sábado, 15 de maio de 2010

CONSELHO DE MÃE VALE MAIS DO QUE OURO

No ano de 1989, eu trabalhava no BANDERN na cidade de Assu, quando de repente saiu á notícia no Jornal Nacional: Fernando Collor de Melo fechou vários bancos estaduais, inclusive o Bandern, melhor liquidou. Ficamos todos de mãos na cabeça, não se sabia o que fazer. Presenciei muitos colegas chorando desesperados, como iriam sustentar suas famílias, foi um clamor para todos os funcionários da empresa liquidada.
Eu não tinha muitos problemas minha esposa trabalhava na Prefeitura de Pedro Avelino e era professora do Estado, o que ela ganhava dava para sustenta a nossa família. Fiz minhas trouxas e vim embora para Pedro Avelino aguardar o que ia acontecer.
Fazia dois meses que não recebíamos dinheiro, e a vida estava ficando ruim, todo o dinheiro era medido e contado. Andando pelo centro da cidade, Eriberto Maciel que também trabalhava no Banco me deu a notícia:
--- Vai sair dois meses de pagamento amanhã no centro administrativo em Natal.
--- Como!
--- Colocaram uma agência do BANESPA, para pagar o pessoal do Estado e do Bandern.
No outro dia o pessoal viajou para Natal receber o dinheiro, eu não fui, ainda iria arranjar o dinheiro da passagem para poder ir a Natal pegar o meu pagamento e de minha mulher.
Arranjei emprestado o dinheiro da passagem e uns trocados para fazer um lanche na cidade de Cachoeira do Sapo onde o ônibus da Empresa Cabral parava para os passageiros tomarem o lanche da manhã.
O ônibus passava de 5.30 hs, eu de 4.30 hs, já estava me ajeitando para viajar, a minha mulher ainda deitada, disse:
--- Calce esses sapatos novos, senão vai se acabar dentro dessa caixa, sem nunca você ter usado.
Eu só sei que me emperiquitei todo e fui esperar o ônibus em frente ao Hospital Governador José Varela. Peguei o bendito ônibus e saímos com destino a Natal, também levava a identidade da minha mulher para receber o pagamento dela.
Chegamos em Cachoeira do Sapo, o ônibus parou, todos os passageiros desceram para tomar café. Fui ao balcão e pedi:
--- Quero um café com leite e uma tapioca.
O dinheiro que tinha só deu para pagar o lanche, e também só tinha dois cigarros numa carteira, fumei um e fiquei com outro. De repente chegou Maria viúva do finado titico soldado e disse:
--- Manoelzinho me arranje um cigarro!
Só tinha um, dei para ela e joguei a carteira vazia fora. Fiquei sem cigarro e sem dinheiro, mas iria receber dois meses de pagamento e mais os dois meses da mulher. Daria tudo certo quando chegasse em Natal.
Saltei do ônibus em frente a ALCANORTE, hoje SEBRAE, e desci para o centro administrativo. Os sapatos novos começaram apertar meus pés, e a caminhada era longa, os meus dedos estavam pegando fogo, já tinha dos calos nos calcanhares, mas estava agüentando firme, chegando no prédio que estavam distribuindo os contra-cheques, pedi o meu, dei meu nome e o número da matrícula. A atendente procurou e não encontrou, procurou em outro lote e nada. Então me perguntou:
--- Você trabalhava a onde?
--- Em Assu, respondi.
--- Então o senhor faz parte do sindicato de Mossoró, e o seu contra-cheque foi para lá.
--- E agora?
--- O senhor tem que ir a Mossoró receber.
Sai desconfiado, naquelas alturas não tinha dinheiro para ir a Mossoró. Então resolvi entrar na fila do BANESPA para receber o da minha mulher, a fila era enorme, passei mais de duas horas até chegar no caixa. Entreguei a identidade da minha mulher para o caixa, que me disse:
--- Cadê sua esposa para assinar os contra-cheques?
--- Não está aqui.
