quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

As astúcias de Ludugero

Luciano era um menino feio (ainda hoje é) que se encostou à casa de Seu Luiz Cadó, e logo foi considerado como de casa, era muito mimado por todos, e também lhe colocaram o apelido de Ludugero (por causa do artista Coronel Ludugero que fez sucesso nos anos sessenta).
Ludugero começou a chegar da escola amuado, não por causa do apelido, era porque ele dizia que fazia parte da família Cadó, só que na caderneta escolar da professora não tinha o sobrenome Cadó. Isso passou muito tempo, e Ludugero não se conformava, morava dentro da casa dos Cadós, diziam que ele fazia parte da família, e porque o sobrenome dele não tinha Cadó? Seu Luiz com pena dele combinou com a família e foi até o cartório e o registrou como filho. Ludugero dava saltos de alegria, os meninos da Escola Abel Furtado não lhe chateariam mais, na caderneta da professora estava lá Luciano Cadó.
Ludugero cresceu dentro da casa dos Cadós com todo cartaz como um filho légitimo. Tinha a liberdade de dirigir todos os carros, até trator, tinha liberdade total. Olavo, Gracinha, Ozair e Manoel Cadó davam o maior cartaz ao menino que criaram como irmão. Ludugero completou quinze anos, e aprendeu a beber cachaça, bebia como gente grande, chegava em casa fora de hora, estudava na Escola Paulo VI, quando chegava em casa era embriagado fazendo barulho dento de casa. Mesmo com essas capiloçadas tinha a confiança de todos, e ajudava no comércio de Luiz Cadó, todos de Pedro Avelino o tratavam como da família Cadó. O tempo foi passando e Luciano não largava a birita, o cartaz dele começou a ficar em baixa, a família não estava mais agüentando as tribuzanas que Ludugero fazia. Quando ele viu que os Cadós não estavam mais agüentando a vida que ele levava, mudou-se para casa de sua mãe legitima, mas não dispensava as refeições da casa de Seu Luiz Cadó, todos os dias ia fazer a sua boquinha.
Luciano Cadó ficou adulto, bebia todos os dias, levava uma vida desregrada na cachaça. Todos sentiam o que Ludugero estava fazendo com ele mesmo, foi um menino bem criado, com direito a tudo, e agora não ligava para mais nada, sua vida de cachaça estava estragando sua amizade com o pessoal dos Cadó, só que a cachaça tem dessas coisas, quando vicia, ninguém ver mais nada na sua frente que não seja as bebedeiras e as farras. Ludugero tomava dois porres por dia, não tinha limites, por mais conselhos que recebia, não atendia a ninguém.
Naquele dia Luciano acordou vendo bicho, eram guinés em cima de sua rede, vacas dentro do quarto. Quando Luciano começava a ver bicho era porque a situação estava ficando feia, estava na hora de fazer um tratamento, ele entendia isso e dava um tempo na birita, depois começava tudo novamente.
Um certo dia Luciano Cadó extrapolou, Ludugero estava vendo avião, navio passando em frente a sua casa, uma suor frio tomava conta do seu corpo, estava vendo toda qualidade de visagens e assombrações. A família que lhe criou estavam todos preocupados com a situação de Luciano, que saía na rua e dizia:
--- Saiam da frente senão vocês irão ser atropelados por esses elefantes que estão passando em frente da estação.
Os que lhe criaram notaram que Luciano não estava bem de saúde, que estava precisando ser internado para se tratar, não podia ficar naquela situação. Foram ao Hospital José Varela, falaram com o médico de plantão, que deu a guia de internação para o Hospital João Machado, enquanto isso Luciano continuava enrolado num lençol no meio da rua. O médico aplicou uma sossega leão em Ludugero, que logo adormeceu na maca da ambulância. Só estava existindo um problema, alguém tinha que acompanhar Luciano até o Hospital até Natal. Gracinha Cadó não encontrava uma pessoa para acompanhar Luciano, Olavo Cadó irmão de Gracinha não podia, iria para propriedade cortar terra, ela não podia, a tarde daria aulas Escola Josefa Sampaio Marinho, tinha que aparecer alguém, Luciano não poderia ir só. Eis que surge de repente Ozair Cadó perto da linha do trem, vinha se arrastando, cabeça baixa, barba branca, a camisa rasgada nas costas, as chinelas havaianas com as tiras de cores diferentes, cabeludo e com uma ressaca de lascar, estava com as feições muito esculhambadas, a cara parecia um caneco amassado. Quando Gracinha avistou o irmão disse:
--- Pronto, Ozair é o acompanhante de Luciano.
