quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A BATALHA DO BODE COM MUNGANGA

Foi desse jeito sim, do jeito que vou contar, nem vou aumentar nem diminuir, vou contar como tudo aconteceu, lá vai poeira.
Foi no dia 10 de setembro de 2004, a cidade de Pedro Avelino estava engalanada, nos próximos dois dias, se realizaria os comícios das Araras e dos Bacuraus. A cidade era um caldeirão fervendo em temperatura altíssima. Na cobertura da feira livre as discurções pegavam fogo, os ânimos acirrados tiravam os mais fanáticos do sério, o meu amigo Cadinho como sempre conversava esterco para todos que estavam presentes.
Quando de repente e derepentemente, precisamente as19 horas o ônibus da Empresa Cabral estaciona. Eis quem surge na porta do ônibus, quem, quem, Zé Cedéia, genuinamente Pedroavelinense, nascido nas paragens da Fazenda ÁRABIA, mas atualmente residindo em Natal, na zona norte.
Zé Cedéia veio tomar pé como estava andando a política no seu torrão natal. Naquela noite sexta-feira, aconteceria o comício das Araras, com Senador da República e tudo. Cedéia com a bolsa nas costa, não procurou as casas dos parentes, queria rapidamente entrar na fuzarca. Foi tomar umas cachaças no trailer de Ademir para poder aquecer as turbinas, enquanto isso a Banda Montagem aquecia a galera das Araras, era um preto e amarelo que doía na vista, Cedéia assistia passivo, sem esboçar nenhuma reação. Moças e homossexuais corriam de um lado para outro com bandeiras vibrando ao vento. O senador da república discursou com um entusiasmo e euforia, defendo os seus candidatos. Terminado o comício, a banda continuava botando pra quebrar, Cedéia cheio de birita, foi embora para o bairro São Francisco, dormiria na casa de Joaquim Quincor amigo de infância e capiloçadas quando crianças.
Amanheceu o dia, sábado, dia 11 de setembro de 2004, dia de feira em Pedro Avelino, Cedéia o personagem central dessa estória, acordou cedo, passou uma mão d’água na cara, rapidamente encaminhou-se para feira livre, rever amigos e parentes, aquele sábado prometia. Fazia tempo que não participava da feira da sua cidade. Quando chegou no quadro da feira, diga com quem encontrou, quem? Quem? Vocês não acreditam, ora bolas, encontrou com primo velho Zé de Pedro, vaqueiro aboiador, o primo Zé de Pedro já estava biritando, bem meladinho igual um peba. O abraço foi grande, confraternizações terminadas, partiram para o quiosque de Damiana de Zé Fragoso (Isso é que ter Zé que só a porra). Mandaram descer uma meiota de pitu, com tira gosto de carne de bode, e farofa bem amarelinha que só Damiana sabe fazer. Aí o pau comeu solto, chegaram os Árabes da fazenda Arábia, os recreativos da fazenda Recreio, era uma festa, Zé de Cedéia estava na terra, na reunião de birita estavam Joaquim Quincor, Zé Grosso, Pirranha, Chico Tonico, Zé Cícero da Arábia, e outros com menos expressão, era uma festa.
A tarde vinha caindo, Cedéia, deu uns cochilos por ali, se refazendo tecnicamente, psicologicamente e fisicamente para a batalha da noite.
A cobertura estava verde e branco, Eugênio e Foquinha fazia a alegria da galera de bacuraus (pode copiar). Era um mar de bandeiras verdes e galhos verdes da arborização da cidade. Marchinhas esculhambando o outro candidato, bêbados caído nas calçadas, mulher mijando no meio do tempo sem nenhum constrangimento, tudo era festa. Zé de Cedéia pelos seus cálculos a peleja estava pau a pau.
Terminou o comício, mas o conjunto de Eugênio ficou pegado. Pirão estava escornado cuspindo gosma de fumo, fazendo positivo com o polegar, Chico do catombo de dedo em riste, fazia discurso para o nada. Zé de Cedéia bastante melado foi dormir no bairro São Francisco, na casa de Joaquim Quincor, no domingo iria a fazenda Arábia visitar os restantes dos amigos e parentes. Ainda não tinha decidido em qual dos dois partidos votaria, estava em dúvida.
O dia amanheceu, Zé de Cedéia pegou carona com Zé de Teodoro, que ia com destino à fazenda Arábia, sentou-se no canto da grade da camioneta, adormeceu. O Primo Zé de Pedro também fazia a viagem de carona, em chegando no destino, todos desceram, em cima só ficou Cedéia dormindo, Zé de Teodoro falou:
--- Acorda esse bebo para ele descer, quero ir embora de volta...
Zé de Pedro subiu na carroceria do transporte, mexeu com Cedéia, notou que ele estava gelado, gritou:
--- Zé Maria meu filho! Primo Zé de Cedéia está morto, bateu as botas, está igual uma pedra de gelo. (isso é que ter Zé que só a porra)
--- Eu não acredito – respondeu Zé de Teodoro.
