terça-feira, 6 de julho de 2010

PÍLULA PARA DOR DE DENTE


O dia tinha amanhecido meio farusco, com a cara feia, caía uma neblina fininha, que ia e vinha. O dia quando amanhece assim é muito chato, molha nossas roupas, e temos que enxugar as roupas no corpo, às vezes pegamos um resfriado que lambedor para curar dar trabalho.

Foi num desses dias que Francisco Barros Gomes mais conhecido como Chico bola descia de onde morava no conjunto Donatile para o centro da cidade, precisamente para a cobertura ou para dentro do mercado público, onde se concentravam a maioria dos pinguços que tomavam latinhas de aguardente. Chico bola não tinha dormido a noite com dor de dente, era um caco que ficava na parte superior da boca. Saiu pedindo a um e a outro um pouco de cachaça para bocejar em cima do caco de dente, ninguém lhe dava. Chico bola é um bêbado terrivelmente chato, ele bom é uma coisa e bêbado não tem quem agüente, chora e rir ao mesmo tempo, é um babeiro danado, os olhos verdes ficam arregalados escorrendo lagrimas, o nariz escorrendo, é uma catarreira mais infeliz do mundo. Saiu pedindo dinheiro a um e a outro para comprar uma latinha de aguardente, conseguiu o dinheiro, comprou logo um latão de cachaça escondeu-se, tomaria só, não daria um gole a ninguém. Nenhum dos pinguços tinha colaborado com ele. Colocava a cachaça na boca e fazia um bochecho em cima do caco de dente, depois engolia. Ficou embriagado como sempre e a dor de dente não passou, dizia ele que a dor era terrível, e o caco de dente não lhe deixava em paz, chorava com aquele zoião vermelhos misturado com as íris verdes, cheios de lagrimas que escorria pela face maltratada pelo tempo de sol e pela cachaça. Onde ele reclamava, indicavam-lhe os remédios mais estranhos do mundo como: mascar fumo e engolir a gorda, colocar solução de bateria, colocar ácido muriático. Mandavam ele ir até a oficina de Aluízio e pedir para arrancarem o caco de dente com um alicate de bico e etc. A dor de dente de Chico Bola virou notícia em baixo da cobertura da feira. E o pobre de do Chico Bola não tinha sossego, começou a rolar no chão com a dor. Fazia pena o pobre do Chico altamente embriagado e sofrendo com aquele maldito caco de dente.

E Chico bola saiu para casa choramingando pelas calçadas, em direção a sua casa, e reclamava: - reclamava que não encontrava um remédio para passar aquela dor dente que lhe causava tanta agonia. Resolveu entrar na farmácia de Airon e pedir qualquer remédio para lhe aliviar aquela dor.

--- O que está acontecendo Bolinha? Perguntou Airon.

--- Estou com uma dor dente desgraçada, passei a noite sem dormir.

--- Bolinha porque você só veio agora, eu tenho aqui uma pílula que é tiro e queda, passa dor dente num minuto.

--- Home me dê logo essa pila, para ver se eu durmo pelo menos um sono agora de tarde, pois eu não agüento mais tanto sofrimento.

Airon foi lá dentro da farmácia abriu um armário tirou uma pílula azul e trouxe, juntamente com um copo d’água, e entregou a Chico bola.

--- Essa pila é boa mesmo Airon.

--- É ótima, é bater e valer.

Chico colocou a pílula na boca e bebeu a água. Agradeceu e saiu satisfeito, de volta para cobertura, para dormir num banco, depois iria para casa. Quando estava pegando no sono, Chico sentiu uma coisa diferente, crescendo dentro da bermuda, se espantou, quando se deu fé, Chico bola estava de pau duro.

--- Meu Deus, o que eu Airon fez comigo, essa danada fazia muito tempo que não ficava assim, e agora está em ponto de bala, que danado foi isso.

Começou a mostrar para os pinguços a maneira que estava, a bermuda esticada na frente, que só faltava furar tudo que aparecia pela frente, os pinguços meteram a vaia em Chico que se dirigiu para a farmácia, chegando lá disse:

--- Airon olha só o que a pila fez, estou morrendo de vergonha, não estou podendo nem andar com essa danada tesa que parece quando eu tinha 15 anos. Que danado era aquilo Airon?

--- Ora Chico é uma pílula chamada viagra ela serve para tudo.

--- E agora o que é que faço, não posso andar na rua armado desse jeito, o povo vai mangar de mim.

Airon mandou chamar um moto-taxista para deixá-lo em casa, todos recusaram, desse jeito pode me dar até 10,00, que eu não levo ele para canto nenhum. Dizia os moto-taxistas. E Chico todo encolhido sentado na ponta da calçada. Airon mandou chamar um táxi para deixar Chico em casa, nessas alturas as quatro bocas estavam cheia de gente para olhar a saída de Chico. O táxi chegou, quase de cócoras Chico entrou no carro e se mandou para casa, quando chegou foi logo dizendo a Edite sua mulher:

--- É hoje que eu tiro o atraso Edite, hoje eu tiro a barriga da miséria, vamos lá pra dentro.

Quando Edite viu a danada da bicuda viva, disse:

--- É diabo quem vai para cima dessa danada, eu já tive 17 filhos, estou toda estragada por dentro dessa infeliz, pode se virar de outro jeito comigo não.

--- Dita faça esse favor pra mim, só quem pode me desarmar é você.

--- Hum, hum, nem pelo Macaracanã cheio de dinheiro eu me atrevo enfrentar essa danada.

--- E agora Dita, me diga o que é que eu faço, Airon disse que é 24 horas que ela fica assim.

--- Ganhe o mato, vá atrás das Burras, porque comigo você não arranja nada.

--- Cadê a burra da carroça?

--- Sérgio foi buscar lenha.

--- Dita faça esse favor, faz tanto tempo que nós não dá uma reiada, vamos aproveitar agora que a marvada está dura, por favor, Dita!

--- Tô fora, acabou o tempo que eu pensava nisso.

Chico bola saiu para as bandas da caixa d’água, a procura de burra, só voltou no outro dia, com os pés furados de espinhos e morto de fome, ainda vinha com o pênis zarolho, nem mole nem duro. Galego Thomáz perguntou:

--- Baixou a tesão Chico?

--- Tá mais ó menos. Agora tô morto de cansado, de correr atrás de uma jumenta, mais meti o diabo nela a noite todinha. Agora vou dormir, a dor dente passou, tá tudo bem.

Chico dormiu a noite toda, no outro dia foi à procura de Airon:

--- Airon quando eu precisar de um vinagrinho daquele, você me dá?

--- Depende da dor que você estiver sentindo.

E Chico bola saiu fagueiro para o mercado público a procura de cachaça. E para contar suas aventuras dentro da capoeira.

Manoel Julião Neto

Nenhum comentário:

Postar um comentário