--- Vou uma porra!
--- Só quem está desocupado é você Ozair!
--- E daí? Quem tiver seus doidos que tome conta, comigo não.
Finalmente Ozair concordou em ir, mas pediu:
--- Primeiro vou em casa tomar um banho e trocar de roupas.
--- Não precisa, é só chegar no Hospital entregar a guia de encaminhamento, e vir embora, você não vai para nenhuma festa.
Luciano dormia na maca da ambulância chega ressonava. Empurram Ozair para dentro da ambulância de qualquer maneira, fecharam a porta traseira, e mandaram o motorista pegar a estrada com destino a Natal. Ozair pegou no sono, e o motorista sentou o pé na ambulância, queria chegar logo a Natal, antes que Luciano acordasse. Quando iam passando pela cidade de Santa Maria, Luciano despertou da injeção sossega Leão, olhou em sua volta, viu Ozair roncando do seu lado, e o motorista reclamando que estava com dor de barriga. Mas Luciano Cadó ficou na dele, fingindo que estava dormindo, mas estava mesmo era morrendo de sede. Luciano já estava raciocinando normalmente, e colocou na cabeça que não ficaria internado em Hospital de doido, não era doido, estava apenas com uma crise nervosa.
O motorista se torcia com dor de barriga, Ozair roncava, estava de sono ferrado. Luciano avistou o Hospital Walfredo Gurgel, pensou: está perto de chegar o Hospital João Machado, é só dobrar a primeira rua á direita. Viu os papéis de encaminhamento para internação perto de Ozair, com seu nome, pegou as guias e escondeu. O motorista entrou no pátio do Hospital, estacionou a ambulância, abriu a porta traseira e falou:
--- Ozair leve Luciano lá para dentro para internar, que vou procurar um sanitário para cagar, estou morrendo de dor de barriga.
O motorista foi dizendo isso, e fez carreira a procura de um sanitário. Luciano desceu da ambulância com o encaminhamento na mão, Ozair com a cara de ressaca e a barba por fazer, vinha atrás. Chegando no pronto socorro, tinha dois enfermeiros que pareciam lutadores de Box. Luciano dirigiu-se aos enfermeiros e disse:
--- Estão vendo aquele velho que está fumando ali?
--- Estamos!
--- Ele está doidinho, e quando ele está assim fica muito valente, aqui está o encaminhamento para internação, o nome dele é Luciano Cadó, tomem cuidado, esse doido é uma fera quando está em crise de abstinência de cachaça.
Os enfermeiros partiram para pegar Ozair, já iam munidos com uma camisa de força.
--- O que é isso?
--- Ora o que é isso vamos!
--- O doido não sou eu não, é ele, Luciano Cadó, eu sou Ozair Cadó, vocês estão trocando de doido.
--- Vê se eu me pareço com doido? Todas as vezes que ele está em crise faz desse jeito.
Ozair saiu correndo pelos corredores largos do Hospital João Machado, e os enfermeiros atrás com a camisa de força aberta, pegaram Ozair, colocaram no chão, e vestiram com a camisa, Ozair todo inquirido com a camisa gritava:
--- Ludugero filho de uma puta, filho de rapariga com soldado de polícia, quando eu te pecar vou te lascar.
--- Vocês estão vendo como ele é agressivo?
--- Estamos!
--- Bem Luciano, fique ai quietinho, que logo, logo, você estará recuperado. Quanto a vocês enfermeiros, muito obrigado. Ele é um bom homem, mas quando fica louco agride a todos.
--- Ludugero filho de rapariga, eu ainda te pego. Esse troço foi papai que criou, e agora está me sacaneando. Quando ele era pequeno foi eu que o ensinei a dirigir, levava ele para o cabaré, ele hoje me paga assim.
--- Calma garotinho, você vai ficar bom.
--- Não me chame de garotinho, fresco sem-vergonha.
Dizendo isso Luciano saiu, levaram Ozair aos emboleus para dentro do hospital. Luciano quando chegou no pátio do hospital, avistou o motorista encostado na ambulância esperando Ozair. Luciano deu a volta e saiu se escondendo por trás dos pés de mangueiras, ganhou a rua e Ozair ficou internado no lugar dele. Saiu a pé para hospedaria Central, lá pegou uma das Kombi de Arnoud, veio embora para Pedro Avelino.
Chegando em casa Gracinha Cadó perguntou:
--- Cadê Ozair?
--- Ficou internado no meu lugar.
No outro dia, Gracinha foi a Natal, liberar Ozair do Hospital João Machado e desfazer o que Luciano aprontou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário