mundo de bunda aparecendo, e ele fazendo força para botar para fora o que não estava pronto. Avelino voltou apressado, vinha suado igual à tampa de panela, ficou de pé novamente na patrulha. Quando deu uma hora da manhã, Avelino estava morrendo de fome, falou pra o Tenente:
--- Tenente vá lá saber se está tudo pronto.
O tenente saiu e voltou logo em seguida, e avisou:
--- Fui falar com Zé Branco agora, ele disse: que os cachorros roubaram o peru assado que tinha guardado pra gente, e que não tinha mais nada de comida na cozinha.
--- Tenente pelo amor de Deus não me diga uma coisa dessas! Eu vomitei a sopa todinha que tinha jantado, estou aqui me lascando de fome, isso é uma malvadeza, o que o senhor fez comigo, já sei foi tudo de caso pensado.



MANOEL JULIÃO NETO

Everaldão

Beatriz é o verdadeiro nome de Bia, menina loira da pele queimada do sol do sertão. Filha única de Fabrício e Dona Josefa. Mesmo tendo nascido no interior do Estado, e nunca ter saído, tinha o dom dos trabalhos manuais: costurava, fazia crochê, tricô, trabalhava bem na almofada de bicos, era uma artista nos trabalhos de linhas e tecidos, confeccionava tudo com perfeição. Adorada pelos pais e pelos vizinhos, a comunidade vestiam-se com roupas feitas pelas mãos laboriosas de Bia. Que Cada dia se aperfeiçoava no seu ofício. Futuramente queria fazer roupas feitas para vender no meio da feira, que era um mercado em franco desenvolvimento nas feiras dos sertões Nordestinos. Tinha recebido revistas de modelos de um parente da Capital, de onde copiava modelos para as mocinhas das redondezas onde ela comandava como costureira.
Bia trabalhava diariamente na sua máquina de mão, o pai a admirava. e sempre dizia:
--- Não sei de onde vem o tino dessa menina, com tanta inteligência para fazer as coisas com linha. Pode ser o que for, ela faz sempre bem feito.
Bia cresceu ficou moça formada, cabelos longos e loiros, pernas bonitas e grossas, cintura fininha, fininha, parecia um pilão. A bundinha era arrebitada que parecia uma tanajura em dias de inverno rodeando as lamparinas.
Eis que um belo dia, perto da propriedade do pai de Bia, chegou para morar uma família das bandas de Ceará-Mirim. O casal de velhos traziam cinco filhos, onde tinha um deles, o mais velho chamado Everaldo, mais conhecido como Everaldão, preto, comprido, braços longos, cabelos pixaim grudado no caso da cabeça, trabalhador como a peste, falado em toda região por sua disposição para o trabalho. As moças enlouqueciam quando via Everaldão, sabiam elas, que se casassem com ele, nada lhe faltariam, pois Everaldão não tinha preguiça. Sozinho desmatou um pedaço de terra, botou um roçado só pra ele, teve grande fartura, com o algodão que colheu, deu até para comprar uma bicicleta de segunda mão. Toda vermelha com fio dourados enfeitando os para-lamas.
Everaldão era o rapaz de maior condições daquela comunidade, a bicicleta que possuía tinha os melhores equipamentos: tinha farol com dínamo, duas flâmulas do Flamengo penduradas no guidon, e campainha que fazia trim-trim-trim.
Certo dia Everaldão foi até a casa de Bia para ela lhe fazer uma parelha de roupas (calça e camisa). Os dois engataram uma conversa longa que varou toda á tarde, apaixonaram-se, pegaram um namoro mais arrochado que existe na face da terra. Era um namoro encabrestado que um não largava um do outro, todas as horas possíveis, estavam agarrados um no outro.
As duas famílias se uniram para fazer o casamento. Bia só tinha quinze anos, Everaldão era mais taludo, passava dos vinte. Era um rapaz calado de poucas palavras, falava baixinho, quase sussurrando.
No noivado foi muita festa, Everaldão tinha comprado um par de alianças a Chico do ouro, pagaria em três prestações de partes iguais. O casamento aconteceria no final do ano, depois da safra do algodão. Everaldão com as próprias mãos queria fazer sua casa no terreno do pai, depois que construísse a casa, o próximo passo seria comprar uma propriedade para ele, queria viver no que era seu, não queria depender de terras dos outros, nem que fosse da família dele ou de Bia.
As duas famílias uniram-se para fazer uma grande festa no casamento dos filhos. Os pais de Bia colocaram um boi na serva, um porco e varias galinhas. Os de Everaldão, perus, ovelhas e bodes.
Nas folgas de sábado e domingo, Everaldão construía a casa de taipa onde ia morar, no terreno do pai. Bia passava horas e horas apreciando o noivo embuçando a sua nova moradia. Everaldão trabalhava com gosto na construção da casa. Em pleno sol de meio dia Everaldão não parava de trabalhar no embuçamento da casa de taipa, Bia era quem lhe trazia a comida, Everaldão não queria parar nem para o almoço.
As famílias tinham grande satisfação com aquele casamento, Bia trabalhava diariamente na confecção de lençóis, fronhas e toalhas de mesa, e Everaldão caprichando na casa. As tardes Everaldão passeavam com Bia sentava no quadro da bicicleta por dentro dos roçados de algodões que estavam branquinhos de capulho.
