segunda-feira, 26 de abril de 2010

A BODEGA DE SEU JAIME

Bem do lado Sudoeste do Mercado Público Municipal ficava a tão cantada e decantada bodega. Lembro-me bem da fisionomia do seu proprietário. Era um homem calmo, compreensivo e que sabia conduzir aquela taberna tão do povo.

A mercearia tinha pouca iluminação, um cheiro forte de fumo e muito freqüentada tantas vezes por dia. Lá poderíamos encontrar pavios, lamparina, urupemas, esteiras, vassouras, querosene e cereais.

Entretanto o que fazia a diferença era variedade de cachaça que o mesmo comercializava. Façamos uma viagem no tempo para lembrarmos dos nomes de algumas delas: Dois tombos, canta galo, chora na rampa, língua de sogra, olho D’água, Guaru, pitu e uma Ana mole de 1ª cabeçada que era preparada por Chico do Enchimento e Chico Paulo que quando se colocava no copo, fazia logo um rosário. Ainda tinha Vinho de Jurubeba, Cinzano, quinado, São João da Barra e Zinebra ou Genebra Gato.

Se a bodega era famosa, famosos também eram os seus fregueses. Dentre muitos lembraremos os mais assíduos: Diomedes, Tio Eugênio, Tio João da Costa, Chico Xexem, João Lopes, a Velha Bola, Nelson e Maria Chica, Manoel Toucinho, Joaquim Rato e Elisa, João Quixá(pai) Capão e seus meninos, Cirilo, Fernando e Júlio, a Velha do preso, João Rajado, os miguéis, Fiel, Chico Gasolina, Seu Vicente, Segundo, José Veríssimo, Chico Português, Gregório, Manoel Pedro Marcelino, João Rosa, José Targino, Cleto, Israel, Chico Duvidoso, Franscisquinho, Chico Dantas, Joaquim Brás, Pedro Guarda, Relâmpago, Manoel Mulato, José Tenente, Chico Macaco, O mudo, José Pade, Pernambuco, Floro, Guachelo e Chico Raposa, Chico Paulo, Pedro Guarda e muitos outros que me falha a memória.

O mais interessante era maneira de pedir uma de cana:

--- Seu Jaime, bote uma da que matou o guarda!

--- Bota uma da que matou Tio João da Costa!

--- Seu Jaime bote uma de come o figo!

--- Seu Jaime bote uma de quando não mata aleja!

O nosso grande poeta e saudoso amigo Hermógenes Tenente fez uma glosa com a mais famosa bodega

A cachaça de Seu Jaime

É ruim de dá pipoco

Matou a velha bola

Deixou Segundo Louco

Floro Bem intoxicado

Chico Português bem rouco.

A cachaça era pagã

Seu Jaime batizou,

Fiel foi o padrinho

Segundo apresentou,

Chico Português anda bem prejudicado

Foi gripe que apanhou

No dia do batizado.


E assim durante muitas décadas, aquele pequeno mundo foi o ponto de convergência de muitos amigos, que passavam momentos felizes e angustiosos, mas sem nuca ter deixado de ser um ambiente ordeiro e de muita paz.


João Bosco da Silva

Professor, Escritor e Poeta, e um dos Apaixonados pela sua terra Pedro Avelino.

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