--- Então eu não vou pagar, ela tem que assinar.
Fui conversar com o gerente, que também me deu o negativo, minha esposa tinha que está presente para assinar. Nada feito, nem recebi o meu e nem o de Auxiliadora. E agora o que vou fazer, liso sem um tostão no bolso, com sede, com fome, e com os pés cheios de calo. Sai andando que parecia um pato, os pés queimando que nem brasa, e fui me sentar na calçada da ALCANORTE para descansar um pouco.
Resolvi ir a pé para Rodoviária, lá encontraria alguém de Pedro Avelino, tomaria dinheiro emprestado e vinha embora. Assim mesmo fiz. Sai mancando, com vontade de jogar os sapatos fora e sair de pés descalços, o martírio era grande. Não podia ver uma sombra que me sentava, só sei que aos troncos e aos barrancos cheguei na rodoviária. Tomei água num bebedouro público, e sentei num banco para descansar, estava escorraçado, cansado, não tirei os sapatos, porque se tirasse os pés não entravam mais. Eu ali sentado me deu vontade de chorar, de gritar, estava com fome, só tinha comido uma tapioca e um café com leite, também estava com vontade de fumar, era um desespero total, e não passava um conhecido. De repente vi um colega de Banco que trabalhava na cidade de Serrinha entrando na rodoviária, criei alma nova fui até ele.
--- Álvaro me empreste cinco reais. (vamos usar a moeda atual).
--- Na hora, quando você me paga? perguntou
--- No dia que eu me encontrar com você.- nunca mais encontrei com ele.
Corri e fui até guichê da Empresa Nordeste comprar uma passagem até Lajes do Cabugí.
--- Amigo qual o ônibus que sai agora que passa por Lajes do Cabugí?
--- O da cidade de Apodi!
--- Então me dê uma passagem até Lajes, quanto é?
--- Sete reais
--- Dá para fazer por cinco?
--- Não amigo, por aqui não, mas vá para frente da rodoviária e diga ao cobrador que eu mandei ele fazer isso para você.
Corri até a frente da rodoviária onde estava estacionado o ônibus que se destinava a Apodi. Aproximei-me do cobrados e disse:
--- O homem do guichê da rodoviária, disse que você fizesse a passagem para Lajes do Cabugí por cinco reais.
--- O cara recebeu o dinheiro e disse:
--- Entre e sente no último banco. Assim fiz.
O ônibus tomou o rumo a BR 304. E eu sofrendo com os calos nos pés, já não estava agüentando mais, se tirasse os sapatos, os pés não entraria mais naquele sapato infeliz.
Quando o ônibus se aproximou de Parnamirim, na curva que dava para a cidade de Macaíba, senti um cheiro de queimado, de repente o ônibus encheu de fumaça, o motor que ficava na parte de trás, estava pegando fogo, o motorista parou mandou descer os passageiros. Rapidamente os funcionários da Loja de caminhão VOLVO que o ônibus parou em frente, chegaram com os extintores de incêndio e apagaram o fogo. O motorista telefonou para empresa para mandarem outro ônibus. Mandaram um desgraçado de um ônibus velho, cheio de poeira, faltando bancos, uma verdadeira sucata. Isso já passava de 12 hs. Quando chegou em Macaíba, precisamente na entrada da Escola Agrícola de Jundiaí, estava Luiz Barbosa com bem 10 sacos de mangas para embarcar no ônibus. Luiz Barbosa entrou, sentou-se a meu lado, vínhamos conversando animadamente, quando de repente na descida de Ponta de Serra, o ônibus começou a fazer zigue zague, no asfalto, e o motorista tentando controlar o ônibus, e a gritaria do povo, menino chorava mulher gritava, foi um inferno, por fim o motorista conseguiu estacionar no acostamento. O pneu dianteiro do ônibus tinha baixado. Pneu trocado iniciamos novamente nossa viagem para Lajes. Eu e Luiz Barbosa ficaríamos na entrada de Pedro Avelino que era mais fácil de pegar carona. Em Lajes o motorista desceu para almoçar, passava das 13 hs. E eu morrendo de fome e sede e com vontade de fumar. Falei para Luiz Barbosa:
--- Luiz tem dinheiro?