O final do ano estava chegando, o algodão tinha carregado bem, todos estavam apanhando a safra. Everaldão caiou a casa de branco com janelas azul. A barra das paredes pintou de vermelho. No quintal fez a cerca de varas de marmeleiros linheiras, dava gosto ver a casa de Bia e Everaldão. Dentro de casa já tinham todas mobílias.
Faltando três dias para realização do casamento, os convidados começaram a chegar, vinham familiares de Everaldão de Ceará-Mirim e de Baixa verde, da parte de Bia chegavam muita gente de Bananeiras na Paraíba.
Na véspera do casamento Bia foi provar o vestido de noiva, na casa de uma madrinha que ficava perto da casa dos pais do noivo. O vestido estava sendo feito escondido para o noivo não ver. Bia deu a prova no vestido, tinha ficado ótimo, justinho no corpo. Estava tudo caminhando conforme o planejado.
Vinha Bia com o vestido branco pendurado no baço, passava das cinco horas da tarde. O caminho que dava para casa de Bia tinha por obrigação passar por cima da parede do açude. Quando Bia caminhava na parede do referido açude, escutou um barulho numa cacimba que tinha por trás da parede do açude, a cacimba ficava rodeada de capim elefante. Bia muito curiosa desceu a parede, foi até a cacimba por dentro do capim elefante, Bia avistou Everaldão tomando banho em cima de uma pedra. Everaldão com um caneco na mão pegava água na cacimba e jogava na cabeça. Depois pegou um pedaço de sabão e começou a passar no corpo e na cabeça. Bia botou a mão na boca para não gritar, saiu em desabalada carreira para casa, entrou correndo, trancou-se no quarto, a mãe vendo a afobação em que a filha entrou, foi até onde ela estava, só podia ter acontecido alguma coisa muito grave para Bia chegar num desassossego daquele, perguntou:
--- O que está acontecendo Bia?
--- O que está acontecendo, é que eu não vou casar com Everaldão!
--- Qual o motivo?
--- Nenhum, é porque eu não quero mais!
--- Minha filha você não é doida, você tem juízo, depois de tudo pronto, os convidados de fora estão todos presentes. As comidas estão todas no fogo, o sanfoneiro foi contratado, você recebeu os presentes da família de Everaldão e dos convidados, agora quer dar pra trás, isso não se faz, vou falar com seu pai agora mesmo.
Bia ficou deitada emborcada, arrependida do ajustamento daquele casamento com Everaldão, se tivesse sabido antes não tinha nem namorado com ele. Á mãe saiu, em poucos minutos voltou com o marido a tiracolo.
--- O que está acontecendo Bia? – perguntou o pai.
--- Nada não pai...
--- Aconteceu sim, senão você não quereria desmanchar o casamento. Olhe aqui minha filha, você vai casar com Everaldo, eu não vou sofrer uma vergonha desse tamanho. Você sabe a quantidade de gente que foi convidado? Sabe o que é desmanchar um casamento no dia? Você está ficando doida? Você vai casar sim. Ó eu não me chamo Fabrício do Carnaubal.
O velho saiu batendo a porta do quarto, e foi fazer sala aos convidados. Bia chorava que os beiços tremiam, e a mãe perguntando o motivo. Bia não agüentando mais aquelas perguntas, contou tudo a mãe:
--- Mamãe, eu vinha pela parede do açude, quando escutei um barulho na cacimba, fui olhar, fiquei escondida dentro das moitas de capim elefante, sabe o que eu vi? Everaldão tomando banho. Mamãe Everaldão tem uma rola tão grande que parece um jumento, eu tenho certeza que não vou agüentar.
--- Que besteira é essa menina, tudo isso tem jeito, só não tem jeito pra morte.
--- Tem jeito nada, a senhora não agüentava. Pimenta no cu dos outros é refresco, não é a senhora que vai ser espetada por aquela danada.
--- Você vai casar sim, se toda mulher tiver medo de pau grande, nenhuma casava.
--- Não é a senhora que vai enfrentar a bicuda de Everaldão, por isso que está contando goga.
--- Minha filha que tamanho é essa danada?
--- Mamãe é muito grande (fez o tamanho com as duas mãos) e ela tem um vergão como uma veia no lombo. Eu não gosto nem de me lembrar.
A conversa que Bia não queria mais casar com Everaldão vazou, mas só quem sabia do motivo era Bia e a mãe. O pai da noiva acalmou a todos.
--- Vai haver casamento sim, de jeito nenhum vou perder o que gastei.
Bia passou a noite em claro, não pregou olhos, só pensava no que ia enfrentar, não conseguia dormir. O dia amanheceu, o casamento aconteceria às nove horas.
Gente entrava e saía na casa da noiva, era primos e primas e tias se aprontando para o matrimônio, e Bia emburrada dentro de um quarto, sem querer colocar o vestido para casar. A mãe foi chamar o marido para forçar a filha se vestir para casar, o velho entrou no quarto puto da vida com as manhas da filha.
--- Beatriz, vista a roupa e venha casar, o padre e o Juiz da paz já estão lá fora esperando, agora se você desistir, eu dou-lhe uma surra tão grande na frente dos convidados, que nunca mais você vai esquecer. Dou-lhe uma surra de cansar o braço, a única filha que eu tenho quer me decepcionar, isso eu não vou deixar acontecer. Vamos se vista!