--- Pode acreditar Zé...
--- E agora o que vamos fazer? – perguntou Zé de Teodoro.
--- Levar para o Hospital...
--- No meu carro não, manda buscar a Ambulância, eu tenho medo de quem morre. – respondeu Zé Teodoro.
--- Zé a ambulância está presa na rodoviária federal em Macaiba, por falta de emplacamento, você num sabe. – disse Zé de Pedro.
--- Exato, perfeito, vamos levar o homem no meu carro.
E lá vem Zé de Teodoro com o defunto na carroceria do seu carro, na estrada esburacada do bairro São Francisco. A cabeça do defunto batia no lastro da camionete, fazia Puf, puf, puf.
A estória se espalhou pela cidade, os políticos ficaram em polvorosa, os dois partidos queriam ser donos do defunto. Zé de Teodoro deixou o defunto estirado na mesa do necrotério e fez carreira pra casa.
Formou-se dois pelotões de choques para tomar conta do defunto, os bacuraus e as Araras. O time das Araras era formado por Bodinho, Osimar e Paulinho Brás, tendo como bodinho o capitão da equipe.
O time dos bacuraus tinha a seguinte formação: Dr. Marcos Tassino, capitão do time, mais conhecido como Munganga, Joyce, Luiz Tomás e Tomé.
Os dois times entraram no necrotério, cada time segurou uma perna de Cedéia, que ficou arreganhado que parecia uma tesoura aberta, Munganga gritou logo:
--- O defunto é bacurau, é nosso, vamos enterrar...
--- Não senhor, o defunto é nosso, ele é arara.- respondeu bodinho.
Estava formada a batalha dentro do necrotério do Hospital Governador José Varela. Dr. Munganga com sua sagacidade fez a seguinte pergunta:
--- Quem é você menino?
--- Eu me chamo Sandro, sou conhecido como bodinho de João de Neves, nascido em São Pedro. E torcedor roxo do Flamengo, todos em são Pedro Torce pelo Flamengo, menos Chico vaquejada que é do contra, torce pelo Vasco da Gama, mais alguma pergunta?
--- Eu também sou Flamengo, como está o nosso Time? Perguntou Dr. Marcos.
--- Tá mal Dr. Marcos, essa semana o nosso goleiro Julio César, fez uma besteira com o centro avante do Atlético Paranaense, perdemos de 2x1.
--- E o nosso goleiro não é mais Raul Plasma, pelo que sei Julio César é o ponta esquerda. E Zico, Adílio, Junior, Nunes, Andrade e Paulo César Carpegiano estavam no banco?
--- O senhor está muito por fora de Futebol, esses jogadores deixaram de jogar faz mais de dez anos. Esse time é de 1982. Eu acho que o Senhor quer me engabelar com esse papo, quer fazer do mesmo jeito que fez na convenção de 96, a convenção do PTB, que o senhor trocou as urnas para ser candidato à vice-prefeito de Neide, até hoje Rosilda de Severino Cosme jura de pés juntos que o você trocou as urnas.
--- Você me respeite, marido da cabra...
--- Marido da cabra uma ova, o defunto vai ser enterrado por nós.
--- Isso é o que você pensa, quem vai enterrar somos nós os bacuraus – afirmou Munganga.
As duas equipes não arredava o pé de perto do defunto, cada equipe agarrada em uma perna, Cedéia descangotado, duro, com as pernas arreganhadas, Joyce suada não largava o joelho de Cedéia, Luiz Tomás com o pé do defunto debaixo do sovaco, Bodinho e Osimar e Paulinho Brás estavam em desvantagem, eram quatros contra três. Mandaram saber na fazenda Arábia em quem o defunto votava, e não largavam o corpo de Cedéia. Chegou a notícia, O defunto votava no partido de Zé Santiago, mas Zé Santiago já tinha morrido, mas Dede Martins dono da fazenda é Bacurau (isso é que ter Zé).
--- Dede Martins e Bacurau o defunto também é.
--- Não senhor Dr. Marcos, o defunto é nosso, não venha com suas mungangas pra cima de mim.
O impasse estava formado, Dr. Marcos Tassino tentando convencer Bodinho, que o defunto era do partido dele, mais bodinho não aceitava. Bodinho teve uma idéia:
--- Osimar telefona para Elsa em João Câmara e diz, que manda um caixão de defunto com urgência.
Osimar telefonou, Elsa respondeu:
--- Já estou de Saída.
Munganga ficou nervoso, se o caixão das Araras chegasse primeiro perderia os votos da família do defunto, gritou:
--- Toto vá ligeiro a Angicos e traga um caixão de defunto....
--- Me dê o dinheiro...
--- Que dinheiro Toto, você sabe muito bem que eu não ando com dinheiro, você sabe que eu sou o plano de saúde dos pobres, diga lá que depois nós acertamos.
