quinta-feira, 30 de setembro de 2010

MUNGANGA É O BICHO


Hoje a minha missão é relatar mais um dos causos mais audaciosos acontecido nesta bela cidade de Pedro Avelino. Aqui aconteceu cada uma que até o nosso padroeiro São Paulo lá em cima fica todo arrepiado.

A figura central é Doutor Marcos Antônio Tassino de Araújo, mais conhecido como munganga. Não se incomoda com o apelido.

Na literatura de cordel existe figuras emblemáticas que são admiradas em todo nordeste, graças aos cantadores de viola e cordelistas, são elas: Cancão de fogo, João grilo e Pedro malazarte, nenhuma dessas figuras amarraram as chuteiras de munganga, na sagacidade e na astúcia. Munganga tem manha de gato. Quando está inspirado conversa no ouvido de um bode e o convence entrar sozinho dentro de um açude para tomar banho. No seu bolso tem um escorpião, não mete a mão no bolso pra gastar uma pataca. Porém, para cuidar da saúde dos que lhe procuram, sempre está pronto para servir. Quem o procura em Natal, sempre está a disposição, seja para uma cirurgia, para um exame ou consulta, não mede distância, seja rico ou pobre, ele não olha para quem está fazendo.

Eu mesmo sou testemunha disso, já precisei e fui muito bem atendido. Com isso tudo, pelo amor de Deus, não fale em dinheiro que o negócio complica, e agora que políticos não podem distribuir dinheiro porque dá cadeia, ele está com a faca e o queijo na mão.

O dia 28 de julho de 1996, aquele era o dia “D”,dia em que Dr. Marcos Tassino ia provar mais uma vez a sua audácia e sagacidade que lhe é peculiar.

Dr. Marcos foi convidado mais uma vez para ser o candidato a Vice-Prefeito de Neide Suely, e o presidente do seu partido era contra (PTB). Luiz de Zaqueu que era o presidente do partido, não queria por hipótese nenhuma coligação com o PFL. O presidente e seus liderados detestavam o deputado José Adécio, e que também tinha a maioria do diretório, munganga tinha 4 votos do diretório e Luiz de Zaqueu 6.

O empasse estava formado. Munganga chamou Luiz para uma conversa franca e objetiva. Falou para o presidente que o partido ficaria mais forte com aquela coligação, não houve acordo, Orione Guedes também tentou convencer Luiz que os benefícios que o partido ganharia com aquela coligação, Luiz não cedeu uma polegada.

- Luiz eu falei com Felinto Rodrigues ele disse que não tinha objeção nenhuma sobre essa coligação.

- Acontece Dr. Marcos que o presidente do PTB aqui em Pedro Avelino sou eu.

- Eu sei Luiz, só que Felinto Rodrigues é o presidente do partido em todo o Rio Grande do Norte.

- E eu com isso, mas quem manda aqui sou eu, vamos pro voto, já ta tudo pronto. A urna, as cédulas, está tudo na medida, amanhã de manhã às 11 horas começa a votação, se devemos coligar ou não com o PFL.

- Deixe eu ver o material.

Luiz mostrou tudo a Dr. Marcos.

- muito bem Luiz, amanhã vamos ver no que vai dá.

Munganga saiu daquela conversa altamente contrariado, procurando uma maneira de reverter aquele quadro, só que estava muito difícil, se fosse para o voto de certo que perderia feio.Como seria o dia da votação, era o pensamento de munganga.Luiz compareceria com seu batalhão de choque, pronto para qualquer coisa, e ele estava com sua equipe toda capenga para entrar numa batalha corpo a corpo com a equipe de Luiz. Lábia, sabia que tinha, o que lhe faltava era equipe de apoio e estratégia de guerra, logística. Mas no outro dia teria uma solução para atacar o esquadrião de Luiz de Zaqueu.

Munganga não tinha idéias para dobrar o presidente do seu partido. Seu Dedinho o motorista de Munganga dizia:

- calma Dr. Marcos, calma, o senhor já enfrentou batalha pior do que essa e saiu vencedor. O senhor vai ver, amanhã o senhor amanhece com idéias brilhantes, o senhor é craque em matéria de audácia.

- É Dedinho, estou num beco sem saída, mas amanhã eu decido esta parada, ou eu não me chamo Munganga.

Seu Dedinho rumou o carro para a estalagem de Jerôncio onde passaram a noite.

Amanheceu o dia, Dr. Marcos acordou, fez a barba, e foi tomar café. Lindalva preparou-lhe um café de responsabilidade, quando Munganga estava se deliciando nos quitutes de Lindalva chegou à notícia que João Coleta tinha morrido, Munganga ficou apreensivo e também estava acontecendo uma vaquejada no parque denominado cheiro do povo.

Naquele dia Munganga tinha que administrar três coisas, a coligação do partido pela manhã, o enterro de João Coleta a tarde e o forró do cheiro do povo a noite, aquele dia prometia.