O cochichado na sala, e no terreiro da casa se fazia presente, os convidados comentando que Bia não queria casar. O padre e o Juiz de paz estavam azedos de tomar cafezinho, e Bia demorando.
O cheiro de carne de porco torrada tomava conta da casa, panelões de comida fervia em cima do fogão a lenha. O armazém estava varrido para os convidados dançarem, Zé Rafael afinava a sanfona sentado num banco de pelar porco, os irmãos do noivo embriagavam-se nas cocheiras do gado. Bia não chegava para concretizar o matrimônio.
Everaldão estava vestido de calça preta, camisa branca de mangas compridas, e gravata preta, esperava com paciência. Bia finalmente apareceu, toda de branco com grinalda, e com a cara muito feia. O padre chamou os noivos e os padrinhos para a frente da mesa, fez o casamento. Noivos e convidados foram para o armazém onde o forró estava pegando fogo.
Everaldão pegou Bia, e foi dançar a valsa Roial cinema tocada na sanfona de Zé Rafael. Bia dançava a valsa tão desconsolada, só pensava no que ia passar quando chegasse a noite. Bia fechava os olhos e ficava pensando na cena de Everaldão tomando banho na cacimba, aquele momento não lhe saía da cabeça.
A festa tomou o domingo todo, a tarde os parentes que moravam distantes, foram embora para a cidade onde residiam, ficaram só os amigos que moravam na vizinhança, para destruir o resto da comida, e da bebida.
Quando escureceu forró ainda estava pegado, Everaldão foi se despedir do sogro e da sogra, Bia foi tomar abença ao pai e a mãe, e disse baixinho no ouvido da mãe:
--- Reze por mim...
--- Pode deixar minha filha, tudo vai dar certo.
Os recém casados saíram abraçados por dentro do roçado de algodão, Bia com a barra do vestido sujo de barro e os sapatos nos dedos. Chegando na frente da casa, Everaldão tirou a chave da casa do bolso de algibeira, enfiou na fechadura, torceu a chave, a porta abriu. Bia com o coração quase saindo pela boca, entrou de casa adentro, foi direto para o quarto, sentou-se na cama. Everaldão começou a se despir, tirou a camisa, tirou a calça, ficou só de cuecão samba canção, com três botões na braguilha, e uma nodoa de mijo amarela onde ficava a cabeça do pau. Por cima do cuecão, Bia fitava a ruma que Everaldão tinha na frente. Everaldão ordenou:
--- Bia tire a roupa!
Bia obedeceu, tirou o vestido branco ficou despida, deitou-se, tremia mais do que vara verde. Cruzou as pernas, Everaldão tirou o cuecão, quando Bia viu a estrovenga do negão deu um grito grande:
--- Ui meu Deus!
--- Assustou-se? – perguntou Everaldão.
--- Claro, quem não se assusta com uma danada desse tamanho?
Everaldão começou passando a mão nas coxas da esposa, que se esquiava pra cima do espelho da cama, Everaldão faminto por sexo, pedia:
--- Bia descruze as pernas...
--- Num tá vendo Everaldão, que eu não agüento essa lambereda de rola, não abro as pernas nem para ganhar uma grapette e uma cocada.
A noite passou ligeiro, e Everaldão não teve o gosto de fazer nada com Bia. Everaldão amanheceu o dia cansado de pedir a Bia que descruzasse as pernas, mas ela não lhe atendeu.
Aquela luta Hercúlea de Everaldão passava de três dias com três noites, Bia não cedia um palmo das suas convicções. Estava certa que o marido ia deixá-la, mas não cederia, sabia que se abrisse as pernas seria aberta em bandas, aquilo era uma coisa descomunal, não tinha mulher no mundo que agüenta-se um troço daquele, logo ela uma menina, ainda não era uma mulher feita, aquilo era para mulher que estava acostumada com todo tipo de rola.
Everaldão todos esses dias partia para a lida constrangido. Quando voltava pra casa, estava tudo pronto, Bia era uma verdadeira dona de casa. Tinha água pra tomar banho, toalha limpa, casa bem arrumada, comida quentinha. Como dona de casa Bia não tinha defeito, o problema era a noite, na hora da dormida, não tinha quem fizesse Bia descruzar as pernas.
Passava de uma semana que Everaldão tentava concretizar o casamento, mas nada acontecia. No outro dia era domingo, Everaldão botou Bia na estrada, ia devolver ao pai. Bia ia à frente e Everaldão atrás, chegando na casa do sogro Everaldão falou:
--- Seu Fabrício quero um particular com o senhor.
--- O que está acontecendo Everaldo? Pode falar, aqui não tem segredos, só está nos quatros.
--- Bem Seu Fabrício, é chato o que eu vou dizer pra o senhor...
--- Diga home, diga logo...
--- Eu estou aqui para devolver Bia, ela é uma boa dona de casa, muito prendada, eu não tenho que reclamar sobre isso, o negocio são outras coisas...
--- Que outras coisas home, vamos desembuche...
--- Ela não quer furnicar comigo, desde o dia que nos casamos, que ela só dorme de pernas cruzadas, não abre pra nada...
--- É o que Bia? Está acontecendo isso?