--- Tenho, quanto quer?
--- um real para comprar uma carteira de cigarro.
Luiz me deu o dinheiro, e fui comprar o cigarro no Posto Militão, quando cheguei que pedi a carteira de cigarros que entreguei o dinheiro, o rapaz falou:
--- Cigarro aumentou, agora é um real e vinte centavos.
Voltei e fui pegar o restante com Luiz Barbosa. O motorista terminou de almoçar, entrou no ônibus para continuar a viagem, logo nos deixou na entrada de Pedro Avelino. Disse para Luiz:
--- Estou morrendo de fome!
--- Bem Manoelzinho tem manga aí, só está quente, se quiser pode botar a boca pra cima e chupar até a derradeira. – não me atrevi.
Ficamos esperando carona. Eis que surge Getúlio no seu fusquinha azul que vinha de Assu. Ofereceu-me carona, aceitei, Luiz Barbosa ficou esperando um caminhão que vinha para feira, para embarcar os sacos de manga. Sentei no banco de trás, no banco do carona vinha Clodomil filho de João de Culó, com uma lata com água e uma flanela, e o fusquinha vinha esquentando a bobina, quando esquentava de vez, o fusquinha parava, Clodomil abria a tampa do motor do fusquinha e esfriava a bobina com a flanela molhava, cada vez que parava, passava mais de vinte minutos para a bobina esfriar, já tínhamos parado três vezes. Luiz Barbosa já tinha passado com os sacos de mangas em cima de um caminhão, e eu ainda estava no caminho. E essa viagem se arrastava nesse sofrimento, passava da quatro da tarde. Quando chegamos perto do trangola, a água acabou, Clodomil foi a procurar de água na casa dos Barbosa. E eu fiquei conversando com Getúlio, enquanto a água chegava.
Aproximava-se Rômulo Pinheiro na camionete da Usina, parou, perguntou:
--- Estão precisando de alguma coisa?
Getúlio contou a situação, e eu pedi a Rômulo para me trazer até Pedro Avelino, que não fez questão, entrei na camionete. Vínhamos conversando animadamente quando íamos chegando no alto de Hildinei, a camionete baixou dois pneus.
--- Eu disse Rômulo, eu vou a pé, passo na usina, e aviso a Sabino para vim aqui tirar vocês do prego.
Assim mesmo fiz, sai a pé, já não aguentava mais os sapatos, os tirei, e sai andando de meias pelo acostamento, quando de repente saiu de dentro das juremas dois jumentos a trás de uma jumenta, quase me atropelam. Só sei que consegui chegar na usina dei o recado, e tirei para casa, desconsolado e liso.
No outro dia fui contar toda essa estória a minha mãe, ela disse:
--- Sabe o que foi isso, a tapioca que você comeu em jejum, qualquer coisa de goma comendo em jejum dá o maior azar do mundo, eu já tinha lhe dito isso, mais você não toma os meus conselhos.
--- Quer dizer que esse azar todo, foi por causa da tapioca?
--- Foi! – Assim confirmou D. Edite, que Deus a tenha em bom lugar.





A ARCA FURADA

Noé era um homem justo e perfeito no meio dos homens de sua geração, ele andava com Deus. Noé teve três filhos: CEM, CAM e JAFET.
Um dia Deus foi até a casa de Noé e disse: faze para ti uma arca de madeira resinosa, divida em compartimentos e a untarás de betume por dentro e por fora. E eis como farás: seu comprimento será de trezentos côvados*, sua largura de cinqüenta côvados, e sua altura de trinta. Farás no cimo da arca uma abertura com dimensões de um côvado, porás a porta da arca a um lado, e construirás três andares de compartimento.