E Munganga macambúzio, pensativo, quando de momento as lampadinhas de suas idéias acenderam e fez plim, plim.

-Dedinho eu já sei como resolver essa parada.

-Eu bem que disse ao senhor que logo o senhor teria uma saída, eu bem que lhe avisei.

-Foi mesmo Dedinho, foi mesmo.

Dizendo isso Munganga saiu a procura de guerrilheiros para sua causa. Ficou no bar da praça, (por atrás da igreja) e mandou seu Dedinho convocar todo o seu pessoal. Quando se deu fé estavam todos reunidos. Orione Guedes, Ozimar Caldas, Diva, João de Armando, Verônica, Rosa Câmara, Ana Lígia e outros que agora me falta na memória.Todos reunidos, Munganga começou a explanação.

- Amigos estamos aqui reunidos para enfrentarmos o batalhão de Luiz de Zaqueu , ele não quer coligar o PTB com o PFL, com essa coligação depende a nossa vitória em 3 de outubro.

- E como podemos ajudar? Perguntou Ozimar.

- É o seguinte: nós vamos trocar a urna, a nossa urna já vai votada com nossa vitória.

- E como podemos fazer isso? Perguntou Ozimar.

- A urna é uma caixa de rom-montila com um buraco no meio, revestida de papel branco, as cédulas também são de papel branco.

- E daí?

- E daí que nós vamos arranjar uma caixa do mesmo tipo na bodega de Domingos, e fazemos do mesmo jeito, trocamos as urnas.

- Na frente dos guerrilheiros de Luiz? Perguntou Ozimar.

- É aí onde mora o problema, nós vamos levar o Barão , sentamos ele, quando todos terminarem de votar, o Barão desmaia, todos vão acudir o Barão, é aí que trocamos a urna deles pela nossa que está com Dedinho lá fora.Só que o problema maior está em convencer o Barão a desmaiar.

- E quem vai falar com o Barão para ele desmaiar?

- Eu não vou, falou Rosa. – filha do barão

- Eu também não, falou Verônica. Neta do barão

E ninguém tinha coragem de falar com o Barão, foi que Munganga decidiu:

- Quem vai falar é o papai aqui.

Todos ficaram no bar e Munganga se encaminhou para a casa do Barão, acendeu o cachimbo e saiu baforando. O Barão estava na área de sua casa sentado, Munganga aproximou-se e foi logo o cumprimentando.

-Como vai Francisco de Assis Câmara, o famoso Barão!

-Oi Doutor Marcos, vou aqui, mais velho do que ontem.O que lhe trás aqui?

-Barão você é um homem muito inteligente, já sabe que eu venho a procura de alguma coisa.

-Menino eu conheço o povo dessa terra de todo jeito, pelo direito e pelo avesso.

Dr. Marcos contou todo plano para o Barão, que ficou logo escabriado.

-Menino isso é coisa muito feia, e eu não faço não.

-Mas Barão isso tudo é por uma boa causa.

-Menino eu sou um homem de vergonha, eu tenho consideração pelos outros, um negócio desse é uma gatunagem, roubar urna é coisa de gatuno.

Nessas alturas os guerrilheiros de Munganga já cercavam o Barão, e todos pediam para ele desmaiar, e o Barão dando brabo.

-Menino eu sou um homem direito, com que cara eu vou olhar para Severino Cosme, pra Rosilda e pra Bastinha.

-Com essa cara mesmo Barão, respondeu Munganga.

Depois de mais de 40 minutos de conversa Munganga conseguiu dobrar o Barão.Todo o material da mutreta estava preparado, urna já votada, os guerrilheiros de Munganga sabiam as suas funções, só estavam esperando o chamado do presidente do partido para começarem a votação.

Dr. Marcos fez uma rodinha com seus comandados e disse:

- Vamos repassar nosso ataque. Dedinho fica sentado dentro do carro com a urna, Ozimar fica no portão para dá o sinal a Dedinho, o restante fica na frente da mesa fazendo uma barreira, assim que o Barão der a vertigem de mentira, que todos forem acudir o Barão, Dedinho joga a urna por cima do muro, e nós fazemos a troca, certo?

- Certo. Todos responderam.

Ficaram no bar da praça esperando o chamado de Luiz de Zaqueu. De repente Luiz subiu até a praça, dirigiu-se a Dr. Marcos:

-Dr. Marcos vamos começar a votação mais cedo, todos querem ir ao velório de João Coleta.

-Está certo vamos pra lá!

Diva e Rosa foram pegar o Barão, a equipe de Doutor Munganga ficou nos seus pontos estratégicos.Luiz apareceu com a urna debaixo do braço com destino a área de lazer de Orione, entrou colocou a urna em cima da mesa, distribuiu as cédulas para começar a votação. O Barão sentado longe da mesa. O Barão chamou Diva.