--- Está papai, eu não agüento o pau de Everaldão, é muito grande, eu tenho medo de ser lascada pelo meio...
--- Acabe com pantin Bia! Eu nunca vi dizer que rola fosse machado para lascar ninguém no meio.
--- Que medo que nada, você não se garante não? Se escanche em cima dessa danada, que o resto da certo. – disse a mãe de Bia.
--- Olhe aqui Everaldão, eu não aceito devolução, você pediu Bia, está pedido, eu não aceito arrependimento.
--- Seu Fabrício, o senhor acha que eu vou ficar com uma mulher dentro de casa, só para enfeite? Se fosse assim eu não tinha casado, ficava dentro de casa dos meus pais, minha mãe fazia tudo pra mim.
--- Só que eu não aceito devolução. – disse o sogro.
--- Eu dou uma vaca ao senhor de arrependimento.
--- Nada feito, leve sua mulher para casa, vocês dois que se virem.
Saiu Everaldão e Bia de volta pra casa, os dois emburrados, não se falavam. Mais uma semana, e Everaldão lutando, e Bia nada de ceder. À noite quando iam dormir, Bia cruzava as pernas, até o dia amanhecer.
Aquela situação estava constrangedora, Everaldão louco para furnicar, e Bia se amarrando. A velha Josefa mãe de Bia, na ausência de Everaldão, foi fazer uma visita à filha, chegando lá perguntou?
--- Já Bia?
--- Que nada mamãe, não tenho coragem.
--- Há minha filha, você tem que dá seu jeito, o seu marido não pode ficar assim. Agora me diga uma coisa Bia, o cacete de Everaldão é muito grande mesmo?
--- Ora se é, quando ele tirou a bicha de dentro da cueca, que eu olhei, me faltou terra nos pés. É enorme, dessas da cabeça bem roxa, que tem o gogo fino e o pé grosso.
--- Mas isso não é motivo para o que você está fazendo.
--- Mamãe me diga uma coisa, porque a senhora está tão interessada na rola de Everaldão?
--- Deixe de pensar besteira Bia, me respeite.
--- Tô respeitando mãe.
--- Faça o seguinte, sente em cima, que entra macia...
--- Deus me livre de sentar em cima de uma ignorância daquela, se eu fizer isso vai bater no meu juízo.
--- Bem, vou embora, você tem que se virar, o seu marido não pode sair perdendo nessa estória, ele tem que lucrar alguma coisa.
A aflição de Bia era tamanha, fazia tudo para agradar ao marido, mais furnicar não, tinha medo do tamanho do pau de Everaldão.
Naquela tarde Everaldão estava dentro do roçado limpando o algodão, quando avistou o sogro que vinha em sua direção:
--- Boa tarde Everaldo...
--- Boa tarde seu Fabrício...
--- Como estão as coisas?
--- Do mesmo jeito, Bia não cede um palmo...
--- Bem Everaldo, eu tirei essa vara boa de marmeleiro, lisa sem nem um nó, hoje à noite se Bia não quiser abrir as pernas, você dali uma surra boa de vara, até ela ceder, tem o meu consentimento.
O velho foi embora, Everaldão terminou o que estava fazendo, encaminhou-se para casa, com a vara de marmeleiro na mão, pensava consigo mesmo. – estou com a faca e o queijo, tenho o consentimento do pai dela para dali uma surra.
Quando chegou em casa Bia perguntou:
--- Pra que essa vara?
--- Foi seu pai que me deu, se hoje à noite você não abrir as pernas, eu lhe desse uma surra até você ceder.
--- Não vai ser preciso, eu arranjei uma maneira melhor...
Everaldão tomou banho, jantou, foi pro terreiro olhar para as estrelas, de repente Bia chamou:
---Everaldão vem cá!
Everaldão pegou a vara de marmeleiro, e entrou no quarto...
--- Eu disse que não precisava dessa vara, eu já dei meu jeito...
Bia mostrou a Everaldão uma rodilha que tinha feito, com um buraco no meio. Mandou Everaldão colocar na estrovenga. A rodilha de pano tinha uns quatros dedos de espessura.
--- Pra que isso Bia?
--- Isso é um freio pra não entrar tudo.

E assim foi concretizado o casamento de Everaldão com Bia. Até hoje Bia tem receio da estrovenga de Everaldão, ainda usa o freio. Bia e Everaldão vivem felizes com seus filhos e netos.
MANOEL JULIÃO NETO

domingo, 9 de agosto de 2009

O CAPRICHO DE ZÉ GALEGO

Esse pequeno causo aconteceu na década de 70. Essa estória não foi que me contaram, assisti in-loco, eu estava lá. Ás vezes minha mulher Auxiliadora, reclama que eu exagero muito nas estórias que conto. Só que não é exagero, é porque eu conto como tudo aconteceu. Uma coisa que eu não sei fazer é inventar fatos e nem fantasiar. Vamos lá para o episódio, já conversei muito miolo de quartinha.
O Mercado Público de Pedro Avelino dava nojo entrar, tinha sujeiras por todos os cantos do prédio, uma coisa vergonhosa aquele ambiente comercial. Todos Prefeitos de gestões passadas não tinham conseguido colocar um zelador que deixasse aquele prédio público asseado, aquela imundice era a dor de cabeça da cidade e dos Prefeitos.