Toto fez carreira para Angicos, chegando lá o negócio enganchou, foi telefone pra lá, foi telefone pra cá, só sei que liberaram o caixão, Toto tirou de volta.
Dr. Munganga gritou para o bode:
---O Caixão de quem chegar primeiro, fica com o defunto, Tá certo?
--- Tá certo, fechou o Bode.
E as duas Equipes agarrada nas pernas de Zé de Cedéia, ninguém o largava por nada, era uma batalha ferrenha. Discurções, bate-boca, ofensas, a reieira estava formada, era uma festa. O hospital ficou cheio, o calor era imenso, a população do bairro São Geraldo, São Francisco, IPE, COHAB e Donatile se fazia presente no evento macabro, que as duas equipes peso-pesado estava travando. Chegou Elsa com o caixão, a pé junto Chegou Toto com o de Angicos, entrou os dois caixões de uma vez só no necrotério, a corrida de caixão de defunto tinha empatado. E agora de quem era o defunto?
Essa batalha dentro do necrotério persistia por mais de seis horas. Elsa rapidamente, também agarrou a perna de Cedéia, Dr. Munganga falou:
--- E agora Bodinho, como é que fica?
--- Num sei...
Pirrita ia passando gritou:
--- Disputem na porrinha.

--- Assim é sacanagem demais, vamos buscar a viúva e o filho deles, eles é quem decide. – argumentou Bodinho – foram buscar a viúva.
Lá fora no hospital, os dois partidos estavam reunidos, com bandeiras e carros de som.
O carro de som das Araras cantava “ADECINHO, MEU PREFEITO É VOCÊ, ADECINHO, EU NÃO VOTO PRA PERDER”.
Do outro lado a Kombi dos bacuraus cantava (Foquinha se esgoelava) PEDRO AVELINO MUDOU O SEU DESTINO COM VITÓRIA DO MAGRÃO, E CARNAVAL E VAQUEJADA .. Pode copiar.
E o carnaval estava formado em frente ao Hospital Governador José Varela, tinha banca de cachorro quente, a mocidade tomando aguardente, meninos vendendo garrafinhas de água mineral e din-din, chegou o galego das bananas com uma bandeja de pasteis, coxinhas e suco de goiaba para vender, era uma festa, cada partido que quisesse ganhar o defunto.
Bodinho se descuidou, Dr. Munganga jogou o defunto dentro do caixão dos bacuraus, bodinho pulou por cima da mesa, agarrou-se com o defunto e tirou de dentro do caixão, jogou dentro do caixão das araras, Luiz Tomás imediatamente, agarrou o defunto e puxou para cima de sua equipe. Finalmente chegou a viúva, Dr. Mungaga perguntou:
--- Minha senhora o seu marido é arara ou bacurau?
A mulher respondeu:
--- É arara
--- Eu já sabia disso, olha como estão os dedos do safado, em forma de V. só tem uma coisa eu não forneço o laudo para ele se enterrar, se quiserem laudo, que vão buscar no ITEP em Natal, tiraram com o defunto Zé de Cedéia para a capital.
Nessas alturas as araras faziam o carnaval do lado de fora do hospital, e saíram em passeata.
Dr. Marcos Tassino estava com um problema grave, o que ia fazer com aquele caixão, saiu pela rua, chegou perto de Pedão, disse:
--- Pedão tenho um presente para lhe dar...
--- O que é?
--- Um caixão de defunto que está sobrando...
--- Tô fora, dê a João do Barão que está bem pertinho de viajar.
Ofereceram a João do Barão, não quis, mandou oferecer a Pedrinho também do Barão, também rejeitou o presente. O problema estava formado, Dr. Munganga não tinha a quem presentear o caixão, disse:
--- Deixe esse caixão guardado, isso entra como saldo de campanha.
Essa conversa de saldo de campanha chegou nos ouvidos de titiu, que saiu espalhando que Dr. Marcos estava com saldo de campanha para doar. O galego das bananas escutou essa conversa nas quatro bocas, e foi falar com titiu:
--- Titiu é verdade que Dr. Marcos está doando uma tal de saldo de campanha?
--- É galego vá lá...
--- Eu vou mesmo, sou bacurau desde menino, e estou precisando aumentar os meus negócios, comprar mais banana, agora eu vou colocar ata maçã para vender.
O galego foi à procura Dr. Marcos, e o encontrou:
--- Dr. Marcos eu vi dizer que o senhor tem um saldo de campanha para doar, é verdade?
--- Verdade Pura, você quer?
--- Quero sim senhor, quero aumentar o meu comércio, quanto é?
--- Galego velho de guerra, você sabe que eu não ando com dinheiro. O que eu tenho para doar é caixão de defunto que o povo de Zé de Cedéia, quer?
--- É o satanás quem quer, Deus me livre.
O galego das bananas desistiu do saldo de campanha.

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