-Menina eu num vou fazer isso não, eu tenho vergonha na cara, eu não posso fazer isso com Severino Cosme.

-Papai o senhor dar só uma desmaiadinha de nada, é por pouco tempo.

-Num dô uma bilola, num dô.

-O senhor se comprometeu com Dr. Marcos de desmaiar.

-Acontece menina que eu sou um homem forte, num desmaio por besteira, eu fui criado com leite puro.

Diva foi falar com Dr. Marcos.

-Dr. Marcos papai não está querendo desmaiar.

-Não é possível uma coisa dessa...

-É possível Doutor Marcos, é possível, ele bateu o pé e disse que não tem quem faça ele dar uma bilola, que gosta muito de Severino Cosme.

Munganga a passos largos foi até onde estava o Barão, a votação estava no fim.

-Barãozinho de Deus, dê só uma desmaiadinha por favor, dê Barão.

-Num dô, isso que vocês querem que eu faça é uma das maiores amarguras da minha vida.

Terminada a votação, Luiz chamou todos para a apuração dos votos, Doutor Marcos preocupado com o desmaio do Barão.De perto do Barão Rosa fazia sinal que o pai ia desmaiar. Luiz chamou todos para perto da mesa, onde abriria a urna quando de repente Rosa gritou:

- Acudam aqui que papai está passando mal.

Quando todos olharam pra trás o Barão estava descangotado na cadeira, Luiz largou a urna em cima da mesa, o resto dos escrutinadores também correram em socorro ao Barão. Vigiando a urna ficou Rosilda.Dr. Marcos colocou dois dedos na boca e deu um assobio estridente, e fez sinal para seu Dedinho que estava dentro do carro.

Seu Dedinho pegou a urna jogou pra cima e bateu um tiro de meta, como faz os goleiros, a urna passou por cima do muro, que chegou perto de Ozimar, que rapidamente agarrou com as duas mãos, e jogou para Mungangá, nessas alturas João de Armando pulava na frente de Rosilda, para ela não vê a caboetagem da troca, mas foi em vão ela viu quando Mungangá fez a troca. Alguns ainda estavam acudindo o Barão quando Munganga bateu um saque jornada nas estrelas, como fazia Bernard jogador de vôlei, (isso tudo com a urna) a caixa de pirata que servia de urna, não deu para chegar às mãos de Ozimar. Ozimar que tem o raciocínio rápido, deu um peixinho e jogou de manchete, a urna subiu e ultrapassou o muro e os óculos de Ozimar caíram no colo de Joana de xixica, mulher de João Luiz gordo.

Do outro lado do muro seu Dedinho encaixou a urna como fazem os bons goleiros, entrou no carro e fez carreira para estalagem de Jerôncio.

Dr. Marcos chegou perto do Barão e disse:

- Chega Barão, está tudo concretizado.

Rosa ainda empurrava uma lã de álcool nas ventas do Barão e Verônica massageava os pulsos do avô. O Barão recobrou os sentidos,ajeitou-se e foi pra casa.

Luiz dirigiu-se a mesa e foi contar os votos, Doutor Marcos ganhou por 6x4.Luiz esbravejou:

- Não é possível...

- É possível sim, é possível. Falou Munganga.

E Rosilda com os olhos rasos d’água gritou:

- Dr. Marcos trocou as urnas!

- Não diga isso Rosilda.

- Digo, porque eu vi...

- Rosilda eu sou um homem de respeito, eu vou levar essa mágoa sua para o meu túmulo, essa ofensa que você me fez é muito forte.

Rosilda ainda hoje reclama dessa troca de urna.

Dr. Marcos chegou para Luiz e disse:

- Quer dizer Luiz que estamos certo?

- Certo Doutor Marcos, está tudo certo.

Luiz pegou sua turma e foi para casa do sogro, cabeça baixa e derrotado pelas traquinagens de Dr. Marcos traquino.

Dr. Marcos acendeu o cachimbo, e saiu andando com seu jeito de lutador de Box. Atrás vinha Ozimar todo quebrado do peixinho que deu, um pé destroncado e a cara com uma raladura do cimento e duas costelas trincadas.

Na calçada Joaquim Campos comentava:

- Esse Doutor Marcos é mais esperto do que eu. E Luiz gordo contava como tudo aconteceu.

- João Dedinho chutou a Joana urna, João Ozimar cabeceou, João Doutor Marcos trocou a urna, João Doutor Marcos jogou a Joana urna de volta, João Ozimar deu uma bicicleta, João Dedinho encaixou a Joana urna, pegou o João carro e ganhou o mundo. Até os óculos de João Ozimar caiu no colo de Joana de xixica.

Dr. Marcos a tarde foi ao enterro de João Coleta, compenetrado, e a noite dançou forró até o dia amanhecer.

E assim termina mais um causo do homem mais esperto do que cancão de fogo, Pedro malazarte e João grilo.

Manoel Julião Neto

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