Eis que um dia chegou a nossa terra uma família proveniente da cidade de Areia na Paraíba. O chefe da família um senhor ruivo da cara pintada de sarda, que logo levou o apelido de Zé galego. O Prefeito na época era o Dr. João Adauto. Zé galego sabendo do problema do mercado foi falar com o Prefeito, lhe disse:
--- Dr. João Adauto onde eu morava existia esse mesmo problema fui convidado para tomar conta do Mercado de Areia na Paraíba. Tomei conta e dei conta, deixei aquele mercado um brinco, em matéria de limpeza eu sou Craque. Pode deixar aquele Mercado por minha conta, que deixo brilhando igual ao palácio da Alvorada. E digo ao senhor que não estou contando goga, quando digo que faço é porque faço mesmo.
Imediatamente João Adauto contratou o Paraibano como zelador do mercado, e também no final do ano, o vestia de Papai Noel para distribuir balas, chocolates e brinquedos para as crianças de Pedro Avelino.
Zé galego passou mais de trinta dias trabalhando na limpeza do prédio, deixou tudo uma beleza, tudo muito limpo e asseado, por gosto entrava-se naquele prédio. O zelador vivia em atividades constante, tinha mania por limpeza, não podia vê uma coisa suja, que ia limpar, pintou as balanças do mercado, pintou também as correntes e os ganchos de pendurar carne, limpou os encardidos dos azulejos, os sanitários podia se almoçar dentro, que não tinha fedentina. A bicicleta de Zé galego era a mais zelada da região, brilhava no sol, a espingarda reluzia, guardada em uma capa feita de flanela, o homem tinha mania de limpeza. Os cachorros vagabundos sem dono, que transitavam dentro do mercado, Zé galego tomou conta de todos, tirou os carrapatos, deu banho, fez uma limpeza geral, os cadelos do mercado andavam gordos e lustrosos nas unhas do zelador.
Nos sábados quando terminava a feira ele trazia a mulher, lavava o mercado todo, dava uma geral para homem nenhum botar defeito, só quem não gostava dele era os marchantes, o zelador roubava carne que era uma beleza, mas vamos deixar isso para lá, vamos falar das virtudes do zelador.
Bem gente, depois dessa explanação toda, vou dizer a vocês onde quero chegar. Certa vez, alguém usou o sanitário do mercado público e deixou lá depositado um tolete daqueles grandes, parrudos, com quase 35 centímetros de comprimento, por 6 de espessura, o danado era tão grande, que a metade do corpo ficou dentro da água e a outra metade ficava dormindo na parede do bojo, quando Zé galego viu aquilo gritou:
--- Quem é esse que está arrombado? Quem já viu um tolete desse tamanho, isso é coisa para quem tem as pregas curruti.
Zé galego imediatamente saiu chamando pessoas para vê o tamanho do tolete. O pessoal que estavam dentro mercado vieram olhar, Netão, Néo, Fausto, João Ferreira, Cícero Bernardino e outros mais. Todos se acotovelavam para vê o tamanho e a grossura daquele tolete fornido e aloprado. Uns diziam é de sicrano, outros diziam é de beltrano, ninguém descobria quem era o autor daquela obra prima. Quando Néo gritou:
--- Patrão ou é de Dedão ou de Bagadi!
Disseram a Dedão, que chegou dentro do mercado fumando numa quenga, encontrou Néo no local de D. Santina, perguntou:
--- Néo você anda dizendo que aquele tolete é meu? Você conhece o tamanho dos meus toletes pra dizer que é meu? Por acaso ele tem a minha assinatura?
--- Olhe aqui patrão, eu não diche assim, eu diche que era de Bagadi.
Dedão saiu com raiva dizendo:
--- Coisa mais feia, até do tolete dos outros Néo toma conta.
Daqui a pouco chegou Bagadi procurando Néo, o encontrou na mercearia de Domingos, perguntou:
--- Neó você anda dizendo que aquele tolete do mercado é meu? É verdade?
--- Oi aqui patrão, eu não diche assim, eu diche que era de Dedão.
--- Você nunca me viu cagando para saber se o tolete é meu ou não? Porque eu só cago em casa, nunca caguei pra ninguém vê.
--- Pois não patrão, é assim mesmo, o povo inventa demais.
Ficou só nas perguntas, no disse me disse, que era de fulano era de beltrano, e não descobriram quem era o dono da obra.
Começou aglomeração dentro do Mercado, espirrava gente por todos os becos que davam para o quadro do mercado. João de Dionísio foi olhou para o bicho e saiu espalhando a notícia do tolete, chegando na prefeitura, passou o ocorrido para Antonio Clementino:
--- Antonio cagaram um tolete no sanitário da Prefeitura que dá uns 40 centímetros.
Antonio Clementino passou pela Bomba de gasolina de Zé Sobrinho e contou a Val:
--- Compadre Val cagaram um tolete no sanitário do Mercado que dava 45 centímetros.
E quem passava Val contava a estória do tolete, a cidade estava cheia da novidade.