Eis que vou fazer cair um dilúvio sobre a terra, uma inundação que exterminará todos os seres que tiver sopro de vida debaixo do céu. Tudo que está sobre a terra morrerá. Mas farei uma aliança contigo: Tu entrarás na arca com teus filhos e com tua mulher e as mulheres do dos teus filhos. De tudo que vive, de cada espécie de animais, farás entrar na arca dois, macho e fêmea, para que vivam contigo. De cada espécie de aves e de cada espécies de quadrúpedes, de cada espécie de animais que se arrastam sobre a terra entrara um casal contigo. Tomarás também contigo de todas as coisas para comer, armazená-la-ás para que te sirvam de alimentos, a ti e aos animais.
O senhor lhe disse: dentro de sete dias farei chover sobre a terra durante quarenta dias e quarenta noites. E Noé fez tudo que o Senhor tinha ordenado. E romperam-se naquele dia todas as fontes do grande abismo, e abriram-se as barreiras dos céus. E a chuva caiu sobre a terra por quarenta dias e quarenta noites, as águas encharcaram e levantaram a arca, que foi elevada acima da terra.
Tudo foi exterminado, só escapou Noé e os que se encontram com ele na arca. As águas cobriram a terra pelo espaço de cento e cinqüenta dias. Passado todos esses dias, Deus lembrou-se de Noé e de todos os animais, fez soprar um vento sobre a terra e as águas baixaram, e a arca de Noé parou sobre as montanhas de Ararat.
No final de quarenta dias, Noé abriu a janela que tinha feito na arca e deixou um corvo sair, o qual saindo, voava de um lado para o outro, até que aparecesse terra seca, soltou também uma pomba, para vê se as águas já teriam diminuído na face da terra. E eis que pela tarde a pomba voltou, trazendo no bico uma folha de oliveira. E assim Noé compreendeu que as águas tinham baixado sobre a terra, mandou seu filho Jafet descobrir o teto da arca, olhou e viu que a superfície do solo estava seca.
Então falou Deus a Noé: sai da arca com tua mulher e teus filhos, e as mulheres dos teus filhos. Faz sair igualmente contigo todos os animais, aves, quadrúpedes e répteis, para que cresçam e se multipliquem sobre a terra.
E Noé levantou um altar ao senhor, e imediatamente Deus chamou Noé e disse: Noé vou construir o mundo junto com você.
E fez as cidades, os oceanos, as florestas, os rios, e as geleiras, e disse:
--- Veja como ficou bonito o mundo Noé?
E Deus foi saindo, caminhando vagarosamente escorando-se no seu cajado, e Noé ficou de cabeça baixa pensando, em tudo que Deus tinha lhe dito, e gritou:
--- Mas senhor, dizem que o senhor escreve certo por linhas tortas, não estou vendo nada disso.
--- Como assim Noé?
E Noé lhe respondeu:
--- Tem países que o senhor lhe deu um deserto árido sem chuvas. Na África o senhor deu a fome e a pobreza. Nos Estados Unidos, Canadá e na Rússia, o senhor deu tufões, furacões, terremotos, na América do Sul, você deu aos países furacão, tempestades e vulcões, na Ásia até tsunami o senhor deu, porque só livrou a cara do Brasil?
--- Você quer saber demais Noé!
--- Ao Brasil o senhor deu as praias mais bonitas do mundo, a floresta amazônica, um pantanal lindo, a oitava maravilha do mundo que é o carnaval, com aquelas mulatas gostosas rebolando, o melhor futebol do planeta, penta campeão do mundo, nada de ruim o senhor deu ao Brasil. Será que é porque dizem que o senhor é Brasileiro?
Aí senhor voltou-se e escorou-se no seu cajado e respondeu:
---É aí que você se engana Noé. Ao Brasil eu dei os “POLÍTICOS MAIS CORRUPTOS E DESONESTOS DA FACE DA TERRA, AQUELES QUE ESCONDE DINHEIRO NAS MEIAS E NA CUECA. Thauzinho Noé.
*Côvado – antiga medida de comprimento que tinha 3 palmos, e correspondia a 66 cm.