terça-feira, 4 de janeiro de 2011

PIRRITA VULGO LUIZ MENDES

Na década de 70, encalhou aqui na cidade de Pedro Avelino, um sujeito novo, magro que jogava muita bola, não era assim um Cristiano Ronaldo, mais dava para enganar. Logo se adaptou muito bem aos costumes da terra, esse sujeito tinha o nome de Luiz Mendes, não é aquele comentarista esportivo da Radio Globo, é pirrita. O sujeito abandonou sua terra natal lajes, para ficar por aqui. Esse cara sempre fez parte de algumas de minhas histórias.

Pirrita nunca trabalhou, vivia vagando pelo centro da cidade tomando aguardente. Às vezes as autoridades da terra tinham compaixão dele e o inscrevia nas emergências que aparecia, só para ganhar o dinheiro, trabalhar que era bom nada.

Começou um namoro com ovelha filha de cipó preto, teve vários filhos, já tinha netos. Nunca possuiu uma casa para morar, sempre dormia na rua, principalmente na lavanderia que fica no conjunto da COHAB.

E pirrita foi levando a vida na farra e na cachaça, pedia um trocado um pedia um trocado a outro, era assim sua vida. Foi internado varias vezes no hospital para tratamento, mais sempre dizia que adorava cachaça, e que iria morrer bebendo, e foi isso que aconteceu.

No dia 02.12.2010, pirrita faleceu, e seu último pedido foi ser sepultado na sua terra, a cidade de Lajes. No velório compareceram os amigos de cachaça e de esbórnia. Quando a notícia do falecimento de pirrita chegou no centro da cidade, o alvoroço dos pinguços foi grande, uns contavam suas bondades e outros as suas ruindades. Os pinguços seus intrigados vibraram, e outros ficaram compadecidos.

Ás sete horas da noite juntou-se os pinguços e foram fazer o velório do amigo, munidos de aguardente e tira gosto de bolacha seca, iriam passar a noite velando à despedida do amigo, até os inimigos foram. No meio deles estava um locutor de eventos e pinguço chamado José Dutra da Costa. Chegando na casa de cipó preto onde o corpo estava sendo velado, a sala estava repletos de parentes e vizinhos, quando chegou á turma do álcool para fazer sua despedida.

--- Zé Dutra tu que és mais letrado, diz alguma coisa. – pediu lagatão

--- Porra lagatão, já estou melado o que danado eu vou dizer?

--- Qualquer merda que tu disser aí está valendo.

--- Bota uma pra mim que eu vou fazer uma despedida.

Colocaram três dedos de cachaça para Zé Dutra, tomou, colocou uma bolacha na boca, temperou a garganta, com todos os amigos do defunto presente, com a voz imitando o seu primo o ex-deputado José Adécio, começou a despedida verbal:

---Amigo pirrita, com a voz embargada, que em meu nome e em nome dos pinguços da cidade Pedro Avelino, que estou lhe fazendo essa homenagem. Eu que também sou pinguço, e que já estou com a cara deformada, os pés inchados e com fígado baleado, me sinto na obrigação te dizer.

Deu uma pausa, e disse:

--- Bota mais uma pra mim que estou neuvoso.

--- Porra Zé Dutra, começa logo a porra dessa despedida precisa de tanta frescura.

--- Calma chambão, também não é assim, tudo tem que ter um preparo.

Zé Dutra engoliu a cachaça e disse:

--- Continuando. Vai pirrita, vai, vai para o céu, tu que só fez merda na sua vida, hoje estás partindo para o lado de lá. Mais chegando lá, não estarás só, Pedrinho de Chico Câmara, João de Chico Câmara, Canindé de Chico Câmara, Paulo de Chico Câmara, Chapéu atolado, totonho, João Cururu e outros mais estarão a tua espera. Não esqueça que aqui ainda ficaram muitos pinguços que em breve estarão lhe fazendo companhia. Xola quase que vai, mais foi alarme falso a morte dele, que anda pelas ruas de PA, com o bucho inchado e todo pelado.

Pirrita quando lhe davam conselhos para você parar de beber, você dizia, eu gosto de cachaça, e está aí o seu fim, dentro de um caixão estirado com a cara toda deformada, deixou sua querida esposa ovelha com vários filhos para criar, e seus netos choram sua morte. Mais não tem nada não a vida é assim mesmo, nós todos vamos continuar bebendo e lembrando das cadeias que você levou quando fazia suas besteiras. Pirrita você chateou muita gente, dentro do mercado pedindo dinheiro para comprar meiota de cachaça, até Chico bola que é o bêbado mais chato de Pedro Avelino não lhe agüentava, mas depois da morte se perdoa tudo.

Vai pirrita, para o além e nunca se esqueça que um dia todos nós estaremos juntos para bebermos todas lá em cima. Tenho dito.

A família de pirrita estava toda chorando com a bela despedida que Zé Dutra, fez para amigo de cachaça.

Pela manhã o carro da funerária seguiu para a cidade de Lajes para sepultarem o biriteiro pirrita, e os seus amigos ficaram dando o último adeus.

Em tempo: Zé Dutra no outro dia foi para o hospital tomar soro, está com um dos rins paralisado, se recupera em casa, e diz que nunca mais vai beber. Não acredito.

Manoel Julião Neto

Um comentário:

  1. Pirrita me fez lembrar de "Quincas Berro D'água" de Jorge Amado. Parabéns!

    Cláudio-82

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