Mulheres puxavam os filhos pelo braço em direção do Mercado, menino chorava por que não via o tolete, as mães os colocavam nos braços para verem o aloprado, os meninos ficavam olhando por cima dos ombros dos mais altos, formou-se uma festa inédita a presença daquele tolete. Téia de Gracinha vinha de carreira com o filho Joãozinho no pescoço, para ver a novidade, correu quase dois quilômetros, queria vê o tolete, chegando no mercado falou:
--- No bairro São Francisco estão dizendo que o tolete tem quase 50 centímetros, é verdade?
Carlinhos Canela respondeu:
--- De onde, olhe que você vê o tamanho do bruto.
Téia olhou, mediu de longe com o palmo estirado, falou:
--- Não é isso tudo que estão falando, deve ter uns 35 centímetros, o que GB4 cagou detrás da casa de Manel Quelé, lá nos dedinhos do campo do flamengo, matou doze pintos atolados. Generosa deu a molesta com ele.
Nessa confusão Xavier que trabalhava no cartório, disse:
--- Lá em Florânia, um sujeito cagou um maior do que esse. (Xavier na mentira não tinha panderista que acompanhasse).
O mercado Público estava repleto, gente se acotovelando para ver o tal tolete.
Nesse pega pra capar, Zé Galego Gritou:
--- Agora que todo mundo já viu, se afastem, vou buscar água para o tolete descer.
Zé galego pegou duas latas de vinte litros, colocou no calão. Foi buscar água no açude de Odilon para fazer o tolete desaparecer. Zé galego trouxe a primeira carrada dágua, despejou uma lata, o tolete rodou, rodou, não desceu, Zé galego despejou a outra lata, o tolete embiocou de cabeça abaixo, mas quando a água parou de rodar dentro do vaso sanitário, eis quem aparece novamente, o tolete. Novamente ficou com a metade do corpo dentro dágua e a outra metade fora, Zé galego puto de raiva, vai novamente ao açude de Odilon buscar outra carrada dágua.
Chico Diana na época era marchante desafiou:
--- Aposto uma grade de cerveja como esse tolete não desce com pouca água, só desce com muita.
Netão respondeu:
--- Á aposta é comigo, esse bicho já está combalido, inchado, com qualquer água ele desce.
Aposta fechada. Zé galego chegou com outro calão dágua, arriou o calão, foi buscar um tamborete no café de D. Cícera Guiné que ficava perto, subiu no tamborete, suspendeu a lata acima da cabeça. Com altura que estava despejando, a água descia com mais força, despejou a primeira lata, o tolete rodou e não desceu, as duas torcidas vibravam, uns torcendo por Netão e outros por Chico Diana, despejou a outra lata, o bicho desceu. Netão vibrava tinha ganhado a grade de cerveja, quando estava na vibração, lá vem o tolete botando a cabeça de fora, veio subindo devagarzinho, devagarzinho. Ficou com a metade dentro dágua e outra metade deitado no bojo. O quadro foi revertido, a turma de Chico Diana foi ao delírio. Zé Galego já puto de raiva disse:
--- Há tolete filho de uma puta de teimoso, mais agora ele vai se lascar comigo, ele não me conhece não, ele não conhece um Paraibano com raiva, eu quando estou com raiva, até eu mesmo tenho medo de mim.
E Zé galego suado, à camisa estava pregada nas costa, foi buscar outro calão dágua. O mercado já superlotado, todos rindo da teimosia do tolete. Nesse dia o feijão de um bocado de mulheres queimou, menino ficou sem ir para escola, todos intertido com a teimosia do tolete.
Chico Felix vinha da fazenda 30, entrou em D. Santina pediu:
--- Comadre Santina bote uma chamada de cachaça.
D. Santina colocou uma base de uns cinco dedos num copo Americano. Chico Felix Jogou na boca, engoliu de um gole só, como é do seu costume. Perguntou a D. Santina:
--- Que danado de tanta gente é essa comadre?
--- Há compadre Chico Felix, num sei não, dizem que é a estória de um tolete, o povo dessa terra faz folia com tudo, para esse povo de dentro do Mercado tudo é uma festa.
Chico Felix saiu e foi olhar, chegando lá olhou, voltou para o café de D. Santina.
--- Comadre Santina, o cabra que bota um tolete daquele é um sujeito afolozado, uma ruma de merda daquela, eu só vi fazer um boi manso que eu tenho na fazenda.
--- Eu não gosto dessas conversas. – falou D. Santina.
E lá vem Zé galego com outra carrada dágua, para descer o tolete. Zé galego entrou, arriou o calão, falou em voz alta e em bom tom:
--- Olhe aqui tolete filho de uma égua, você está me desafiando, agora vamos ver quem é mais teimoso, se é você ou eu.
Quando Zé Galego ia despejar a primeira lata, Chico Diana, gritou:
--- Espere ai Zé Galego. Quer apostar novamente Netão?
--- Já está apostado, já está valendo. – confirmou a aposta Netão.
--- Pode despejar a água Zé Galego.
E Zé Galego despejou as duas latas de uma vez. Ele despejou uma e João Cururu a outra. A água desceu com uma velocidade estrondosa. O tolete rodava, dava rabiçaca, dentro do vaso sanitário, que parecia uma cobra dando botes dentro dágua. A água rodopiou, rodopiou, e o marvado do tolete não desceu, é mole o quer mais?
Foi a alegria da galera, Chico Diana ganhou novamente a aposta, correu pro abraço. Tinha ganhado mais uma grade de cerveja.
Zé Galego já estava afobado, com raiva, daquele empurra, empurra dentro do sanitário apertado, pedia:
--- Vocês querem sair daqui de dentro, o povo daqui é muito besta parece que nunca viram um tolete.
E saiu novamente para buscar água no açude de Odilon, que era um pouco longe, ficava por trás da Prefeitura.
Os meninos que jogavam bola no Rio, onde hoje é a ponte, souberam da notícia, chegaram de carreira para ver a novidade, na frente vinha Nininho de Zé dos Barris, com a cara vermelha, um calção velho sujo, e duas listras de catarro amarelo escorrendo do nariz, quando o catarro ia chegando nos beiços, ele puxava, o catarro subia, não passava um segundo lá vem novamente as duas listras de catarro descendo novamente, e Nininho puxava, e assim o galego velho passava o dia todo puxando as duas listras. E Nininho foi logo perguntando:
--- O tolete já desceu?
Luiz Gordo que não arredava o pé do espetáculo, respondeu:
--- O João Tolete é teimoso, ainda está dando trabalho a Zé Galego, o bicho parece um cassetete de sordado.
Daqui a pouco passou Zé de Mãe vendendo jogo de bicho, Francalino gritou:
--- Esse Tolete foi Zé de mãe que cagou!
Zé de mãe sungou as calças, afobado como sempre, respondeu:
--- Esse tolete, é da P.Q.te.P, corno, filho de uma P. Eu ainda mato um cabra semvegonho desse. Eu não devo a nenhum corno de dentro de Pedro Avelino, procure a quem devo. Quando acabar um corno desse vem me chatear.
Zé de mãe sungou as calças, colocou o talão de jogo de bicho no bolso da camisa, e saiu com os pés de banda, para fazer o jogo de Valdir rabo cheio.
Lá vem chegando Zé Galego com o calão dágua, arriou, no chão, Chico Diana, olhou para Zé Galego e disse:
--- Zé Galego esse tolete só desce, se você for buscar o mar e jogar ai dentro.
---Olhe aqui Chico Diana, você não vai ganhar mais nenhuma cerveja de Netão, ele agora desce.
--- Duvido Zé Galego, duvido. Respondeu Chico Diana.
--- Olhe aqui tolete, eu nunca fui desmoralizado por ninguém, quanto mais por um bexiga de um tolete, eu vou mostrar, a esse tolete taludo sem vergonha, como é que um paraibano faz.
Todos perplexos com aquela conversa de Zé galego com o tolete. Ficou um silencio total, ninguém falava, todos esperando o que Zé Galego ia aprontar, era um empurra, empurra, silencioso. Assim como no dia que Zico bateu o pênalti contra a seleção da França e perdeu. Quando se deu fé, com ímpeto, com raiva, possesso, Zé galego agarrou esse tolete com as duas mãos e o estraçalhou, deixando o tolete parrudo totalmente esfarelado, aniquilado, depois despejou as duas latas dágua, e o sanitário ficou bem limpinho novamente. Zé galego estava exausto, enfadado, com os nervos a flor da pele, falou para a platéia, que assistia aquele espetáculo horrível.
--- Eu sou mais forte do que qualquer tolete que aparecer.
Zé galego foi aplaudido esfuziantemente pela galera presente, todos saíram para as suas casas, satisfeitos com a demonstração de bravura de Zé galego.
Só quem não estava satisfeito com aquele desfecho, era um menino, amarelo e sambudo chamado barbuleta (Genilson) que chorava sentado na calçada de Zé Simão. Canindé Barbeiro Botafoguense de quatro costado foi até ele, perguntou:
--- Por quê está chorando Genilson?
--- Não me deixaram vê o tolete, eu sou pequeno, quando me aproximava levava um empurrão, todo mundo viu menos eu, quando é que vou ter outra oportunidade, me diga?
--- Num chore, não esquente a cabeça com isso. Meu compadre Polodoro caga uns dos grandes, no dia que ele cagar um daqueles bem fornidos, levo você para vê. Tá bem?
--- Tá não, eu queria vê aquele que todo mundo viu. - respondeu barbuleta. - que continuou chorando sem consolo

MANOEL JULIÃO NETO
manoeljuliao2008@gmail.com

O PROFESSOR PETISTA



Graças a Deus, hoje está tudo bem, todos estão bem, ninguém reclama de nada, temos um novo Presidente da República, e o que é melhor, é do PT. Tanto que trabalhamos para isso acontecer, de todos os Brasileiros os que mais se esforçaram para eleger o nosso Presidente foi os professores, por isso fomos os mais beneficiados, de todas as profissões os mais bem remunerados são os professores. Agora vai tudo ótimo. O Brasil agora é um País democrático, as divisões de rendas são iguais para todos. Eu desde que recebi o canudo de professor, essa é a melhor fase da minha vida, o nosso Presidente está cumprindo direitinho tudo que prometeu na campanha, está seguindo os mesmos passos do Japão.
Eu e minha esposa trabalhamos na Educação, e o que percebemos dar para vivermos tranqüilo e dar para sustentar toda minha família que são seis pessoas. Tenho casa própria, carro novo, todos os anos troco de carro, meus filhos já viajaram para Disneylândia, quando saio de férias viajo com a patroa, só nós dois fazendo mais uma lua de mel.
Meus filhos têm estudo pago pelo Governo Federal até a Universidade, isso tudo de boa qualidade, não existe mais Escolas particulares e Faculdades particulares explorando a população, o nosso Governo acabou com o cartel. Os hospitais da assistência a todos sem discriminação, quando alguém está doente e não pode tem condições de ir até o hospital, mandam um médico juntamente com uma ambulância até a casa do paciente, o sistema de saúde do nosso país é 10, ninguém pode reclamar do governo, os repórteres da televisão não tem mais o que fazer nos hospitais, não existe mais nada errado no nosso sistema de saúde, tão pensando o que, somos um país de primeiro mundo. Só para dar um exemplo, nossas rodovias são invejadas pelo resto do mundo, não existe um buraquinho sequer no asfalto, os guardas rodoviários são honestíssimos, não aceitam propina de jeito nenhum, também são bem remunerados não precisam ser subornados.
Não falta trabalho, todos brasileiros vivem rindo a toa, isso aqui é um paraíso, não temos criança nas ruas esmolando, não existem mais casas de apoio ao menor infrator, estão todas fechadas. As escolas estão cheias de alunos, tem merenda escolar a bamburro, e de boa qualidade para todos, sem discriminação. O analfabetismo acabou, é zero no Brasil. O povo não passa mais fome, o programa do Governo Fome Zero acabou com essa ferida que existia no Brasil. A pobreza, já era, todos são de classe média. Corrupção isso é coisa do passado, nossos políticos é dá inveja a qualquer país. Podemos andar livremente nas avenidas e praias sem receio, podemos usar relógios, correntes de ouro no pescoço, pulseiras e celular, que não somos incomodados por ladrão, não existe mais isso nas ruas do nosso querido país, a nossa segurança é tinindo. Os presídios estão ás moscas, não existe delinqüência. Acabou os seqüestros, assalto a bancos e casas lotéricas, também não precisam, o salário mínimo é de 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais), é o maior da América do Sul, os países nossos vizinhos morrem de inveja do Brasil. A nossa floresta Amazonas está protegida, lá não entra mais madeireiros, tem policiais federais lá por todos cantos. O Governo Federal acabou com as ONGs estrangeiras na Amazonas, quem quiser implantar uma ONG estrangeira ter que ser no Nordeste, mas parece que ninguém quer. Não temos nada pirateado, as nossas fronteiras estão protegidas, principalmente no Paraguai, aqui não entra mais contrabando. Essa onda de crise e econômica, é coisa de país subdesenvolvido como os Estados Unidos, Alemanha, Canadá, se essa crise que está assombrando o mundo, quando chegar até nós, é uma marolinha de nada, perguntem ao nosso Presidente se ele não está se lixando para ela. O nosso país é onde pagamos menos impostos, os nossos juros são os baixos de todo mundo, nossa carga tributaria e condizente com a população do Brasil.
Eu mesmo falo por mim, nos governos anteriores, eu vivia num maior perrengue, dando aulas em quatro colégios para ganhar uma mixaria, dinheiro no meu bolso não parava, assim que recebia era só para entregar a quem eu devia, lá em casa se fazia uma economia de lascar, era só lingüiça, mortadela e frango, hoje é diferente eu num final de semana só tomo minha cervejinha com picanha Argentina. O professor hoje em dia no Brasil, tem o mesmo cartaz que tem os do Japão, somos considerados. Se o Dentista, o Advogado, o Farmacêutico, passam quatro anos na faculdade, o professor também, quem ensinou a esses formados desde a alfabetização? O professor, então temos que ser considerados, se esse povo estão todos formados, graças ao professor, por isso que nosso cartaz e imenso, incomensurável.
Eu mesmo estou me preparando para ir assistir a copa do mundo na África do Sul. Fui ao Pan-americano no Rio de Janeiro. O Ano passado fui ao Japão ver o meu ABC F.C. ser campeão do mundo em cima do Barcelona, também assisti Barrichello ser tri campeão do mundo de Formula 1, o que eu quero mais, todo esse turismo que faço, é com o meu salário de professor. Nunca mais ninguém viu professores fazendo greve por melhores salários, não tem precisão deles irem com carros de som atravancarem as ruas. O que eu quero mais, todos os meus sonhos como professor foram realizados.
Rapidamente ecoa um grito estridente, daqueles de doer nos ouvidos:
--- Brasiliano Patriota, levanta, são 6:00 horas da manhã, o bujão de gás secou, a CAERN cortou a água, vá lá em seu Joaquim comprar um bujão gás fiado, pede dinheiro a ele emprestado para religar a água, traga pão e margarina para as crianças tomarem café.
--- Alzira eu corrigi prova até de madrugada, deixe eu dormi mais um pouco. Agora que estava tendo um sonho tão bom, quando você mete o grito pra cima.
--- Não senhor, levanta, corre, as crianças já estão prontas para ir para escola. Corre vai a bodega seu Joaquim fazer o que eu mandei.
--- A conta está muito grande lá em seu Joaquim, já tem duas paginas do caderno cheia, e o mês passado eu só dei a metade, o homem já está trombudo comigo.
--- Eu não quero saber disso, dê seu jeito, vá pedir a Lula você num é tão apaixonado por ele. Te viraaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!


Manoel Julião Neto